Folha de S. Paulo


Crítica

Livro retrata obsessão de japoneses pelas longas corridas

Toshifumi Kitamura - 22.fev.2015/AFP
Marathon runners start the Tokyo Marathon 2015 from Tokyo's Metropolitan government building on February 22, 2015. More than 35,500 runners took part in the Tokyo Marathon. AFP PHOTO / TOSHIFUMI KITAMURA ORG XMIT: KIT172
Largada da maratona de Tóquio, em 2015

Quênia e Etiópia podem ser a "meca da maratona", produzindo campeões em bateladas, mas não há país tão obcecado por corridas de longa distância quanto o Japão.

Apesar da popularidade do futebol e do beisebol, o principal evento esportivo do ano é uma prova de revezamento de 217 km só com homens.

Realizado nos dias 2 e 3 de janeiro, o Hakone Ekiden tem grande cobertura televisiva e audiência massiva, com índices comparáveis aos do Super Bowl nos Estados Unidos.

O telespectador é recompensado porque os caras correm muito. Ainda que simples atletas amadores, estudantes universitários, queimam o chão como gente grande.

Na edição de 2013, por exemplo, nada menos do que 30 jovens correram etapas do revezamento numa velocidade média equivalente a 63 minutos para a meia maratona.

Para comparação, naquele ano, apenas um corredor britânico completou a distância em tempo menor: o campeão olímpico dos 5.000 m e dos 10 mil metros, Mo Farah.

Números como esses despertaram o interesse do jornalista britânico Adharanand Finn, 41, que lançou neste ano "The Way of the Runner: A Journey Into The Fabled World of Japanese Running" (O caminho do corredor: uma jornada no fabuloso mundo das corridas japonesas).

Ele repete a fórmula de outro livro, com quenianos, que recebeu vários prêmios: mudou-se com toda a família para viver seis meses no Japão e desvendar o mundo da corrida corporativa, que faz do Japão um dos maiores empregadores de atletas: há cerca de 1.500 corredores contratados por empresas.

Divulgação
The Way of the Runner: A Journey into the Fabled World of Japanese Running. Adharanand Finn

Não conseguiu, como queria, treinar com um time de elite, mas teve oportunidade de bisbilhotar alguns dos segredos da preparação e conseguiu boas entrevistas.

A de maior destaque talvez seja com um dos famosos monges maratonistas do Monte Hiei, que correm mil maratonas em mil dias em busca da iluminação pessoal.

São raríssimos os que conseguem tal feito, desdobrado ao longo de sete anos –a empreitada é suspensa com muito frio ou muito calor.

"O movimento constante durante mil dias nos dá muito tempo para refletir sobre a vida. É uma espécie de meditação por meio do movimento", diz o monge no livro.

O escritor quis saber se o monge tinha, enfim, descoberto o sentido da vida. "O aprendizado continua. O verdadeiro desafio é seguir em frente, aproveitar a vida e aprender coisas novas."

Pois é.

Reportagem

The Way of the Runner: A Journey Into the Fabled World of Japanese Running

Autor

Adharanand Finn

Editora

Faber & Faber

Quanto

R$ 14 (e-book, na www.amazon.com)

Avaliação

Bom


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