Folha de S. Paulo


Agora sou a vidraça e isso torna as coisas mais difíceis, diz Mineirinho

Há exatamente um ano, o paulista Adriano de Souza, o Mineirinho, 29, voltava a disputar uma etapa do Mundial de surfe depois de ficar cerca de dois meses afastado por causa de uma ruptura no ligamento colateral medial do joelho direito.

Na ocasião, ele não era o centro das atenções, já que todos os olhos estavam para o paulista Gabriel Medina, 22, que defendia o seu título e era a grande sensação do momento.

Um ano se passou e Mineirinho está de volta a Gold Coast, na Austrália, onde se inicia mais uma temporada —a etapa de abertura estava marcada para esta quarta-feira, mas foi adiada. Agora, porém, é ele quem está sob os holofotes, afinal, é o atual campeão do mundo. E a pressão vai ser grande.

"É como aquele artista que lança o primeiro disco de sucesso. Todo mundo espera que o segundo seja igual ou melhor. Sei que sou a vidraça hoje, o que torna as coisas difíceis na água", disse Mineirinho em entrevista para a Folha.

O surfista chega para a temporada depois de férias agitada e cheia de responsabilidade.

Primeiro por conta dos desfiles (tanto em Guarujá, no litoral de São Paulo, quanto em Florianópolis, Santa Catarina), eventos e entrevistas a que teve que participar depois do título conquistado no fim de 2015, no Havaí.

Chamada - Mundial de Surfe

Depois, em janeiro, subiu ao altar para se casar com a modelo Patrícia Eicke. Passou a lua de mel no Vietnã e nas Maldivas. Nem deu tempo de surfar.

"Eu já faço isso o ano todo, se eu fizesse na lua-de-mel minha esposa me deserdaria. Tentei até escolher lugares de praias, mas ela escolheu praias sem ondas", afirmou o surfista, que pensou em ficar no Havaí depois do título para treinar, mas refutou à ideia.

"Eu percebi que era um momento único e que precisaria saborear ele após tantos anos de luta", disse.

Mas tudo já ficou para trás. Agora, só o que importa é a temporada.

Mineirinho chegou à Austrália com um mês de antecedência antes da primeira etapa para treinar nas ondas de Gold Coast e intensificar a preparação para o campeonato sob a supervisão do seu fisioterapeuta, Alison Paz.

"Quero aproveitar o máximo possível esse período de treinos, que começa bem cedo. Não quero nem dizer a hora que eu levanto para não acharem que sou louco, mas ainda está noite", afirmou.
Até porque ser campeão do Mundial de surfe de forma consecutiva requer muita preparação, pois é uma tarefa para poucos.

Desde 1976, quando foi disputado o primeiro campeonato, apenas cinco surfistas conseguiram ganhar o título em dois anos seguidos: os australianos Mark Richards e Tom Carroll, os americanos Tom Curren e Kelly Slater e o havaiano Andy Irons.

"Com certeza vai ter mais pressão, faz parte da nossa cultura, mas poder entrar nesse grupo me deixaria amarradão. É um belo incentivo", disse Mineirinho.

Manobras do surfe; Crédito Ilustrações Lydia Megumi; Infográfico Alex Kidd e Pilker/Editoria de Arte/Folhapress


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