Folha de S. Paulo


Chineses assustam clubes brasileiros com salários e pagamento de multas

Em meados de novembro de 2015, o Corinthians recebeu uma sondagem do clube chinês Tianjin Quanjian que prometia fazer uma proposta de 4 milhões de euros (R$ 17 milhões) pelo meia Jadson, um dos melhores do Brasileiro de 2015 –1 milhão de euros (R$ 4,3 milhões) a menos do que a multa rescisória prevista em contrato.

O presidente Roberto de Andrade foi enfático na época. "Não, obrigado, vamos ficar com o jogador para 2016", respondeu o cartola. Um mês depois, os chineses voltaram a atacar e levaram o meia.

Primeiro fecharam acordo salarial com o jogador, algo em torno de R$ 1,5 milhão por mês (quatro vezes mais do que Jadson ganhava no Parque São Jorge). Depois avisaram ao Corinthians que depositariam valor integral da multa. "Não tivemos o que fazer", disse Andrade a aliados.

O futebol brasileiro já conviveu com a concorrência dos altos salários das potências da Europa, dos clubes do Oriente Médio e, mais recentemente, de equipes ricas do leste europeu. Mas os chineses vão além de inflacionar salários, com propostas que muitas vezes superam o que os atletas ganhariam na Europa. Se for preciso, pagam o valor estipulado em contrato para a rescisão do acordo entre clube e jogador.

Quando equipes de futebol estipulam multas rescisórias para o mercado estrangeiro, podem colocar o valor que bem entendem e, normalmente, chutam alto para impedir que clubes ricos depositem e tirem o atleta unilateralmente. Não é incomum garotos de 16 ou 17 anos terem multas milionárias. Para tirar Gabriel Jesus, 18, do Palmeiras, por exemplo, é preciso pagar 40 milhões de euros (R$ 172 milhões) ao clube.

No caso de Jadson, o Corinthians estipulou o que achou suficiente para um atleta de mais de 30 anos, que já teve experiência no leste europeu e, provavelmente, não despertasse mais interesse dos gigantes europeus. O problema é que agora existe o mercado chinês.

Chineses oferecem salários milionários - Salário/por mês, em R$ milhões

NOVO-RICO

O que mais chama a atenção no caso do Tianjin Quanjian é que o time está na segunda divisão da China. O clube já contratou o técnico Vanderlei Luxemburgo com salário de mais de R$ 3 milhões por mês, e acaba de assinar também com o atacante Luis Fabiano, ex-São Paulo, com vencimentos de mais de R$ 1 milhão por mês.

O Tianjian repete a receita de outras equipes da China: investimento privado –todos os times são geridos por empresas–, mas com mãozinha do governo, que dá incentivos fiscais às empresas que investem no futebol.

O sonho por lá é que a China se torne uma potência do futebol para receber uma Copa do Mundo, e para isso eles querem os melhores, não apenas "ex-atletas em atividade", como acontece no Oriente Médio.

"O Lucas Limas eles não vão levar, apesar dessa concorrência que criaram. Ele fica", jura o presidente santista, Modesto Roma Jr.

A multa para um clube estrangeiro tirar o meio da Vila Belmiro é de 50 milhões de euros (R$ 215 milhões). Destaque na última temporada, ele recebe pouco acima do teto salarial do Santos, cerca de R$ 200 mil, segundo Roma Jr. Como então evitar que o jogador não se empolgue com uma oferta de mais de R$ 1 milhão mensal?

"Ele quer a seleção brasileira, jogar Copa", diz o dirigente. Se esse for o projeto de Lucas Lima, faz sentido.

Diego Tardelli, que foi jogar no começo de 2015 no Shandong Luneng, um dos grandes, esteve na Copa América. Foi mal. A avaliação da comissão técnica da seleção, segundo apurou a Folha, é que o nível baixo do campeonato local afetou o desempenho na seleção. A rica China, por enquanto, leva atleta de seleção, para depois tirá-lo do time nacional.


Endereço da página:

Links no texto: