Folha de S. Paulo


'Em breve, o Flamengo será quase imbatível', diz Muricy

Treinador com mais títulos na era dos pontos corridos, Muricy Ramalho, 60, não vê a atual campanha do Flamengo como um acaso. Na opinião do técnico, o clube se preparou de forma profissional e, em breve, será "quase imbatível".

Muricy dirigiu a equipe carioca durante quase seis meses –de dezembro a maio. Ele deixou o cargo após ser diagnosticado com arritmia cardíaca.

"É o modelo de gestão mais correto. É dirigido profissionalmente na parte organizacional, na parte política, e o futebol é dirigido por profissionais da área. O Flamengo já era uma potência pelo histórico e agora vai ficar ainda mais forte", disse o tetracampeão nacional.

Atualmente, o Flamengo ocupa a segunda colocação no Campeonato Brasileiro, com 46 pontos —um a menos do que o líder Palmeiras. As duas equipes se enfrentam nesta quarta-feira (14), às 21h45, no Allianz Parque.

A equipe não ficava tão próxima de assumir a liderança do torneio no segundo turno desde 2009, quando foi campeão da competição pela última vez.

Em entrevista à Folha realizada em julho, o treinador afirmou também que pretende voltar a trabalhar no próximo ano, mas como coordenador de futebol, criticou a gestão do futebol brasileiro.

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Folha - O que está fazendo neste período afastado do futebol?
Muricy Ramalho - Estou aproveitando para curtir a família. Gosto de ficar em casa. Se não fico em casa, vou para Ibiúna, onde tenho uma casinha. Às vezes vou na casa de alguém, mas é muito difícil. Em casa, gosto de ficar assistindo futebol e assisto quase todos os jogos que são transmitidos. Não assisto todos porque têm jogos simultâneos. Não gosto de assistir com ninguém. Fico quieto em um canto da casa assistindo. Gosto de silêncio, analisar os jogos. Não gosto de ficar conversando.

Como está a saúde?
Estou sem trabalhar e a arritmia está calma, estabilizada. A arritmia não é uma doença grave, mas pode se tornar se começar a repetir. No meu caso estava sério porque repetia muito. Aí poderia vir um infarto ou um derrame e aí que se torna perigosa.

Desistiu da carreira de treinador? Quando pretende voltar a trabalhar e qual função quer exercer?
Esse ano não vou mais trabalhar com futebol. A gente nunca fala não, mas é difícil voltar a trabalhar como treinador. Do jeito que eu penso não dá para mim. Não vou conseguir ficar calmo na beira do campo. Quero ser um coordenador de futebol. Acho que é a minha posição correta. Não quero ser dirigente e nem executivo porque não é o que eu gosto, não é a minha área. Tem que mexer com dinheiro e eu nunca gostei disso. Uma coordenação entre a diretoria e a comissão técnica vejo como a melhor opção.
Tudo o que uma comissão técnica precisa para fazer eu tenho pela experiência de estar neste meio há mais de 40 anos. É analisar o trabalho do técnico, ajudar na contratação dos jogadores, fazer o elo entre os jogadores e diretoria.

Como você analisa o momento do futebol brasileiro?
Atravessamos um momento ruim por vários motivos. No Brasil, parece que não é interessante organizar as coisas. Parece que quanto fica mais desorganizado é melhor para as pessoas que vivem do futebol. Perdemos a Copa do Mundo no Brasil há dois anos e continua tudo igual.
Tem que parar o futebol e conversar. Todos os segmentos que vivem do futebol precisam conversar para melhorar o esporte. Os erros continuam aí, o calendário continua a mesma coisa.
Você faz uma programação para o time, mas o máximo que você pode fazer é para uma semana porque ela muda. Muda o horário, quando não muda o dia do jogo. As próprias pessoas que reclamam dessa desorganização praticam essas mudanças.

O que faltou na sua carreira?
Faltou dirigir a seleção brasileira. O auge da carreira é chegar à seleção brasileira. Eu fui convidado, mas não aceitei. Eu tinha me preparado para assumir. Só que tenho alguns princípios e não abro mão independentemente se for a melhor coisa do mundo.

A reunião, na época com o Ricardo Teixeira, não me convenceu. Tanto é que eu tinha razão porque o que aconteceu com o Mano demitido em 2012 poderia acontecer comigo. No melhor momento do Mano mandaram ele embora e chamaram o Felipão. Tinha também o Fluminense, onde eu tinha um acordo verbal. Não tenho frustração nenhuma. Não me arrependo de nada porque tive razão no futuro.

Como você analisa o atual momento do Flamengo, seu último clube?
É o modelo de gestão mais correto. É dirigido profissionalmente na parte organizacional, na parte política, e o futebol é dirigido por profissionais da área. O Flamengo já era uma potência pelo histórico e agora vai ficar ainda mais forte. Até o final de 2015, o clube não tinha os dados físicos dos jogadores, quantos quilômetros cada um percorria, a intensidade dos jogadores. Era uma estrutura muito atrasada, pior que clubes pequenos de São Paulo. Aí compraram a ideia de que tinham que mudar. Melhoraram demais a estrutura. A tecnologia que o clube tem agora é a melhor do mundo. Por isso que tem poucas contusões. Esse time vai ser quase imbatível.

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RAIO-X - MURICY RAMALHO
NASCIMENTO - 30.nov.1955 (60 anos), em São Paulo
PRINCIPAIS CLUBES COMO TÉCNICO:
São Paulo, Santos, Fluminense, Flamengo, Inter, Náutico, São Caetano
PRINCIPAIS TÍTULOS:
São Paulo - campeão do Campeonato Brasileiro: 2006, 2007 e 2008
Fluminense - campeão do Campeonato Brasileiro: 2010
Santos - Libertadores-2011


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