Folha de S. Paulo


Erros de arbitragem na NFL têm até moeda que não girou em cara ou coroa

Norm Hall - 16.jan.2015/AFP
Árbitro Clete Blakeman, que vai apitar o Super Bowl, comete erro ao não fazer moeda girar
Árbitro Clete Blakeman, que vai apitar o Super Bowl, comete erro ao não fazer moeda girar

Os jogos das finais de conferência da NFL incluíram um final emocionante, dois vencedores por mérito e muitos desempenhos excelentes. E em alguns quadrantes a sensação deve ter sido de alívio por um fator estar no geral ausente: decisões contestadas ou claramente incorretas da arbitragem.

Nesta temporada do futebol americano, semana após semana, torcedores, técnicos e jogadores se irritaram com decisões questionáveis, errôneas ou no mínimo esquisitas dos árbitros. Em muitos casos, a NFL, por meio de Dean Blandino, seu vice-presidente de arbitragem, ou do porta-voz Michael Signora, admitiu posteriormente que os árbitros erraram, o que em muitos casos não serviu de grande consolo aos times prejudicados.

Abaixo, as 10 decisões de arbitragem mais contestadas da temporada:

A (não) recepção de Eifert
27 de setembro, Bengals x Ravens, em Baltimore: A recepção de Eifert para um touchdown, em uma quarta descida iniciada na linha de uma jarda, parecia ter dado ao Cincinnati Bengals uma vantagem de 20 a 0. Mas Eifert deixou escapar a bola ao aterrissar na end zone (zona do touchdown), e depois da revisão a recepção foi considerada incompleta.

Ao contrário de algumas das decisões contestadas da temporada, essa foi defendida pela NFL.

Blandino disse que "ele precisa manter o controle da bola até o chão. Quando você salta e está descendo, tem de segurar a bola não importa o que faça o adversário".

Não surpreende que Eifert discorde: "Não sei se alguém pode mesmo dizer qual seria a decisão certa", ele declarou à ESPN. "Na minha interpretação, assim que a bola cruza a linha e entra na end zone, a jogada acabou".

Desvio ilegal
5 de outubro, Lions x Seahawks, em Seattle: Com menos de dois minutos para o final do jogo e Detroit três pontos atrás, Matthew Stafford fez um passe para Calvin Johnson, que parecia a caminho de um touchdown que daria vantagem aos visitantes. Mas pouco antes que Johnson cruzasse a linha, Kam Chancellor se estendeu atleticamente e tirou a bola das mãos do recebedor.

A bola ficou quicando na end zone, e quase certamente sairia pela linha de fundo. K. J. Wright, de Seattle, ajudou empurrando a bola para fora do campo.

Um touchback (quando a bola vai para a end zone após um chute ou punt e a jogada é encerrada) foi marcado. Mas Wright e os Seahawks deveriam ter sido penalizados, a liga declarou mais tarde. "Não é permitido desviar a bola em qualquer direção dentro da end zone. Isso é falta", disse Blandino à NFL Network.

Se a infração tivesse sido marcada, disse Blandino, a falta custaria a Seattle metade da distância entre o local do fumble (o ponto em que o atacante derrubou a bola) e a linha da end zone, deixando Detroit a centímetros de um touchdown. Em lugar disso, Seattle conseguiu reter a posse de bola pelos minutos restantes e garantiu a vitória.

Pare o relógio
12 de outubro, Steelers x Chargers, em San Diego: Depois que o San Diego Chargers assumiu a liderança por 20 a 17 pontos com 2min56seg restando no relógio, o kickoff (chute para dar reinício à partida) saiu pelo fundo da end zone, o que resultou em um touchback (o que significa que os Steelers iniciariam sua nova campanha em sua linha de 20 jardas), e o relógio deveria ter sido parado. Mas o tempo não foi parado, e com isso Pittsburgh perdeu 18 segundos potencialmente cruciais.

Signora atribuiu o problema a "um erro do operador do relógio", e disse que é responsabilidade do árbitro chefe supervisionar a cronometragem da partida. Para sorte dos Steelers, os 2min38seg restantes provaram ser suficientes para que o quarterback Michael Vick liderasse o time a um touchdown e à vitória, em uma jogada final de ataque.

Árbitro distraído
26 de outubro, Ravens x Cardinals, no Arizona. Na primeira campanha dos Ravens, o guard [jogador que atua na proteção ao quarterback] John Urschel recebeu um passe que conduziu sua equipe à linha de sete jardas da end zone dos Cardinals. Mas os árbitros reportaram que ele não havia se identificado como potencial recebedor e aplicaram penalidade ao seu time por formação ofensiva ilegal.

Blandino admitiu mais tarde que Urschel havia informado aos árbitros que poderia servir como recebedor na jogada e que o árbitro Ronald Torbert estava distraído por estar anunciando uma correção em uma penalidade imposta na jogada anterior.

Saída falsa sem punição
15 de novembro, Jaguars x Ravens, em Baltimore. Com os Jaguars um ponto atrás e apenas alguns segundos restando no cronômetro, Elvis Dumervil, dos Ravens, foi apanhado em uma falta por agarrar a grade protetora do capacete de um adversário, o que custou 15 jardas de penalidade ao seu time. Isso permitiu que os Jaguars se posicionassem para um field goal de 53 jardas que lhes deu a vitória.

Mas o time, na verdade, não deveria ter sido autorizado a chutar. Os árbitros não perceberam que o ataque dos Jaguars não estava posicionado corretamente para a jogada.

"A decisão correta no caso teria sido penalizar o ataque por saída falsa, porque seus 11 jogadores não estavam corretamente posicionados, e apitar para parar o lance", disse Signora ao jornal "Baltimore Sun". "Os 10 segundos que seriam necessários para reiniciar a partida teriam resultado no final do jogo".

Com vitória do Baltimore Ravens.

A (não) recepção de Beckham
15 de novembro, Patriots x Giants, no estádio do Giants. Quando Odell Beckham Jr. aparentemente apanhou um passe para touchdown a dois minutos do final da partida, parecia que os Giants haviam tomado a liderança por cinco pontos. Beckham posicionou seus dois pés dentro do gramado, mas o cornerback Malcolm Butler, dos Patriots, arrancou a bola de suas mãos em seguida.

Os árbitros de campo decidiram que a jogada havia sido um touchdown, mas a revisão em vídeo mostrou que o passe não tinha sido completado. Os Giants tiveram de optar por um field goal e com ele uma liderança de apenas dois pontos, e terminaram perdendo a partida por conta de um field goal convertido pelos Patriots.

"Se você olha a jogada, é isso que a regra atual diz –que você precisa fazer um football move [um movimento válido tendo pleno controle da bola], especialmente se a recepção for na end zone", admitiu Eli Manning, o quarterback dos Giants. "Você precisa ter o controle da bola o tempo todo".

Jason Szenes - 15.nov.2015/The New York Times
Odell Beckham Jr., do New York Giants, não conseguiu ter controle da bola nesta jogada
Odell Beckham Jr., do New York Giants, não conseguiu ter controle da bola nesta jogada

Pare o relógio, 2
23 de novembro, Bills x Patriots, em Buffalo. O Buffalo Bills estava sete pontos atrás e o tempo estava se esgotando; Tyrod Taylor fez um passe recebido por Sammy Watkins na linha lateral do campo. Ao receber, Watkins caiu e rolou para fora do campo, o que aparentemente deveria ter parado o relógio com ainda dois segundos de tempo restante. Tempo para uma nova jogada, partindo da metade do campo? Não. Um árbitro decidiu que Watkins havia caído ainda dentro de campo, e que por isso o relógio deveria continuar rolando. Fim de jogo.

Blandino, mais tarde, admitiu que a decisão foi incorreta. Porque Watkins não foi tocado por um adversário, a jogada não deveria ter se encerrado no momento em que ele caiu no chão e o relógio deveria ter sido parado quando ele cruzou a linha lateral.

Na mesma partida, um árbitro de linha soprou o apito sem querer, talvez distraído pelo treinador dos Bills, Rex Ryan, estar passando na frente dele. O recebedor Danny Amendola, dos Patriots, havia recebido um passe e parecia ter campo aberto diante dele, mas os árbitros decidiram que a jogada deveria ser considerada encerrada no ponto da recepção.

Falta contestada
3 de dezembro, Packers x Lions, em Detroit. O jogo acabou depois de uma jogada de desespero do Green Bay Packers que envolveu passe recebido e dois novos passes para trás, quando o quarterback Aaron Rodgers foi derrubado por Devin Taylor. Os Lions haviam aparentemente derrotado o favorito Green Bay.

Mas os árbitros decidiram que Taylor havia agarrado a grade do capacete de Rodgers e marcaram falta. Os replays mostravam contato entre o dedão do defensor e a grade do capacete do quarterback, mas não que Taylor houvesse agarrado a grade. Os jogadores e torcedores dos Lions ficaram irritados. Blandino defendeu a decisão, afirmando que os árbitros a repetiriam "em praticamente todas as ocasiões".

Os Packers aproveitaram a oportunidade de uma jogada adicional e Rodgers fez um passe de 61 jardas para Richard Rodgers, marcando o touchdown que decidiu o jogo.

Briga ininterrupta
20 de dezembro, Panthers x Giants, no estádio do Giants. Beckham e Josh Norman se desentenderam diversas vezes durante o jogo, entre outras coisas por conta de trombadas depois do final da jogada, empurrões, rasteiras e agarrões na grade do capacete. No incidente mais notório, Beckham mergulhou contra Norman e atingiu o capacete do oponente com o seu.

Três faltas por violência desnecessária foram marcadas contra Beckham, e duas contra Norman, mas nenhum dos dois foi expulso. Beckham terminou suspenso por uma partida devido às suas ações, e Norman levou uma multa.

"Acho que, se você observar as ações em sua totalidade, uma expulsão seria justificada", disse Blandino à NFL Network. "Houve certamente um acúmulo de incidentes, e não só praticados por Beckham. O outro lado também errou, e na minha opinião as duas partes estiveram envolvidas".

A moeda que não girou
17 de janeiro, Packers x Cardinals, no Arizona. Em meio às intensas complexidades da NFL, existe a simplicidade do cara ou coroa. A moeda sobe, a moeda desce, alguém vence a disputa e o jogo segue.

Mas a mais simples das operações se tornou surpreendentemente contenciosa em uma partida de playoff divisional entre o Green Bay e o Arizona quando os Packers pediram coroa para decidir quem ficaria com a posse de bola na prorrogação, e a grande e pesada moeda cerimonial caiu em cara sem ter girado no ar, o que causou rugidos de protesto dos Packers.

O árbitro Clete Blakeman concordou em jogar a moeda de novo, e um incidente mais grave foi evitado quando ela caiu de novo em cara. O quarterback Aaron Rodgers, dos Packers, disse que quis mudar a pedida para cara no segundo arremesso, mas não foi autorizado a fazê-lo.

Os Cardinals optaram por começar com a posse de bola e marcou um touchdown em sua primeira campanha, vencendo a partida.

"O árbitro usou seu critério para determinar que seria justo jogar a moeda pela segunda vez para validar o processo", disse Signora à agência de notícias Associated Press.

Essa lista de erros de arbitragem não basta para você? Bem, Blakeman será o árbitro do Super Bowl.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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