Folha de S. Paulo


Após 20 anos, Nuzman indica linha sucessória com novo vice

Numa eleição com um único candidato que confirmará um quarto de século de poder à frente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), a escolha do seu vice surge como rara novidade. Número dois na chapa de Carlos Arthur Nuzman, 74 anos, o potiguar Paulo Wanderley Teixeira, 66, vira aposta para suceder o presidente da entidade.

Isso poderá acontecer até mesmo antes do final dos quatro anos do novo mandato de Nuzman, que encerra em 2020. Existe a expectativa de que o cartola se licencie ou afaste para finalizar os relatórios e balanços do Comitê Organizador dos Jogos do Rio, que têm de ser entregues nos próximos anos.

Nuzman também cobiça a chefia da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), cuja eleição deverá ocorrer ainda em 2016.

À parte o destino de Nuzman, Teixeira é o personagem central de uma transição por que passará o comitê.

Ele encerra em 2016 um período de 16 anos à frente da Confederação Brasileira de Judô. O esporte conquistou 12 medalhas olímpicas e 30 em Campeonatos Mundiais que o judô brasileiro desde ele assumiu a entidade em 2001.

A modalidade, com os três pódios que obteve nos Jogos do Rio, se isolou como a maior vencedora de medalhas olímpicas do país.

Natural de Caicó, Rio Grande do Norte, Teixeira se radicou em Vitória ainda na infância. Na capital capixaba aprendeu o judô, esporte no qual a carreira enveredou.

Formado em Educação Física, presidiu a federação do Estado do Espírito Santo e treinou a seleção brasileira por mais de dez anos. Seu ápice foi participar dos Jogos Olímpicos de Barcelona-1992.

O cartola é tido no meio esportivo como exigente e, por vezes autoritário. No único Campeonato Mundial em que a seleção de judô saiu sem medalhas em sua gestão, em 2009, na Holanda, ele esbravejou contra a comissão técnica e a equipe de atletas.

Afirmou que não admitiria uma repetição daquele fracasso. Desde então, o time não voltou a passar em branco em grandes eventos internacionais -o judô vai ao pódio em Jogos Olímpicos, seguidamente, desde os Jogos de Los Angeles-1984.

"Eu delego, mas cobro a tarefa. Meus colaboradores [na CBJ] têm autonomia, mas eu também exijo", afirma.

"Quanto mais trabalho, mais tenho sorte. Estou nessa linha. gosto do que faço, me dedico a isso. Não há segredo", completa.

Neste ano, um disputa política respingou na sua ficha.

Segundo o UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, ele foi obrigado a deixar a presidência da Confederação Pan-Americana de Judô, que também comandava, no final de 2015, em assembleia. O motivo foi um racha dele com outros cartolas da entidade desportiva.

Segundo seus pares, o brasileiro: "[fazia] tentativa de concentração de poder, a tomada de decisões sem consulta prévia a países membros e destituição de dirigentes que se opunham a seus pontos de vista".

Por causa disso, também tiraram o Pan-Americano da modalidade que seria disputado no Brasil, em abril deste ano, antes dos Jogos. O evento foi realizado em Cuba.

Teixeira e outros dois aliados na presidência da Confederação Pan-Americana ainda tentaram, sem sucesso, reaver os seus cargos por meio de apelação na Corte Arbitral do Esporte.


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