Folha de S. Paulo


Confederação atrasa reembolso e deve R$ 25 mil a medalhista do taekwondo

Jeon Hyun-Kyun/EFE/EPA
Maicon Siqueira of Brazil celebrates after defeating Mahama Cho of Great Britain during the men's +80kg bronze medal bout of the Rio 2016 Olympic Games Taekwondo events at the Carioca Arena 3 in the Olympic Park in Rio de Janeiro, Brazil, 20 August 2016.
O brasileiro Maicon Andrade comemora vitória que lhe deu o bronze nos Jogos do Rio

Além de não pagar o bônus pela medalha olímpica de bronze obtida nos Jogos do Rio, em agosto, a CBTkd (Confederação Brasileira de Taekwondo) tem outra pendência com Maicon Andrade, 23.

A entidade ainda não fez um reembolso ao atleta, terceiro na categoria acima de 80 kg, no valor de R$ 12.363,60 referente à compra de passagens para a vinda de dois sparrings iranianos ao Brasil para treinos antes dos Jogos.

Se somado este débito ao prometido bônus de R$ 12,5 mil pelo pódio –conforme a Folha revelou no mês passado–, o calote da CBTkd ao mineiro atinge R$ 24,8 mil.

A pedido de Maicon, a confederação se comprometeu a trazer os lutadores iranianos Mehran Askri e Jalal Khodamo Boroujeni para auxiliá-lo na reta final de preparação para a Olimpíada do Rio.

Foram então comprados dois bilhetes para que eles viessem ao Brasil, com escala na Alemanha. Não se atentou, porém, que seriam necessários vistos para que ambos completassem a viagem. Sem a documentação, eles foram impedidos de prosseguir.

Para não perder o treino, a CBTkd e Maicon acordaram que as parcelas de junho, julho, agosto e setembro da verba que lhe é repassada mensalmente em razão do patrocínio da Petrobras seriam usadas pela entidade para emitir novos tíquetes –no valor de R$ 12,3 mil. Com isso, os iranianos vieram ao país.

O reembolso das passagens anteriores seria dado ao atleta brasileiro como compensação, deduzido o valor da multa pelo cancelamento.

Em 5 de julho, as duas partes assinaram documento confirmando o acerto.

Entretanto, já passados quase dois meses do final da Olimpíada, que terminou em 21 de agosto, nem o reembolso nem o prêmio pela medalha foram pagos pela CBTkd.

A Petrobras, que patrocina a confederação, disse já ter feito o repasse da quantia referente ao "bicho" olímpico.

"Isso está me atrapalhando. É um dinheiro de que estou precisando no momento. Mas a confederação não explica nada, não fala nada", afirmou Maicon à Folha no mês passado, em referência à premiação pelo pódio.

Na ocasião, o lutador contou que tentou entrar em contato com a entidade várias vezes, mas não obteve resposta. Ele é apenas o segundo atleta do taekwondo nacional a subir ao pódio olímpico. Natália Falavigna, bronze em Pequim-2008, é a outra.

Caçula de oito irmãos, Maicon trabalhou como garçom em um buffet infantil e servente de pedreiro durante o ciclo olímpico para se sustentar. Ele não tem patrocinadores pessoais. Recebe Bolsa Atleta, no valor de R$ 3.100 por mês, e auxílio da Aeronáutica, de R$ 3.200.

OUTRO LADO

Procurada na tarde desta quinta-feira (13), por telefone e e-mail, a assessoria de imprensa da CBTkd não foi encontrada nem retornou.

No final do mês passado, também indagada pela Folha, a entidade afirmou que o atraso nos pagamentos se deveu à troca em sua cúpula. Ela teria tido que alterar todas as senhas de suas contas.

Seu presidente, Carlos Fernandes, foi afastado do cargo em agosto depois de operação deflagrada pela Polícia Federal, por suspeita de fraudes em licitações e desvios de recursos repassados pelo Ministério do Esporte.

O cartola estaria envolvido no esquema. Ele nega participação.

"Tão logo a situação se normalize e sejam concluídos os trâmites burocráticos de alteração de representante legal e respectivas senhas das contas bancárias, o atleta Maicon Siqueira será convidado a vir ao Rio para acertar as pendências com a confederação" disse a CBTkd, em nota.


Endereço da página: