Folha de S. Paulo


Com perfil antiboleiro, Renato exerce liderança discreta no Santos

O boleiro contemporâneo é aquele que usa chuteiras coloridas, vai a campo com um corte de cabelo personalizado, veste roupas justas e utilização intensamente as redes sociais.

No Santos, que disputa a final do Paulista neste domingo (8), contra o Audax, a dupla Lucas Lima e Gabriel se encaixa nesse perfil.

Cabe a um dos grandes ídolos do time fazer o contraponto. Aos 36 anos, Renato Dirnei Florêncio prima pela discrição. Tem fala mansa e preserva um jeito simples. "Sou calmo desde pequeno e procuro me policiar em tudo", conta o volante.

Na sua primeira passagem pelo clube, entre 2002 e 2004, ele mostrou as vantagens do estilo contido. Conseguiu a façanha de ficar pouco mais de dois anos sem tomar um cartão amarelo, o que contrasta com o comportamento instável de outras estrelas dentro de campo.

Neste Estadual, Renato não recebeu nenhum cartão amarelo. Já Gabriel tomou quatro punições desse tipo.

Lucas, por sua vez, tem se notabilizado por provocações aos rivais em redes sociais.

"Falo muito com eles [jogadores mais jovens], principalmente quando chega em reta final porque aí eles ouvem bastante dos adversários por esse jeito. Hoje temos que respeitar muito as instituições, os torcedores e o que interpretam", explica.

O jeito austero dentro de campo também se vê fora dele. Renato é dos mais aplicados nos trabalhos de academia, especialmente durante a pré-temporada. Ele tem um dos menores percentuais de gordura entre os jogadores, com cerca de 10%.

"Faço prevenção, principalmente no músculo anterior da coxa esquerda, em que tenho um problema antigo, ainda reflexo dos tempos de Guarani [time no qual jogou entre 1996 e 2000]", afirma.

Renato passa pelo menos 15 minutos diários na academia do Santos antes de cada treino e realiza uma série de trabalhos programados. Não abdica dessa rotina nem mesmo durante as férias. "Se não fizer [nas férias], demoro mais para ficar apto no início do ano", diz.

Esse cuidado foi acentuado depois de um período difícil nas temporadas pelo Botafogo, onde atuou de 2011 a 2014. Ele conta que não alcançou uma preparação física adequada no clube carioca, o que resultou em um série de lesões.

No retorno ao Santos, contudo, Renato conseguiu manter a regularidade.

Desde 2003, o volante não come sanduíches, um das opções preferidas dos jogadores –quando em alta no Santos, Neymar ia com frequência a uma lanchonete.

Há três anos, Renato abandonou também os refrigerantes devido a uma promessa feita ao filho.

A opinião da família, aliás, tem grande influência.

Cada renovação de contrato precisa ter o aval da mulher e de seus dois filhos. Foi assim na renovação do último, que o liga ao Santos até dezembro de 2017. "Os meus filhos já pedem para eu ficar em casa, isso pesa", explica.

Uma transferência para o mercado chinês, destino do ex-companheiro Geuvânio, está fora de cogitação. "Falam do dinheiro, mas e o sofrimento que vou passar? E os meus filhos? Não ficariam bem e felizes como aqui. Me deixaria muito preocupado".

A China não o seduz também porque se sente muito à vontade no Santos, do qual é torcedor desde infância e onde pode conquistar o seu quarto título.

Pelo time da Baixada Santista, foi campeão brasileiro em 2002 e 2004. Aliás, a primeira metade dos anos 2000 foi seu ápice no futebol, sendo convocado para a seleção brasileira entre os anos de 2003 e 2005.

Seu terceiro título pelo Santos foi justamente o Paulista de 2015.

Nessa volta ao time, em 2014, após passar pelo Sevilla, da Espanha, e pelo Botafogo, o volante aceitou ganhar por produtividade: "Só pedi para enviarem o contrato para eu assinar, nem fiz contraproposta".

CAPITÃO

Renato ganhou a braçadeira do Santos pela primeira vez em 2003, após o troféu que findou o jejum de 18 anos sem títulos.

No retorno ao time, reassumiu o posto de liderança, mas a exerce de um modo atípico. É muito raro vê-lo gritar. Não gosta sequer de gesticular.

Daí a fama de "jogar de terno" e "sair com o uniforme limpo" ao fim de cada jogo.

Resta saber se a serenidade de Renato será útil para o Santos na decisão deste Paulista no domingo (8), na Vila.

QUESTIONAMENTO SOBRE DINIZ

Como seria o trabalho ousado de Fernando Diniz à frente do Audax em um clube grande?

"Um erro custaria caro", avalia Renato.

O trabalho desenvolvido pelo Audax, adversário da final do Campeonato Paulista deste domingo (8), na Vila Belmiro, ainda soa ao experiente volante como uma incógnita.

"A cobrança é maior arriscando. Às vezes aperta e eles jogam com o goleiro, que sai do gol. Vai custar caro se tomar um gol assim em um clube grande", diz ele, colocando em dúvida se o trabalho de Diniz nesses moldes poderia se manter bem-sucedido em uma equipe de maior projeção.

RAIO-X

Nome

Renato Dirnei Florêncio

Nascimento

15.05.1979, em Santa Mercedes - SP (36 anos)

Títulos

Santos: Brasileiro (2002 e 04) e Paulista (2015)

Sevilla: Copa Uefa (2006 e 07) e Copa do Rei (2007 e 09)

Botafogo: Carioca (2013)

seleção brasileira: Copa América (2004) e Copa das Confederações (2005)


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