Folha de S. Paulo


Itaquerão, dois anos, tem apenas 6% de seu custo quitado

Dois anos de casa nova e não há dúvidas: a Arena Corinthians é sucesso absoluto para os torcedores que visitam semanalmente Itaquera.

Com média de 33 mil pessoas por jogo desde seu primeiro jogo oficial, em 18 de maio de 2014, a maior do país, há apenas uma pergunta sem resposta: como fechar as contas da construção do estádio?

Depois de dois anos de uso, e quase cinco desde o anúncio das obras, o Corinthians quitou R$ 74,3 milhões do custo estimado de R$ 1,2 bilhão da arena —6% do total.

Com a venda do nome do estádio mais perto de ser assinada —o que renderia R$ 400 milhões para amortizar a dívida—, o que mais preocupa o clube agora é um "buraco" de R$ 420 milhões, que pode não ter como ser coberto.

O valor é referente aos CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento). Por ter sido sede da abertura da Copa do Mundo, a prefeitura deu ao clube isenção de impostos por meio desses papéis, que a diretoria pode vender no mercado —quem compra abate o valor do imposto a pagar.

Até agora apenas R$ 24,8 milhões dos R$ 420 milhões previstos foram vendidos. Toda a compra foi feita pela Odebrecht, empresa que construiu o estádio.

Ex-presidente do Corinthians e responsável pela obra desde o início, Andrés Sanchez concorda que os CIDs são o maior problema das contas hoje, mas diz não ter dúvida de que todos serão vendidos. "Está um pouco emperrado, mas vai vender."

O grande obstáculo foi uma ação judicial do Ministério Público de São Paulo contra a prefeitura por improbidade administrativa.

A primeira decisão foi favorável ao clube, mas a ação gerou uma desconfiança no mercado sobre a validade dos papéis —há receio de que eles deixem de ter valor caso haja algum revés na Justiça.

Também pela dificuldade para a venda, o valor desses certificados já não é mais o mesmo. De acordo com o fundo que administra a arena, eles podem estar valendo já cerca de R$ 346 milhões.

Considerando juros e empréstimos feitos durante a realização das obras, o estádio custou ao Corinthians cerca de R$ 1,2 bilhão —deste total, R$ 400 milhões vieram de financiamento do BNDES (para serem pagos em 12 anos), R$ 420 milhões viriam dos CIDs e R$ 380 milhões de outros empréstimos e juros.

A expectativa inicial era a de que a venda dos direitos de nome da arena seriam usados para ajudar a quitar a dívida do BNDES (o valor é o mesmo), mas o negócio só deve ser fechado agora.

Se os papéis dos CIDs fossem vendidos, faltaria pouco para pagar o custo da arena.

CASA CHEIA

Em dois anos, a arrecadação com bilheteria bateu em cerca de R$ 137 milhões. Tirando despesas, o lucro ficou perto de R$ 78 milhões.

O dinheiro vai para o fundo que administra a arena e é usado para pagar o empréstimo ao BNDES —parcelas mensais de R$ 5,5 milhões. Já foram pagos R$ 49,5 milhões.

O fundo pediu no início do ano uma carência extra de 17 meses para pagar as parcelas, alegando que o clube teve carência menor (19 meses) que a dos empréstimos para outros estádios da Copa (36).

Por estar em negociação, o fundo não pagou a parcela de abril e não pagará a de maio.

Mesmo diante dos atrasos, Andrés Sanchez segue dizendo ter esperança em quitar as dívidas antes de o prazo de 12 anos se esgotar e se incomoda com o assunto.

"Eu falei que podemos pagar em sete anos, mas temos 12 para fazer isso. Por que você não fala que está cheio de família, grupos de mulheres que hoje vão à arena? Que a grande maioria está respeitando seus lugares e o estádio enche quase no horário do jogo, pois as pessoas ficam nas lanchonetes? Que o estádio se esvazia em seis minutos? Que não tem fila e que raramente há algum problema?", disse o dirigente.

Itaquerao 2 anos


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