Folha de S. Paulo


Brasileiro que já surfou em tampa de isopor se vê pronto por título mundial

O potiguar Ítalo Ferreira tem apenas 21 anos, mas já pode se gabar do seu currículo.

Primeiro porque em seu primeiro ano no Mundial de surfe, em 2015, ele conseguiu vencer baterias contra adversários como o americano Kelly Slater, 44, 11 vezes campeão mundial, o paulista Gabriel Medina, 22, primeiro brasileiro a levar o título do circuito, e o havaiano John John Florence, 23, um dos surfistas mais temidos no circuito.

E segundo porque ele foi eleito o novato do ano em 2015 e ficou na sétima posição do ranking. Sim, à frente até mesmo de Slater, o nono colocado.

"Foi uma temporada perfeita. Esperava ficar no top 10. E consegui. Fui bem em ondas em que eu nem tinha experiência, como Fiji e Taiti", disse à Folha Ítalo, que nasceu e cresceu em Baia Formosa, no Rio Grande do Norte, local em que o tamanho das ondas nem se compara com a de lugares como Fiji ou Taiti, onde pode passar dos seis metros de altura.

Chamada - Mundial de Surfe

Mas parece que Ítalo está mesmo acostumado com as adversidades.

O seu começo na modalidade foi bem diferente dos demais.

Filho de um vendedor de peixe, Ítalo não tinha uma prancha para surfar quando criança. Olhava os primos se divertindo na água e procurava um jeito de cair no mar e pegar ondas. Ele encontrou um modo não muito convencional: a tampa quadrada de isopor que o seu pai usava nas caixas dos peixes que vendia.

"Parece até mentira, porque isso não te dá estabilidade nenhuma no mar, mas eu conseguia pegar onda. E meu pai mostrava eu surfando para todo mundo", afirmou Ítalo, que tinha 8 anos na época.

Quanto menor, leve e mais fino o objeto, menos estabilidade se tem na água, e mais difícil de surfar fica.

O seu grande medo era não quebrar a tampa, pois seu pai a usava para tampar os peixes na parte da noite.

"Eu pegava as ondas menores, que não quebravam o isopor e eu conseguia me divertir", disse.

Depois de ganhar a sua primeira prancha, Ítalo começou a disputar campeonatos locais. Para poder se locomover e pagar a inscrição, pedia dinheiro nos comércios da região.

Levava até cartaz dos eventos para tentar sensibilizar os comerciantes. "Às vezes eu chorava quando não conseguia", disse.

Para o almoço durante os torneios, ele levava sacos de biscoito na mala. Hospedava-se em casas de conhecidos.

"Ninguém consegue tudo de mão beijada. Tem que ter um sacrifício. E eu corri atrás das coisas", disse. E o esforço deu resultado.

Depois de ganhar diversos campeonatos, ele foi campeão brasileiro de surfe em 2014. Hoje, conta com cinco patrocinadores. Em 2015, Ítalo teve excelentes resultados para um estreante, como o terceiro lugar no Rio e o vice-campeonato em Portugal, onde foi derrotado pelo paulista Filipe Toledo, 20, na final.

E após esses resultados expressivos, o potiguar já se vê pronto para vencer o título mundial neste ano.

"Agora eu já sei como as coisas funcionam e sei jogar no meio deles. Só vai depender de mim. Estou preparado para ir até o fim", disse.

Manobras do surfe; Crédito Ilustrações Lydia Megumi; Infográfico Alex Kidd e Pilker/Editoria de Arte/Folhapress


Endereço da página:

Links no texto: