Folha de S. Paulo


Mesmo afastado da CBF, Del Nero usa avião oficial da confederação

Licenciado oficialmente da presidência da CBF desde o início de dezembro, Marco Polo Del Nero continua aproveitando luxos da entidade.

Investigado pelo FBI e pela CPI do Futebol, o dirigente paulista usou pelo menos seis vezes o avião e o helicóptero da CBF nos últimos três meses —este último, até no final do Carnaval.

Na quarta-feira de cinzas, ele e seus convidados fizeram um voo de Osasco (SP) para o Rio com escala no aeroporto de Congonhas. No total, o dirigente usou os aparelhos da CBF por 14 horas.

Del Nero é acusado pelo FBI de fazer parte de uma esquema de recebimento de propina na venda de direitos comerciais de torneios no país e no exterior. José Maria Marin, seu antecessor, é acusado do mesmo crime e está em prisão domiciliar nos EUA desde o ano passado.

O presidente licenciado é também investigado pelo Comitê de Ética da Fifa.

Por causa da acusação do FBI, Del Nero decidiu se afastar oficialmente da CBF no dia 3 de dezembro. Mesmo sem frequentar diariamente o prédio da entidade, ele continua com poder. Del Nero é responsável pela palavra final nas decisões estratégicas.

De acordo com documentos aos quais a Folha teve acesso, o último voo do cartola em uma aeronave da confederação foi no dia 11 de fevereiro.

Na ocasião, ele deixou o aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, com destino a mansão de um amigo em Angra dos Reis, interior fluminense.

Ele também viajou no helicóptero da CBF por outras duas vezes. Nos dias 18 de dezembro e 19 de janeiro, o presidente licenciado seguiu do Rio para Congonhas.

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O Cessna Citation 680 da entidade também foi usado pelo cartola.

Del Nero usou a moderna aeronave para viajar para Brasília, onde é investigado pela CPI do Senado. No dia 16 de dezembro, ele embarcou em Jacarepaguá junto com o advogado José Mauro do Couto para a capital federal.

O dirigente já fez até o avião decolar apenas com ele. No dia 3 de fevereiro, o presidente licenciado da CBF viajou desacompanhado do Rio para São Paulo.

Pressionado por senadores da CPI do Futebol e pela oposição para renunciar, Del Nero se recusa a entregar o poder na entidade.

Atualmente, a CBF é comandada pelo presidente da Federação Paraense de Futebol, coronel Antonio Carlos Nunes. Ele tem função apenas protocolar.

Na quarta (16), ele prestou depoimento na CPI do Futebol. O senador Romário (PSB-RJ) chegou a perguntar se ele era corrupto e ladrão. Nunes se recusou a responder.

CBF E DEL NERO NÃO COMENTAM

A CBF e o presidente licenciado da confederação, Marco Polo Del Nero, recusaram-se a comentar o uso privado das aeronaves da entidade durante o período em que dirigente esteve afastado da presidência.

Integrantes do comitê de reformas da confederação, no entanto, informaram que o assunto será discutido na próxima reunião do órgão.

O grupo elabora o novo Código de Ética da CBF. Uma das intenções do comitê de reformas com o documento é regulamentar o uso das aeronaves da confederação por seus dirigentes.

Na última quarta-feira (16), a Folha revelou o uso das aeronaves do empresário Wagner Abrahão pelos últimos três presidentes da CBF –Del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira.

Nos últimos 14 meses, os cartolas fizeram 27 voos nas aeronaves do empresário, que atua no ramo de turismo e tem uma série de negócios com a confederação.

Del Nero chegou levar amigos e amigas a Angra dos Reis (RJ), onde costuma passar os finais de semana.

Abrahão é investigado pela CPI do Futebol por supostamente ter sido favorecido pela CBF em contratos.

As empresas de Abrahão cuidam das viagens da seleção brasileira há décadas.

Elas também são responsáveis por vender passagens para transportar os clubes das séries B, C e D do Campeonato Brasileiro.


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