Folha de S. Paulo


Confederação não repassa prêmio a medalhista olímpico no taekwondo

O medalhista olímpico Maicon Andrade, 23, bronze no taekwondo nos Jogos do Rio, em agosto, afirmou que ainda não recebeu da CBTkd (Confederação Brasileira de Taekwondo) uma bonificação de R$ 12.500 pelo pódio, à qual tem direito e havia sido definida previamente.

O mineiro, terceiro colocado na categoria acima de 80 kg, disse que, apesar do baixo valor, conta com o dinheiro. A láurea obtida por ele foi somente a segunda do Brasil na história olímpica da modalidade: em Pequim-2008, Natália Falavigna também havia conquistado o bronze.

"Isso está me atrapalhando. É um dinheiro de que estou precisando no momento. Mas a confederação não explicada nada, não fala nada", disse o medalhista à Folha.

A Olimpíada carioca terminou no dia 21 de agosto.

A premiação que deveria ser repassada ao atleta pela CBTkd advinha do acordo de patrocínio com a Petrobras, que vigora desde 2011.

A estatal assegurou que já fez à entidade o pagamento referente ao pódio de Maicon –citou, inclusive, que também já fez o depósito de R$ 50 mil à Confederação Brasileira de Boxe pelo ouro inédito de Robson Conceição.

Caberia à confederação, simplesmente, repassá-la.

"Conforme definido contratualmente e assim como já havia ocorrido nos Jogos Pan-Americanos de Toronto (2015), a Petrobras pagou uma premiação, diferenciada por tipo de medalha, para as confederações patrocinadas que obtiveram êxito nos Jogos Rio 2016", afirmou a Petrobras, em comunicado.

A única exceção, disse a empresa, foi o judô, cujo contrato tem formato diferente.

Maicon comentou que tentou entrar em contato com a CBTkd para saber de seu "bicho", mas foi ignorado.

"A premiação, que já tinha de ter sido feita, ainda não recebi. Depois dos Jogos Olímpicos, eles [confederação] continuam nem aí. A comunicação entre atleta e eles é nenhuma. Já liguei para lá e não me respondem", disse.

O lutador faz jus à sua denominação. Durante o ciclo olímpico dos Jogos do Rio-2016, chegou a trabalhar como garçom em buffet infantil e pedreiro para se sustentar enquanto batalhava para continuar no esporte.

Ele recebe Bolsa Atleta e defende a Aeronáutica, mas não tem patrocinadores pessoais. O dinheiro da premiação seria um alívio para ele ajudar os oito irmãos –ele é o caçula– e a mãe, Vitória, que vivem em Minas Gerais.

Em março, a Folha publicou reportagem na qual contava a promessa de confederações esportivas de premiar os atletas que chegassem ao pódio na Olimpíada do Rio.

O diretor-técnico da CBTkd, José Alexandre Lima, afirmou então que "todos os atletas que conquistarem medalhas serão premiados", mas disse que "os critérios da divisão ainda não estão em análise pela CBTkd".

A entidade não havia concedido bonificações a atletas em outros Jogos Olímpicos.

O presidente da confederação, Carlos Fernandes, foi afastado de seu cargo em agosto depois que a Polícia Federal deflagrou operação contra quadrilha suspeita de fraudes em licitações e desvios de recursos repassados pelo Ministério do Esporte.

Ele estaria envolvido no esquema. A CBTkd afirmou que as respectivas acusações são infundadas e que colabora com as investigações da PF.

OUTRO LADO

A CBTkd afirmou à Folha, nesta quinta-feira (29), que devido à substituição de seu representante (Carlos Fernandes), "teve de alterar todas as senhas das suas contas, sendo que o sistema bancário está em greve desde o dia 6 de setembro de 2016" e que isso teria atrasado a entrega do prêmio a Maicon.

A confederação também disse que a Petrobras só depositou os R$ 12,5 mil referentes à bonificação do lutador no dia 20 de setembro.

"Tão logo a situação se normalize e sejam concluídos todos os trâmites burocráticos de alteração de representante legal e respectivas senhas das contas bancárias, o atleta Maicon Siqueira será convidado a vir ao Rio de Janeiro para acertar todas as suas pendências com a confederação, inclusivamente o recebimento do prêmio da Patrocinadora Petrobras", concluiu a CBTkd, por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa.


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