Folha de S. Paulo


Início da era Tite tem resultados, descontração e Del Nero próximo

Mais do que as vitórias contra Equador e Colômbia, o ainda iniciante trabalho do técnico Tite foi exaltado pelos bons sinais que têm apresentado dentro e fora de campo, especialmente na comparação com o seu antecessor, o técnico Dunga.

Em três meses no cargo, e pouco mais de uma semana com os jogadores, o treinador e sua comissão técnica tiveram sucesso em estabelecer um padrão tático na equipe, conseguir resultados positivos, aproximar a torcida do time e criar um clima descontraído entre os jogadores.

A ideia de montar um esquema 4-1-4-1 e colocar os jogadores para executarem as funções a que estão acostumados em seus clubes surtiu efeito e o time mostrou organização tática nas partidas, além de um futebol ofensivo, baseado na troca de passes e na velocidade.

Dunga foi cobrado pela CBF em março deste ano pela falta de padrão tático da equipe durante as eliminatórias da Copa de 2018. O treinador sofreu por não encontrar um centroavante que lhe agradasse, e isso o fez mudar o esquema tático algumas vezes. Ele jogou num 4-4-2, ora num 4-3-2-1 e até num 4-3-3, sem homem de referência, função que Neymar fez algumas vezes.

A relação com o principal jogador brasileiro na atualidade começou ótima e acabou em crise. Foi Dunga quem deu a Neymar pela primeira vez a tarja de capitão na seleção brasileira. Achava que ele precisava de responsabilidade em campo.

A relação se desgastou com o tempo, devido a atitudes de Neymar, em campo e fora dele.

Na Copa América de 2015, Neymar brigou em campo contra a Colômbia, foi expulso, xingou o árbitro chileno Enrique Osses e pegou quatro jogos de suspensão.

A gota d'água da relação foi Neymar ter preferido jogar a Olimpíada em detrimento da Copa América dos Estados Unidos, torneio essencial para a continuidade do trabalho de Dunga –o técnico acabou demitido após eliminação precoce na competição.

Com Tite, Neymar foi colocado pelo lado esquerdo do ataque, onde joga no Barcelona, e foi desincumbido da função de ser capitão (algo que ele mesmo havia pedido). A responsabilidade foi passada a jogadores mais experientes, como Miranda e Daniel Alves. A atitude deixou o camisa 10 do time mais tranquilo, o que se refletiu em campo, com atuações convincentes, e no vestiário, onde tem sido um dos mais animados e tem ajudado os mais jovens, como Gabriel Jesus e Marquinhos, a se entrosarem com o restante do grupo.

Entre os jogadores e profissionais da CBF, o clima mudou completamente. O esquema militar implantado por Dunga, com uma cartilha que proibia o uso de chinelos e brincos e a obrigatoriedade de cantar o hino nacional, foi substituído por conversas sobre tática e o orgulho de jogar pela seleção brasileira. Descontraídos, os jogadores têm dado entrevistas comemorando o novo momento e têm feito brincadeiras entre si e com torcedores nos treinos e no vestiário. O único treino aberto em Manaus, no sábado (2), foi uma grande festa, com os jogadores arremessando bolas e camisas aos presentes. Neymar, o mais assediado, ainda jogou sua camisa e posou para fotos.

Quem não estava bem com antecessor de Tite, como o lateral Marcelo, que Dunga acreditava que não tinha comprometimento com a seleção, encaram a chegada do novo técnico como "vida nova". O zagueiro Thiago Silva deve ser outro a desfrutar da renovação do comando nas próximas convocações.

O PRESIDENTE RETORNA

Em sua passagem pela seleção, Dunga sempre teve uma relação bem mais próxima de José Maria Marin, que hoje está preso nos EUA acusado de receber propina no tempo em que estava na CBF, do que de Marco Polo Del Nero, que assumiu a presidência do órgão em abril de 2015.

Quem se reportava a Del Nero era Gilmar Rinaldi, coordenador de seleções e amigo do atual presidente da CBF. Foi Rinaldi quem sugeriu a contratação de Dunga, e Del Nero, mesmo aconselhado a demitir o técnico já depois do fracasso na Copa América de 2015, sempre rechaçou fazê-lo pela ligação com Rinaldi, que prometia melhoras.

Del Nero tem aproveitado o crédito de Tite para fazer aparições públicas depois de adotar rotina discreta devido a seu indiciamento pela Justiça dos EUA em dezembro de 2015, por acusação de ser beneficiário de esquema internacional de recebimento de propina na venda de direitos de torneios. Ele participou da coletiva de imprensa de apresentação do treinador, em junho, e compareceu à Arena da Amazônia para acompanhar a partida contra a Colômbia, nesta terça-feira (6).

O cartola, porém, não esteve na estreia do técnico no Equador. Desde a prisão de Marin na Suíça, em maio de 2015, Del Nero evita viagens para o exterior.


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