Folha de S. Paulo


'Geração de ouro' do surfe paulista 'invade' o Rio pelo Mundial

O Rio será 'invadido' por paulistas a partir desta terça-feira (10).

Não se trata de torcida de Palmeiras, Corinthians ou São Paulo, mas sim de alguns dos melhores surfistas do mundo que nasceram no Estado e vão disputar a quarta etapa do Mundial. A primeira chamada para o início da competição acontece às 7h30 desta terça.

Dos dez brasileiros que disputam o circuito, sete (Gabriel Medina, Filipe Toledo, Adriano de Souza, Wiggolly Dantas, Miguel Pupo, Caio Ibelli e Alex Ribeiro) são paulistas. E isso não para por aí.

Deivid Silva, natural do Guarujá, foi convidado para participar da etapa do Rio] e será mais um a representar o Estado.

Sendo assim, dos 14 brasileiros que vão participar do torneio na praia de Grumari, zona oeste da cidade, oito são paulistas.

A história do surfe no Brasil começou no fim da década de 1930, justamente em São Paulo, na cidade de Santos. Osmar Gonçalves é considerado por muitos como o pioneiro da modalidade no Brasil.

O esporte ganhou uma maior projeção no Rio, nas décadas de 1950 e 1960. Mas o Estado não tem, hoje, nenhum surfista no Mundial. O último atleta carioca a disputar a elite do circuito foi Raoni Monteiro, em 2014 —em março de 2015, ele foi suspenso por 20 meses por doping.

Neste ano, um carioca foi convidado para participar do torneio. Lucas Silveira vai substituir o americano Kelly Slater, que alegou motivos pessoais para desistir da competição.

Mas como explicar o sucesso atual de São Paulo no surfe?

Empresário, técnico e olheiro no surfe, Luiz 'Pinga' Campos diz que se trata de uma soma de fatores, que vai desde o desenvolvimento das categorias de base até o trabalho paralelo feito por profissionais do ramo, como ele mesmo faz.

"Os circuitos amadores, feitos por associações, que acontecem desde os anos 80, são muito fortes em São Paulo. E há muitos profissionais fazendo trabalho de desenvolvimento de surfistas dentro do Estado", afirmou 'Pinga', que descobriu Mineirinho, no Guarujá, na década de 1990.

Surfistas como Medina, Filipinho e Pupo foram desenvolvidos na mesma época. E aí está outro fator importante. Com tanto talento na disputa por títulos, eles buscavam se desenvolver ao máximo para vencer.

"O trabalho de base foi fundamental para que isso acontecesse. Era muito surfista bom na disputa e todos queriam vencer de qualquer jeito. Então um ia puxando o outro", afirmou Filipinho.

São Paulo possui, hoje, um circuito interno muito forte. O Estado conta com campeonatos tradicionais e equilibrados em praias como São Sebastião, berço de Medina, Ubatuba, local de nascimento de Filipinho, e Guarujá, cidade natal de Mineirinho.

"Acho que por muito tempo não tivemos campeonatos brasileiros bem feitos em que todos pudessem competir, e o litoral de São Paulo sempre tentou apoiar muito o surfe. Talvez por isso tenhamos nos dado bem", disse.

Hoje, os surfistas do Estado nem participam do circuito amador nacional, pois não concordam com a forma de administração dos campeonatos.

Pedro Falcão, diretor-executivo da ABRASP (Associação Brasileira de Surf Profissional), também cita a força do circuito interno em São Paulo e ressalta ainda a importância dos investimentos das marcas.

"O Estado tem um circuito regular, que acontece todo ano. E uma outra situação que é importante falar é que as grandes marcas de surfwear se concentram em São Paulo. Então você tem um ambiente que é propício para esse crescimento. Hoje o surfe paulista tem uma geração de ouro", afirmou.

Entre os outros três surfistas brasileiros que estão no Mundial, dois são do Rio Grande do Norte (Ítalo Ferreira e Jadson André) e um (Alejo Muniz) nasceu na Argentina, mas foi criado em Santa Catarina, que tem um papel importante no cenário do surfe nacional, embora esteja distante dos paulistas na atualidade.

"São Paulo tem muito apoio. As cidades, o governo, as escolas apoiam. É tudo muito bem organizado e há muitas escolinhas de surfe. É um trabalho antigo. Eles são os pioneiros na organização do surfe", disse Reiginaldo Ferreira, presidente da Federação Catarinense de Surf.

Chamada - Mundial de Surfe


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