Folha de S. Paulo


Time equatoriano aposta na base e vai de amador a finalista da Libertadores

Natacha Pisarenko/Associated Press
O zagueiro Caicedo (c) comemora gol pelo Independiente del Valle diante do Boca Juniors
O zagueiro Caicedo (c) comemora gol pelo Independiente del Valle (EQU) diante do Boca Juniors

De time amador a finalista da principal competição entre times da América do Sul, o Independiente del Valle (EQU) enfrenta o Atlético Nacional (COL), nesta quarta (20), às 21h45, pela primeira partida da decisão da Libertadores, sustentado pelo trabalho feito nas categorias de base do clube.

Cinco dos 11 titulares da equipe foram formados dentro do clube, e apenas um deles já ultrapassou os 23 anos de idade: o zagueiro Caicedo, 24.

Entre os outros quatro, três são destaques: o camisa dez e cérebro da equipe, Sornoza, e os atacantes José Angulo, uma das maiores promessas do Equador, e Bryan Cabezas, centroavante e autor de dois dos cinco gols marcados pelo time nas semifinais contra o Boca Juniors (ARG).

O trabalho nas "canteras", como são chamadas as categorias de base, tem sido um dos principais focos do clube desde que foi comprado, em 2006, e transformado, literalmente, em uma empresa: o Independiente del Valle Cía. Ltda –seu rival desta quarta, o Atlético Nacional (COL), também foi comprado por investidores.

Seus compradores são empresários proeminentes de Quito, como o gerente-geral para o Equador e Venezuela da rede de fast-food KFC e atual presidente do clube, Franklin Tello, e o empresário do ramo de shoppings centers, Michelle Deller.

Com a aquisição, o time mudou de nome, trocou as cores para azul e preto –antes se chamava Independiente José Terán e vestia vermelho e branco, em homenagem ao Independiente da Argentina– e chegou pela primeira vez à divisão principal do futebol equatoriano em 2010, após passar 29 anos disputando a terceira divisão e ligas amadoras.

Em 2009, o clube construiu o Centro de Alto Rendimento, um imponente complexo de treinamento, com oito campos de futebol, onde treinam o time principal, as categorias de base, e onde está localizado um alojamento no qual vivem cerca de 150 atletas, e uma escola onde os garotos estudam.

Além da formação tradicional, os jovens também saem com um diploma de nível técnico em esportes.

CRÍTICAS

A filosofia, porém, já foi alvo de críticas. No ano passado, o ex-jogador da seleção equatoriana e da LDU Ulises Cruz fez duras críticas ao Independiente, acusando o clube de pagar pais de jogadores para convencê-los a deixar seus filhos nas categorias de base do clube.

"Existem clubes como o Independiente del Valle, que pagam US$ 3 mil ou US$ 5 mil aos pais, e levam os garotos para treinar. Isso é um tipo de exploração", afirmou em entrevista à rádio La Deportiva o hoje deputado federal.

Como resposta, o gerente esportivo do clube, Santiago Morales, afirmou que o Independiente não faz qualquer tipo de exploração, e que dá todo o suporte necessário aos garotos das "canteras".

"Temos psicólogos, médicos e toda uma engrenagem para a formação dos garotos. Nós os alimentamos. No complexo, vivem 120 garotos e todos vão se formar", afirmou Morales.

"Temos alguns garotos cujos pais estão privados de liberdade, em situações muito difíceis. Há garotos que chegaram analfabetos, que fizeram o ensino fundamental acelerado e agora estão no ensino médio. Isso não é exploração. O Independiente lhes dá estudos para que, se não puderem viver do futebol, possam ter outra profissão", completou.

Ao se explicar, Cruz afirmou que utilizou o Independiente como exemplo e que o mesmo acontece em outros clubes. Entretanto, prosseguiu com o questionamento.

"O que me preocupa é o porquê da urgência de um garoto de nove anos em estar longe de seus pais e de seu entorno cultural. O resto do trabalho que realiza o Independiente eu aplaudo".

APELO SOCIAL

Assim como uma empresa, o time adotou um slogan ousado: "Futuro campeón de Ecuador". E apesar de já ter chegado próximo do sonho, ele ainda não foi concretizado. Antes disso, porém o clube vislumbra a possibilidade de um feito ainda maior: ser o segundo time do Equador a conquistar a América (a LDU foi campeã em 2008).

Guillermo Granja/Reuters
Torcedores do Independiente del Valle (EQU) fazem fila, na segunda (18), para comprar ingressos para a final da Libertadores
Torcedores do Independiente del Valle (EQU) fazem fila, na segunda (18), para comprar ingressos para a final da Libertadores

E se a força de sua torcida quase inexistente não poderia ajudar o time na missão, uma tragédia no Equador despertou um sentimento coletivo que levou o time a superar gigantes da América na fase de mata-mata, como o River Plate nas oitavas de final, e o Boca Juniors na semifinal.

Impossibilitado de receber partidas no Rumiñahui, seu modesto estádio com capacidade para 7.233 torcedores, a equipe jogou a Libertadores toda no Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito, que pode abrigar até 38.500 espectadores.

E após um terremoto que matou ao menos 646 pessoas devastar o Equador, o time passou a atrair torcedores ao estádio com a promessa de que toda a renda das partidas seria convertida às vítimas da tragédia.

Com a medida, o Independiente teve estádio lotado na semifinal contra o Boca Juniors, e nesta quarta, o estádio estará novamente tomado por torcedores de diferentes times do país.


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