Folha de S. Paulo


Federação internacional bane três dirigentes e um técnico do atletismo

A IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo) anunciou nesta quinta-feira (7) o banimento de três dirigentes e um técnico da modalidade, sendo três deles por toda a vida, sob acusação de corrupção e envolvimento em um escândalo de doping.

Entre eles está Papa Massata Diack, filho do ex-presidente do órgão Lamine Diack e ex-consultor da organização.

A Comissão de Ética da IAAF suspendeu pela vida inteira também Valentin Balakhnichev, ex-presidente da Federação Russa de Atletismo e tesoureiro da entidade, e Alexei Melnikov, ex-treinador chefe da federação russa para corredores de longa distância.

Já Gabriel Dollé, ex-diretor de doping da IAAF, foi suspenso por cinco anos.

A IAAF está envolta em polêmica com acusações envolvendo Lamine Diack e Sebastian Coe, atual mandatário da entidade.

Em novembro, uma comissão independente constituída pela WADA (Agência Mundial Antidoping) recomendou o banimento da Rússia de todas as competições internacionais de atletismo devido a um profundo sistema nacional de dopagem que tinha anuência do governo.

A IAAF acatou e, provisoriamente, baniu o país. Os russos agora têm de passar por um processo de credenciamento para poderem disputar, por exemplo, os Jogos Olímpicos do Rio.

Além disso, Diack também é investigado pela Justiça francesa por denúncias de corrupção.

O jornal francês "Le Monde" divulgou em dezembro uma reportagem na qual afirmou que Nick Davies, cartola da cúpula da IAAF, sabia de casos acobertados pela entidade em 2013, envolvendo sobretudo atletas russos.

A publicação demonstrou e-mail trocado entre Davis, que é braço direito de Coe, e Papa Massata Diack.

Na mensagem, que data de 19 de julho de 2013, pouco antes do Mundial de Moscou, ambos discutem uma maneira de reduzir uma possível repercussão midiática devido aos casos, dos quais ambos estava cientes.

O e-mail consta de uma investigação sobre a IAAF. "Isso deve continuar muito secreto", escreveu Davies, que foi diretor de comunicações e porta-voz da entidade.

À época, diversos passaportes biológicos de atletas russos apresentavam anormalidades, o que poderia configurar um caso positivo de doping.

"Acredito que esses casos deveriam ter sido revelados faz tempo e que agora devemos ser inteligentes. Esses atletas, está claro, não devem participar da seleção russa. Se os culpados não participarem da competição, poderíamos esperar que o fim do torneio para anunciá-los", acrescentou.

Uma das sugestões dadas por Davies é utilizar a influência de Coe –que em 2013 era um dos quatro vice-presidentes da IAAF– para aplacar tensões com a mídia britânica, especialmente crítica à entidade.

Davies sugere revelar um ou dois casos positivos de russos em conjunto com atletas de outros países. "Também podemos preparar um dossiê especial do antidoping da IAAF que mostrarão que uma das razões pelas quais esses atletas russos foram flagrados é que eles são muito testados", disse Davies.

O cartola afirmou na mensagem que faria "de tudo em seu poder para proteger a IAAF e o presidente [Diack]". O esquema de acobertamento contaria com a ajuda de Gabriel Dollé, então responsável pelo departamento antidoping da associação.

Em resposta ao "Le Monde", Davies se defendeu e disse que sua atribuição era gerir a imagem e proteger a reputação da IAAF.


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