Folha de S. Paulo


Arquirrival de Ali, Frazier descreveu o boxeador como egocêntrico e egoísta

O americano "Smokin" Joe Frazier, arquirrival de Muhammad Ali nos ringues, foi um dos únicos a criticá-lo nos últimos anos, algo que passou a ser visto como politicamente incorreto. Ali morreu nos Estados Unidos após internação por problemas respiratórios. A morte foi anunciada na madrugada (de Brasília) deste sábado (4).

Em sua autobiografia, publicada em 1996, Frazier, morto em 2011, descreve Ali como um egocêntrico egoísta e ingrato. "Smokin" Joe foi frequentemente caracterizado por Ali, na época em que ainda lutavam, como um "Pai Tomás", um negro subserviente aos brancos.

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"Se eu fui um 'Pai Tomás', foi para [Cassius] Clay recuperar sua licença de boxeador", disse Frazier. "Eu o ajudei sempre que me ligava com alguma ideia para chamar a atenção do público. Afinal, sabia que ele tinha uma família para alimentar."

Segundo Frazier, ele jamais virou as costas para Ali, mesmo quando todo mundo o havia feito, e, como recompensa, foi pintado como um lacaio dos homens brancos, um negro de cabeça vazia. Aquilo, segundo ele, não era apenas um golpe baixo, mas um exemplo de como Ali agia.

"[Na adolescência] passava suas tardes na propriedade de um milionário branco, treinando e ocasionalmente limpando sua piscina. Como profissional, teve tudo facilitado. Um branco trabalhava em seu corner [Angelo Dundee], um grupo de milionários o financiou e um advogado branco o manteve fora da prisão [por ter se recusado a ir para o Vietnã]", apontou Frazier.

"Smokin" Joe contava que, na época em que lutavam, as bolsas eram fixas, então os insultos dirigidos a ele por Ali, que o apelidou de "Gorila", foram produto de uma pessoa fria e calculista. Ele dizia que os filhos voltavam chateados da escola por sofrerem bullying motivado pelo que Ali falava e que, por causa do arquirrival, passou a ser malvisto na comunidade negra.


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