Folha de S. Paulo


Ivone, 80, dá benção ao filho Tite e troca terço preto por amarelo

A mais fervorosa torcedora de Tite, 55, o recém-anunciado técnico da seleção brasileira, precisa substituir seu rosário preto. A cor do novo terço de Ivone Bachi, 80, já foi escolhida: amarelo, a mesma da camiseta canarinho. Isso porque a tradição iniciada há 16 anos tem dado certo. A cada time que o filho treina, Ivone reza com um terço da cor correspondente.

O hábito começou com um terço bordô, usado por Ivone na final do Gaúcho de 2000, quando Adenor Leonardo Bachi, o nome de batismo de Tite, comandava o Caxias, time de Caxias do Sul, terra da família do novo treinador da seleção. A equipe venceu o Grêmio e, desde então, nenhum time do interior gaúcho superou os times da capital em uma final. A vitória começou a alçar Tite ao patamar do futebol profissional.

A "melhor mãe do mundo", título que recebeu quando o Corinthians foi campeão mundial em 2012, recebeu a Folha na sua casa na última sexta-feira (17). A residência fica ao lado da quadra de esportes Celte (Centro de Esportes e Lazer Tite), negócio administrado pelo irmão mais novo de Tite, Ademir Bachi, 50, conhecido como Miro.

Em família, Tite não é Tite, tem outro apelido, é chamado de Ade –diminutivo do primeiro nome. Apesar de octogenária, Ivone ainda trabalha preparando os pastéis à venda na cantina do ginásio e lava os coletes usados pelas equipes que jogam no local.

"Aqui só se fala de futebol", diz a matriarca. Ela conversou com Tite por telefone na noite da última quinta (16). "Bênção, mãe", disse o técnico. "Eu comecei a chorar, a gritar", relata. "Estou tomando um café, não comi, não dormi", afirmou Tite, segundo contou a mãe. Ivone respondeu como típica mãe: "Vai comer e descansar. Se cuida que tem tempo para conversar comigo depois."

PAI INCENTIVADOR

Ver Tite chegar ao cargo que é considerado o ápice da carreira futebolística era um sonho dos Bachi. "Que pena que o pai não está aqui para ver", disse Tite na mesma conversa por telefone. Genor Bachi morreu aos 74 anos, em 2009. O pai foi o responsável por despertar a paixão pelo futebol no filho.

Genor, Miro, Ade e também Beatriz, 57, a filha mais velha, costumavam passar o domingo em função dos jogos do time do pai, o Juvenil de São Braz, equipe de várzea de Caxias. "Ele estaria com o sorriso daqui até aqui", diz Beatriz sobre o pai, apontando para as pontas das orelhas.

A mãe também tinha esperanças de que o filho fosse escolhido. "A vontade morava aqui dentro", diz com as mãos em frente ao coração. "Mas sempre com aquele pé atrás". A desconfiança de Ivone é porque em 2014 esperava-se que Tite fosse o escolhido para substituir Felipão após o 7 a 1 contra a Alemanha. A frustração foi grande.

Porém, para o irmão, agora o momento é outro."Tem que curtir", diz Miro. "Ele pesou a carreira dele. Ele não está trocando uma equipe por outra, mas por uma seleção."

TITE FAMÍLIA

Beatriz conversou com Tite por WhatsApp. Ela desejou boa sorte e recebeu como resposta: "ainda não confirmei, estou com dúvidas". Mas a certeza veio horas depois.

A foto do treinador no Whatsapp mostra Tite rodeado por sua mulher, Rosmari, 51, e seus filhos Matheus, 28, e Gabriele, 21. Uma foto em família, a cara do novo técnico da seleção brasileira.


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