Folha de S. Paulo


Ainda sonho em ganhar uma Copa do Mundo, afirma zagueiro David Luiz

Pelo segundo ano consecutivo, David Luiz, 28, enfrentará seu ex-clube Chelsea nas oitavas de final da Liga dos Campeões a serviço do Paris Saint-Germain. A partida acontecerá na terça-feira (16), na capital francesa.

Vitorioso em 2015, atualmente ele compõe uma das duplas de zaga mais valorizadas da Europa ao lado de Thiago Silva, com uma média de 0,4 gol sofrido por partida.

Foi também na companhia do compatriota que viveu talvez os meses mais antagônicos da história da seleção brasileira: da euforia com a Copa no Brasil em 2014 à derrota por 7 a 1 para a Alemanha.

Em entrevista à Folha, ele comemora o bom momento no PSG, torce por um reencontro com o Barcelona, fala em superação da dor, e afirma o sonho de ser campeão da Copa.

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Folha - Na terça, você volta a enfrentar o Chelsea em jogo decisivo. Um dos pontos mais altos da sua carreira foi justamente lá. É diferente enfrentá-los?
David Luiz - Acho que agora, na segunda vez seguida, já é tranquilo. No ano passado, tinha a história de que eu tinha saído do Chelsea, onde deixei muitos amigos, então foi doloroso. Vai ser um jogo muito difícil, então espero que a gente comece bem, porque teremos que decidir na Inglaterra.

O PSG tem hoje uma das melhores defesas da Europa, com 19 gols sofridos em 42 jogos. A que se deve isso?
Principalmente ao trabalho coletivo. No futebol, existe a mania de falar só da defesa ou só do ataque. Mas a marcação começa com os atacantes e os meias, que nos ajudam bastante.

Quando você saiu do Chelsea, o técnico José Mourinho disse que o time ficaria melhor sem você. Você diria o mesmo agora? É mais difícil enfrentar o Chelsea sem ele?
Se ele dissesse o contrário, iria contra o time dele. O Chelsea será sempre um grande clube. Com o Mourinho ou sem ele, é uma equipe muito forte, e teremos um jogo difícil pela frente.

No último jogo do PSG, ante o Olympique de Marselha, você se recusou a sair de campo, e o técnico Laurent Blanc te chamou para uma conversa. Como foi isso?
A mídia deu mais ênfase do que merecia. Tenho uma relação maravilhosa com o Blanc, foi mais uma comunicação que não foi bem feita no jogo. Eu estava tentando ver se conseguiria continuar no jogo [ele sentia dores na coxa e no joelho], e o time já estava preparado para entrar alguém em meu lugar caso acontecesse algo. Quando eu caí, ele ficaram muito preocupados, o médico já entrou com a cabeça de que eu deveria sair, e o Blanc queria me proteger para os próximos jogos. Mas eu queria continuar, ajudar minha equipe. No momento da substituição, o árbitro não autorizou a entrada do Marquinhos, então eu voltei a campo para não ficarmos com um a menos. Então me perguntaram novamente se eu poderia jogar, eu disse que sim, então mudaram a troca. Quando um jogador está se sentindo bem para continuar em campo, é bom.

O Blanc disse que você costuma jogar com dor. Na final da Liga dos Campeões de 2012, você enfrentou o Bayern de Munique com uma ruptura muscular. Por que você assume esse risco?
Eu amo futebol. Já sofri inúmeras lesões na carreira, fiquei um ano sem jogar no Benfica, sei como é doloroso ficar longe dos gramados. Acho que não tem nenhum atleta de alto rendimento que não sinta alguma dor. Eu quero sempre jogar. Nenhuma dor é maior que um sonho.

Você acha que na Europa os torcedores reconhecem mais o que você faz em campo do que no Brasil?
Não sei. Não são todos os torcedores brasileiros que podem ver todos os nossos jogos e o nosso dia a dia. Eu já estou há nove anos na Europa. Estou na seleção desde 2010, mas são momentos, períodos, não um ano todo para te conhecer. É mais fácil formar uma opinião quando se acompanha a rotina do jogador.

Esse jogo contra o Chelsea também marca o reencontro dos jogadores que participaram da Copa de 2014. Além de você e o Thiago Silva, Oscar e Willian jogarão pelo Chelsea. Como é para você reencontrá-los?
É bom demais. São grandes jogadores, que eu gostaria que estivessem ao meu lado. Espero que não joguem tão bem contra a gente.

Espera enfrentar o Barcelona novamente?
Para ganhar a Liga dos Campeões, é necessário bater o Barcelona ou o Bayern de Munique. Um desses sempre está pelo caminho. Como eu quero ser campeão, espero encontrar o Barça pelo caminho, sim.

Antes da Copa, você viveu um dos auges da sua carreira no Chelsea. Passado o Mundial, você sente que está alcançando o pico técnico novamente?
Depois da Copa, fizemos história ao ganhar quatro títulos em uma temporada na França. Não é fácil conquistar tudo isso -só não levamos a Liga dos Campeões. Fiquei feliz com meu primeiro ano no PSG, joguei quase todas as partidas em alto nível.

Em seu último jogo pela seleção, contra a Argentina, você foi expulso pela primeira vez na carreira. Você conversou com o Dunga depois disso? Espera uma convocação para a partida contra o Uruguai em março?
Conversamos de maneira natural. Sabia que isso [expulsão] aconteceria em algum momento, então fiquei feliz que tenha sido nos minutos finais e prejudicou pouco a equipe. Minha ambição, minha vontade e meu trabalho são sempre pensando em voltar à seleção.

Você acha que seu desempenho na seleção é o mesmo que nos clubes?
Espero sempre realizar meu melhor trabalho em todos os lugares. Disputei duas competições oficiais pela seleção, que foram a Copa das Confederações e a Copa do Mundo –fiquei mais no banco nas Copas Américas. Ganhei uma [Copa das Confederações], perdi outra, mas estava fazendo uma grande Copa até as quartas de final. Depois do jogo contra a Alemanha, tudo se esquece. Continua sendo um sonho ganhar uma Copa do Mundo com a seleção brasileira, e vou trabalhar para isso.

Durante a Copa, você se tornou um dos preferidos da torcida brasileira. Depois dela, você sofreu uma pressão negativa proporcional. Como você lida com isso?
Aceito, é natural. Não se pode mudar o passado, temos que pensar para frente. Na nossa carreira, como qualquer outra, recebemos críticas, elogios.

Você ainda fica remoendo a partida contra a Alemanha?
Não. Já aprendi, superei, refleti, tirei grandes lições. Serviu de aprendizado, segue.

Você gosta de fazer caretas em fotos, especialmente mostrando a língua. Por que?
Para esconder a feiura. Nunca gostei da minha cara, desde pequeno. Faço careta desde antes de ser jogador de futebol.

Tem quem critique isso, cobrando um perfil mais sisudo e carrancudo de um zagueiro.
Cada um tem sua personalidade e opinião. Eu respeito tudo e todos. A gente tem que entender sempre o momento de fazer as coisas, só isso.

Você já ganhou a Liga dos Campeões e já disputou uma Copa do Mundo no Brasil. Tem a sensação de dever cumprido ou ainda sente uma vontade de conquistar algo?
Se eu tivesse a sensação de dever cumprido já tinha aposentado. Tenho fome de futebol como se estivesse começando hoje, e enquanto ela existir eu vou continuar dando meu melhor, com dor ou não. No dia que essa fome passar, será o dia de parar. Enquanto isso, sou como um menino de 18 anos começando agora.

As Copas de 2018 e 2022 são seus principais objetivos hoje?
Também são.

Sente vontade de jogar no Brasil?
Não penso para os próximos anos, ainda tenho contrato de três anos e meio com o PSG. Mas seria bacana disputar o Brasileiro no futuro, saber como é, sentir as diferenças dos torcedores do Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste... De repente, terei a oportunidade de jogar no Brasil, país que eu mais amo, no final da carreira.

No Corinthians? Ou é indiferente?
O Corinthians tem muita pressão. De repente, será esse meu destino, sim.


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