Folha de S. Paulo


Zico defende Tite na seleção e diz que não concorrerá a mais nenhum cargo

Zico, 63, ex-jogador do Flamengo e da seleção brasileira, acredita que o grupo de jogadores que representa o futebol nacional deveria ser comandado por Tite, técnico do Corinthians, e não por Dunga. À Folha, após a cerimônia de anúncio dos clubes que fecharam contrato com o Esporte Interativo (emissora na qual trabalha como comentarista) pelo Brasileiro a partir de 2019, Zico explica que se baseia no mérito para fazer sua avaliação.

"Para mim, é o que deveria ser [Tite como técnico da seleção]. É uma opinião pessoal. Existem certos cargos que precisam ser por mérito. Não tenho nada contra o Dunga, mas sou favorável ao mérito, ao resultado. Temos um treinador que tem resultados em competições nacionais e internacionais. Se a seleção serve para dar espaço aos melhores, você tem que chamar os melhores", explicou, estendendo a crítica também às últimas escolhas de treinadores.

"E isso não vem de agora. O Muricy [Ramalho] ganhou tudo e nunca foi para a seleção. O Tite a mesma coisa. Abel Braga também. Isso é um desestímulo a conseguir grandes conquistas para chegar à seleção."

Sobre o desempenho da seleção brasileira, Zico afirma que o problema não está na qualidade dos jogadores, mas na organização da equipe.

"A seleção precisa ser revista. Material humano nós temos, porque senão seria muita cegueira de todos os grandes clubes europeus de contratarem tantos jogadores nossos e eles não serem bons. O Brasil precisa de ajustes para não correr riscos. Já não foi bem na Copa América, e agora nas eliminatórias é difícil olhar para a tabela e ver o Brasil em sexto. Eles se deixaram levar muito por resultados de amistosos, que não valem nada."

Já sobre a Rio-2016, o ex-jogador, que já afirmou no passado que sua maior frustração na carreira foi nunca ter participado de olimpíadas, disse que não sabe quais são os jogadores que compõem a seleção brasileira olímpica. Mas não por falta de interesse.

"Eu não sei qual é a seleção olímpica. Acho que a gente não tem planejamento da seleção olímpica, não tem base. Faltando alguns meses para a olimpíada você junta alguns jogadores e seja o que deus quiser. Não sei o que esperar pela frente. Quando ela se encontrar, espero que traga alegria. Ainda não assisti a um jogo deles, seja porque não passaram, seja porque eu estava trabalhando. Se você me perguntar o nome de um jogador da seleção olímpica, eu não vou saber te responder", disse.

EX-CARTOLA?

Derrotado em sua tentativa de concorrer à presidência da Fifa no final de 2015, ele diz que não considera mais disputar o cargo. De toda forma, ele valoriza a experiência.

"Não, não, isso acabou. Aquilo foi um momento, foi uma possibilidade, foi bom para mudar algumas estruturas, falar algumas coisas que não eram comentadas pela Fifa, ter espaço na mídia para colocar pontos importantes... Ninguém falava em um debate na TV entre todos os candidatos, nem em democracia na Fifa, nem em participação de profissionais da área de futebol na Fifa. Uma entidade como a Fifa deveria ter só gente do futebol: médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, diretores de futebol, psicólogos, etc.. Foi importante colocar esses pontos", argumenta. Zico ficou fora da disputa porque não conseguiu o apoio de cinco federações nacionais para lançar sua candidatura. Ele também refuta ocupar qualquer cargo na CBF.

Quem assumiu o cargo foi o suíço Gianni Infantino, cujo nome apareceu na lista dos "Panamá Papers", investigação jornalística que apresentou relação de pessoas envolvidas em transações com offshores, contas abertas em paraísos fiscais.

De acordo com a reportagem do jornal britânico "The Guardian", os arquivos levantam dúvidas sobre a participação do dirigente em acordos realizados quando foi diretor jurídico da Uefa, entidade que rege o futebol europeu.

Zico acredita que Infantino foi a melhor escolha para o cargo, e torce para que seja um equívoco a vinculação do suíço com o escândalo.

"Se alguma coisa for concreta [sobre o envolvimento de Infantino], será uma decepção muito grande. Entre todos os que concorreram, sem dúvida ele que deveria ganhar. O Infantino tem uma cabeça diferente de todos aqueles que já passaram por ali e não fizeram nada. Ele vem de uma entidade que faz o melhor trabalho de futebol do mundo, a Uefa. O maior campeonato é a Liga dos Campeões, que é muito melhor que a Copa do Mundo: em termos de respeito, de seriedade, de disciplina, de retorno financeiro. O Infantino tem uma parte de contribuição nisso, assim como o [Michel] Platini. Lamentei tudo o que aconteceu com o Platini porque perdeu uma grande oportunidade de ser hoje o presidente da Fifa e ser construtor de credibilidade à entidade [o francês está suspenso pela Fifa de qualquer atividade relacionada ao futebol por seis anos por ter sido considerado culpado de "conflito de interesses" e "gestão desleal]", analisa.

"O Infantino está no caminho certo, é uma cabeça nova. Tomara que o nome dele tenha sido um erro na questão do Panamá Papers e que seja alguma coisa correta", conclui Zico.


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