Os jogos das finais de conferência da NFL incluíram um final emocionante, dois vencedores por mérito e muitos desempenhos excelentes. E em alguns quadrantes a sensação deve ter sido de alívio por um fator estar no geral ausente: decisões contestadas ou claramente incorretas da arbitragem.
Nesta temporada do futebol americano, semana após semana, torcedores, técnicos e jogadores se irritaram com decisões questionáveis, errôneas ou no mínimo esquisitas dos árbitros. Em muitos casos, a NFL, por meio de Dean Blandino, seu vice-presidente de arbitragem, ou do porta-voz Michael Signora, admitiu posteriormente que os árbitros erraram, o que em muitos casos não serviu de grande consolo aos times prejudicados.
Abaixo, as 10 decisões de arbitragem mais contestadas da temporada:
A (não) recepção de Eifert
27 de setembro, Bengals x Ravens, em Baltimore: A recepção de Eifert para um touchdown, em uma quarta descida iniciada na linha de uma jarda, parecia ter dado ao Cincinnati Bengals uma vantagem de 20 a 0. Mas Eifert deixou escapar a bola ao aterrissar na end zone (zona do touchdown), e depois da revisão a recepção foi considerada incompleta.
Ao contrário de algumas das decisões contestadas da temporada, essa foi defendida pela NFL.
Blandino disse que "ele precisa manter o controle da bola até o chão. Quando você salta e está descendo, tem de segurar a bola não importa o que faça o adversário".
Não surpreende que Eifert discorde: "Não sei se alguém pode mesmo dizer qual seria a decisão certa", ele declarou à ESPN. "Na minha interpretação, assim que a bola cruza a linha e entra na end zone, a jogada acabou".
Desvio ilegal
5 de outubro, Lions x Seahawks, em Seattle: Com menos de dois minutos para o final do jogo e Detroit três pontos atrás, Matthew Stafford fez um passe para Calvin Johnson, que parecia a caminho de um touchdown que daria vantagem aos visitantes. Mas pouco antes que Johnson cruzasse a linha, Kam Chancellor se estendeu atleticamente e tirou a bola das mãos do recebedor.
A bola ficou quicando na end zone, e quase certamente sairia pela linha de fundo. K. J. Wright, de Seattle, ajudou empurrando a bola para fora do campo.
Um touchback (quando a bola vai para a end zone após um chute ou punt e a jogada é encerrada) foi marcado. Mas Wright e os Seahawks deveriam ter sido penalizados, a liga declarou mais tarde. "Não é permitido desviar a bola em qualquer direção dentro da end zone. Isso é falta", disse Blandino à NFL Network.
Se a infração tivesse sido marcada, disse Blandino, a falta custaria a Seattle metade da distância entre o local do fumble (o ponto em que o atacante derrubou a bola) e a linha da end zone, deixando Detroit a centímetros de um touchdown. Em lugar disso, Seattle conseguiu reter a posse de bola pelos minutos restantes e garantiu a vitória.
Pare o relógio
12 de outubro, Steelers x Chargers, em San Diego: Depois que o San Diego Chargers assumiu a liderança por 20 a 17 pontos com 2min56seg restando no relógio, o kickoff (chute para dar reinício à partida) saiu pelo fundo da end zone, o que resultou em um touchback (o que significa que os Steelers iniciariam sua nova campanha em sua linha de 20 jardas), e o relógio deveria ter sido parado. Mas o tempo não foi parado, e com isso Pittsburgh perdeu 18 segundos potencialmente cruciais.
Signora atribuiu o problema a "um erro do operador do relógio", e disse que é responsabilidade do árbitro chefe supervisionar a cronometragem da partida. Para sorte dos Steelers, os 2min38seg restantes provaram ser suficientes para que o quarterback Michael Vick liderasse o time a um touchdown e à vitória, em uma jogada final de ataque.
Árbitro distraído
26 de outubro, Ravens x Cardinals, no Arizona. Na primeira campanha dos Ravens, o guard [jogador que atua na proteção ao quarterback] John Urschel recebeu um passe que conduziu sua equipe à linha de sete jardas da end zone dos Cardinals. Mas os árbitros reportaram que ele não havia se identificado como potencial recebedor e aplicaram penalidade ao seu time por formação ofensiva ilegal.
Blandino admitiu mais tarde que Urschel havia informado aos árbitros que poderia servir como recebedor na jogada e que o árbitro Ronald Torbert estava distraído por estar anunciando uma correção em uma penalidade imposta na jogada anterior.
Saída falsa sem punição
15 de novembro, Jaguars x Ravens, em Baltimore. Com os Jaguars um ponto atrás e apenas alguns segundos restando no cronômetro, Elvis Dumervil, dos Ravens, foi apanhado em uma falta por agarrar a grade protetora do capacete de um adversário, o que custou 15 jardas de penalidade ao seu time. Isso permitiu que os Jaguars se posicionassem para um field goal de 53 jardas que lhes deu a vitória.
Mas o time, na verdade, não deveria ter sido autorizado a chutar. Os árbitros não perceberam que o ataque dos Jaguars não estava posicionado corretamente para a jogada.
"A decisão correta no caso teria sido penalizar o ataque por saída falsa, porque seus 11 jogadores não estavam corretamente posicionados, e apitar para parar o lance", disse Signora ao jornal "Baltimore Sun". "Os 10 segundos que seriam necessários para reiniciar a partida teriam resultado no final do jogo".
Com vitória do Baltimore Ravens.
A (não) recepção de Beckham
15 de novembro, Patriots x Giants, no estádio do Giants. Quando Odell Beckham Jr. aparentemente apanhou um passe para touchdown a dois minutos do final da partida, parecia que os Giants haviam tomado a liderança por cinco pontos. Beckham posicionou seus dois pés dentro do gramado, mas o cornerback Malcolm Butler, dos Patriots, arrancou a bola de suas mãos em seguida.
Os árbitros de campo decidiram que a jogada havia sido um touchdown, mas a revisão em vídeo mostrou que o passe não tinha sido completado. Os Giants tiveram de optar por um field goal e com ele uma liderança de apenas dois pontos, e terminaram perdendo a partida por conta de um field goal convertido pelos Patriots.
"Se você olha a jogada, é isso que a regra atual diz –que você precisa fazer um football move [um movimento válido tendo pleno controle da bola], especialmente se a recepção for na end zone", admitiu Eli Manning, o quarterback dos Giants. "Você precisa ter o controle da bola o tempo todo".
Jason Szenes - 15.nov.2015/The New York Times | ||
Odell Beckham Jr., do New York Giants, não conseguiu ter controle da bola nesta jogada |
Pare o relógio, 2
23 de novembro, Bills x Patriots, em Buffalo. O Buffalo Bills estava sete pontos atrás e o tempo estava se esgotando; Tyrod Taylor fez um passe recebido por Sammy Watkins na linha lateral do campo. Ao receber, Watkins caiu e rolou para fora do campo, o que aparentemente deveria ter parado o relógio com ainda dois segundos de tempo restante. Tempo para uma nova jogada, partindo da metade do campo? Não. Um árbitro decidiu que Watkins havia caído ainda dentro de campo, e que por isso o relógio deveria continuar rolando. Fim de jogo.
Blandino, mais tarde, admitiu que a decisão foi incorreta. Porque Watkins não foi tocado por um adversário, a jogada não deveria ter se encerrado no momento em que ele caiu no chão e o relógio deveria ter sido parado quando ele cruzou a linha lateral.
Na mesma partida, um árbitro de linha soprou o apito sem querer, talvez distraído pelo treinador dos Bills, Rex Ryan, estar passando na frente dele. O recebedor Danny Amendola, dos Patriots, havia recebido um passe e parecia ter campo aberto diante dele, mas os árbitros decidiram que a jogada deveria ser considerada encerrada no ponto da recepção.
Falta contestada
3 de dezembro, Packers x Lions, em Detroit. O jogo acabou depois de uma jogada de desespero do Green Bay Packers que envolveu passe recebido e dois novos passes para trás, quando o quarterback Aaron Rodgers foi derrubado por Devin Taylor. Os Lions haviam aparentemente derrotado o favorito Green Bay.
Mas os árbitros decidiram que Taylor havia agarrado a grade do capacete de Rodgers e marcaram falta. Os replays mostravam contato entre o dedão do defensor e a grade do capacete do quarterback, mas não que Taylor houvesse agarrado a grade. Os jogadores e torcedores dos Lions ficaram irritados. Blandino defendeu a decisão, afirmando que os árbitros a repetiriam "em praticamente todas as ocasiões".
Os Packers aproveitaram a oportunidade de uma jogada adicional e Rodgers fez um passe de 61 jardas para Richard Rodgers, marcando o touchdown que decidiu o jogo.
Briga ininterrupta
20 de dezembro, Panthers x Giants, no estádio do Giants. Beckham e Josh Norman se desentenderam diversas vezes durante o jogo, entre outras coisas por conta de trombadas depois do final da jogada, empurrões, rasteiras e agarrões na grade do capacete. No incidente mais notório, Beckham mergulhou contra Norman e atingiu o capacete do oponente com o seu.
Três faltas por violência desnecessária foram marcadas contra Beckham, e duas contra Norman, mas nenhum dos dois foi expulso. Beckham terminou suspenso por uma partida devido às suas ações, e Norman levou uma multa.
"Acho que, se você observar as ações em sua totalidade, uma expulsão seria justificada", disse Blandino à NFL Network. "Houve certamente um acúmulo de incidentes, e não só praticados por Beckham. O outro lado também errou, e na minha opinião as duas partes estiveram envolvidas".
A moeda que não girou
17 de janeiro, Packers x Cardinals, no Arizona. Em meio às intensas complexidades da NFL, existe a simplicidade do cara ou coroa. A moeda sobe, a moeda desce, alguém vence a disputa e o jogo segue.
Mas a mais simples das operações se tornou surpreendentemente contenciosa em uma partida de playoff divisional entre o Green Bay e o Arizona quando os Packers pediram coroa para decidir quem ficaria com a posse de bola na prorrogação, e a grande e pesada moeda cerimonial caiu em cara sem ter girado no ar, o que causou rugidos de protesto dos Packers.
O árbitro Clete Blakeman concordou em jogar a moeda de novo, e um incidente mais grave foi evitado quando ela caiu de novo em cara. O quarterback Aaron Rodgers, dos Packers, disse que quis mudar a pedida para cara no segundo arremesso, mas não foi autorizado a fazê-lo.
Os Cardinals optaram por começar com a posse de bola e marcou um touchdown em sua primeira campanha, vencendo a partida.
"O árbitro usou seu critério para determinar que seria justo jogar a moeda pela segunda vez para validar o processo", disse Signora à agência de notícias Associated Press.
Essa lista de erros de arbitragem não basta para você? Bem, Blakeman será o árbitro do Super Bowl.
Tradução de PAULO MIGLIACCI