Folha de S. Paulo


Fifa é acusada como cúmplice nos maus-tratos a operários no Qatar

Ruben Sprich - 18.mar.2016/Reuters
FIFA President Gianni Infantino attends a news conference after the executive committee meeting at the FIFA headquarters in Zurich, Switzerland March 18, 2016. REUTERS/Ruben Sprich ORG XMIT: RSP03
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, durante entrevista

A Fifa está diante de um iminente processo na justiça suíça por cumplicidade aos maus-tratos recebidos por operários migrantes que trabalham nas construções da Copa do Mundo de 2022 no Qatar. O caso foi revelado pelo jornal "The Guardian" nesta segunda-feira (10).

O procedimento legal em questão foi levantado pela Confederação de Sindicatos da Holanda (FNV) em defesa de Nadim Sharaful Alam, um migrante de Bangladesh que foi trabalhar nas obras qatarianas. O caso é o primeiro no qual a Fifa é colocada como "responsável direta" na corte suíça.

Advogados de Alam e da FNV entraram em contato com a entidade na noite de domingo e deram três semanas para que Gianni Infantino, presidente da federação, admita a cumplicidade e pague os danos ao trabalhador antes que ele vá à justiça.

Na carta enviada à Fifa, o grupo pede que a ela "admita que agiu de maneira equivocada ao dar a Copa de 2022 no Catar sem cobrar a garantia de que o país se atente aos direitos humanos e de trabalho fundamentais aos operários migrantes cujo trabalho é ligado ao Mundial."

Desde que o Qatar foi eleito como sede da Copa do Mundo de 2022, cerca de 1,7 milhão de migrantes entrou no país para trabalhar nas construções dos estádios e estruturas do evento.

A compensação financeira pedida por Alam é "modesta", segundo o "Guardian", que alerta que o caso do bengalês abre portas a milhares de outros casos semelhantes, o que pode significar em indenizações milionárias a serem pagas pela Fifa.

CONDIÇÕES ESCRAVAS DE TRABALHO

A Copa do Mundo colocou em holofote internacional o sistema de trabalho que os imigrantes são submetidos no Qatar, chamado "kafala". Comum nos países do golfo Pérsico, como o Qatar, ele prende o empregado estrangeiro, migrante, ao empregador e levanta comparações com a escravidão.

No sistema, os empregadores podem proibir a mobilidade dos seus funcionários. Ou seja, o empregado não tem a liberdade de trocar de emprego sem a permissão de seu chefe anterior, nem de reclamar das condições de trabalho, pois isso pode resultar em deportação.

A Fifa tem argumentado que faz o que pode no seu relacionamento com o governo do Qatar no que diz respeito a trazer condições satisfatórias de trabalho nas obras da Copa do Mundo.

Já a acusação feita por Alam e seus representantes defende que a entidade deveria ter exigido que o país reformulasse seu sistema trabalhista, permitindo que os migrantes trocassem de emprego, tivessem a liberdade de deixar o país livremente e o direito de formar sindicatos.

-

Mundial de Problemas

Polêmicas que envolveram a Copa do Mundo no Qatar

COMPRA DE VOTOS Phaedra Almajid, membro do comitê da candidatura do Qatar para o Mundial de 2022, deu uma entrevista à revista "France Football" em 2013 em que afirmava ter participado de uma reunião para subornar um dirigente africano que iria votar na sede da Copa. De acordo com a publicação, foi oferecido US$ 1,5 milhão. A Fifa iniciou as investigações em 2015

CALENDÁRIO A Copa geralmente é realizada no meio do ano. Porém, o Qatar registra temperaturas acima dos 50°C nessa época. Para solucionar o problema, a Fifa anunciou que o Mundial de 2022 seria realizado entre novembro e dezembro, quando o clima é mais ameno. Isso criou um problema de calendário, já que o torneio seria disputado no meio da temporada europeia

TRABALHO ESCRAVO Em 2013 houve a primeira denúncia contra as condições de trabalho nas obras para Copa de 2022. Documentos obtidos pelo jornal "The Guardian" mostravam que 44 trabalhadores do Nepal morreram entre 4 de junho e 8 de agosto de 2013


Endereço da página: