Folha de S. Paulo


'Modelo europeu não fará nosso futebol melhor', diz Fernando Diniz

Inovador, estrategista, audacioso louco... Finalista do Paulista, Fernando Diniz, 42, já foi taxado de várias formas desde que iniciou a carreira de treinador em 2009, dirigindo o extinto Votoraty.

Neste domingo (1º), o seu Audax, de Osasco, a surpresa deste Estadual, enfrenta o Santos na primeira partida da decisão, às 16h. Na partida, o time deve, mais uma vez, apresentar as características que notabilizaram seu treinador, como um estilo de jogo de troca de passes e movimentação constante.

À Folha ele disse que o futebol brasileiro precisa de mudança, mas evitou o discurso corrente de que o único caminho é a metodologia do Velho Continente. Para Diniz, "importar o modelo europeu não vai fazer nosso futebol melhor do que é hoje".

Formado em psicologia, o líder da sensação da competição tem a convicção de que o nosso problema atual está mais relacionado a questões sociais do que táticas.

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Folha - O treinador e o treinamento brasileiro estão defasados em relação à Europa?
Fernando Diniz - A questão não é importar metodologia de treino. Evoluímos bastante nessa questão, principalmente na base. Isso não quer dizer que o futebol vai melhorar por isso. Importar modelo europeu não fará nosso futebol melhor do que é hoje.

Por que os treinadores brasileiros não têm oportunidade no mercado europeu?
Um motivo é o idioma. Outro é porque o momento do Brasil em conquistas internacionais não é dos mais promissores. O terceiro é o aspecto geográfico de Argentina, Uruguai e Chile, que são países mais frios. As características desses lugares favorecem a adaptação de seus profissionais na Europa.

Qual time você vê na folga?
Barcelona e Bayern de Munique são os times que mais gosto de ver jogar, mas não faço grande esforço para isso. Prefiro ver os jogos dos times que serão meus adversários.

O 7 a 1 para a Alemanha é um retrato do futebol brasileiro?
Não acho. O resultado macula muita coisa. Parece que está tudo errado, que não existe jogador, que nada presta. Acho que tem muita coisa para mudar, mas temos o essencial, que são bons jogadores. O 7 a 1 foi bom para dar uma chacoalhada, para mudar coisas que deveriam ser mudadas quando a gente estava ganhando.

O talento individual ainda pode fazer a diferença?
O diferencial do futebol brasileiro é a qualidade individual, o improviso. Tenho convicção de que temos talentos individuais demais.

Precisamos elaborar um jeito de tirar o melhor dos jogadores e dar muito apoio para que joguem bem coletivamente. O problema está muito mais na questão humana e social que na questão tática e coletiva. A primeira coisa é dar suporte para os jogadores entenderem de onde vêm e, aí sim, se enquadrarem na coletividade. É o que fazemos.

Quem tem mais escolaridade tem mais facilidade para entender o jogo coletivo. O cara que cresceu com liberdade na rua tem mais relutância para entender e aceitar.

O principal problema, na minha opinião, está na maneira que o jogador é tratado, ele deve ser tratado como gente, para que chegue na seleção mais bem preparado emocionalmente.

O estilo do Audax dá para ser implantado em time grande?
Essa filosofia vem desde quando treinava time na Série A-3. Perguntavam se eu conseguiria implantar esse estilo na A-2. Depois, perguntavam se conseguiria na A-1 e hoje continuam perguntando. Provavelmente, daqui a pouco, podemos estar fazendo num time grande e vão indagar se conseguirei fazer na Europa.

Não estou fazendo o negócio para ir para time grande. Faço porque tenho prazer. Se os jogadores estão felizes, evoluindo, obtendo resultados, isso é o que me realiza. Não fico projetando o futuro.

Você se inspirou em algum treinador ou jogador?
A minha inspiração são os grandes jogadores. Tudo o que faço é para que o jogador possa ser o Pelé que queria ser. Minha inspiração é ver o jogador atuando bem, de maneira alegre, com plasticidade e de maneira competitiva.

Gosto das pessoas que tenham caráter. Os treinadores que me marcaram foram os que eram bons de campo e davam um pouco mais de si para os outros. Gosto do Oswaldo de Oliveira, do Márcio Araújo e do Vágner Mancini.

Como você vê o Santos, seu adversário na final?
O Santos tem muita coisa diferente. Tem um conjunto muito forte, tem grandes jogadores e um excelente técnico. É um time completo e que tem um menu de opções. Temos que saber o jogo, jogar dentro das nossas características.

RAIO-X
FERNANDO DINIZ

Nome
Fernando Diniz Silva

Nascimento
27/03/74, Patos de Minas (MG)

Times como treinador
Votoraty, Paulista, Botafogo-SP, Atlético Sorocaba, Audax, Guaratinguetá e Paraná

Títulos como treinador
Copa Paulista-2009, Série A-3 em 2009 (Votoraty) e Copa Paulista-2010 (Paulista)

Editoria de Arte/Folhapress
Audax x Santos

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