Folha de S. Paulo


São Paulo divulga áudio em que Aidar sugere dividir comissão com Ataíde

O São Paulo divulgou nesta quinta-feira (17) o conteúdo da gravação do áudio (veja abaixo) em que o ex-presidente do clube, Carlos Miguel Aidar, sugere dividir uma comissão com Ataíde Gil Guerreiro, vice de futebol, pela compra do zagueiro Gustavo, da Portuguesa.

No dia anterior à gravação, feita por Ataíde, o ex-presidente do São Paulo havia oferecido dividir R$ 100 mil da comissão com o dirigente. No dia seguinte, Ataíde gravou o áudio, que culminou na renúncia de Aidar à presidência do clube.

Ataíde e Aidar ainda falaram sobre o contrato de comissionamento com a marca esportiva Under Armour para a namorada de Aidar, Cinira Maturana.

De acordo com a documentação apresentada aos conselheiros do São Paulo, o valor que ela teria recebido é de R$ 6 milhões, em parcelas semestrais de R$ 500 mil, por meio de sua empresa, a TML Foco, que tem sede no Rio. Entre as razões sociais da companhia está a intermediação de negócios.

Na gravação, Aidar ainda diz que Douglas Schwartzmann, ex-diretor do clube, pedia comissão "em tudo".

Em contato com a Folha, Schwartzmann negou o fato.

"Eu nunca recebi um centavo de comissão em nada e vão ter que provar isso que falaram", afirmou.

Schwartzmann divulgou uma carta, que, segundo ele, foi entregue e assinada por Aidar no dia da renúncia, em 13 de outubro. No texto, Aidar escreveu que não há nada contra o vice.

"Trata-se de um reconhecimento pelo empenho, luta, dedicação, conquistas, combatendo o bom combate do dia a dia. Se mais nós dois não fizemos, porque nos elegeram como Cristo e nos levaram ao calvário que vivemos. Nada há contra você, afirmo e repetirei isso sempre. Eu sou testemunha de sua honradez. Acabo de renunciar à presidência do clube e cabe a você por uma pá de cal sobre tudo que pairava no ar. Você, sou testemunha, não pediu comissão alguma em negócio algum, muito embora tenha trazido importantes recursos ao clube. Mas seus detratores, querendo atingir-me, atingirão sua honradez e sua dignidade. Siga sua luta, amigo. A história haverá de reparar a injustiça que nos tomou", diz trecho.

A reportagem tentou falar com Aidar, mas não obteve retorno até a publicação desta nota.

Dias depois da gravação do áudio, Aidar demitiu Ataíde após uma briga entre os dois cartolas no hotel Radisson, no bairro Itaim Bibi, na zona sul da capital paulista.

OUÇA O ÁUDIO COMPLETO E LEIA TRECHOS ABAIXO

Ouça

Ataíde: "E esse negócio do Gustavo? Quando que a gente pode fazer?"

Aidar: "Ah, amanhã".

Ataíde: "Mas não é muito batom na cueca, p...?"

Aidar: "Ele [empresário de Gustavo] paga honorários para mim. Só isso. E eu repasso a você em dinheiro. Não é nem cheque, não tem rastro nenhum, nem para você e nem para mim".

Ataíde diz a Aidar que não quer o dinheiro e fala sobre Cinira.

Ataíde: "Ela –Cinira– recebe R$ 1 milhão e dez parcelas de 500 mil. A última termina em julho de 2019. Eu não abro isso para ninguém. Não vou falar para ninguém, mas quero que me deixe mexer no futebol. Quero seriedade no futebol. Não quero dinheiro de nada. Eu sou um duro e nunca fiz nada de errado. Fiquei triste quando você me ofereceu dinheiro".

Aidar: "A Cinira tentou fazer negócio com a Under Armour e não conseguiu".

Na gravação, Ataíde pergunta a Aidar sobre uma comissão que o ex-diretor do clube, Douglas Schwartzmann, teria pedido para fechar acordo com uma hamburgueria.

Ataíde: "Agora tem outra coisa. Sabe o negócio da hamburgueria? Fez contato com o Palmeiras, com o Corinthians e com o Grêmio. E o advogado do Palmeiras falou que está fazendo o contrato com o São Paulo, mas o que atrapalhava é que o Douglas pediu 15%".

Aidar: "O Douglas está pedindo comissão em tudo. Ele veio aqui descaradamente".

Ataíde: "Por que você não acaba com isso, pô? Vamos acabar com isso".

Aidar: "Ataíde, estou com o seguinte problema: se eu mandar o Douglas embora, vai o Dedé [conselheiro do clube] junto. Você não percebe que estou acuado? Completamente acuado. Estou a ponto de largar isso a qualquer hora. Estou de saco cheio. Não preciso disso. Voltar para o escritório de advocacia é muito melhor".

Ataíde: "E esse negócio do Iago [Maidana] também foi uma m..., né?".

Aidar: "Mas p..., o que você queria?".

Ataíde: "E por que você fez essa confusão toda?"

Aidar: "Você não queria o jogador? Queria ou não queria?".

Ataíde: "Não queria assim. Para pagar, não. Queria de graça".

Aidar: "O cara nunca veio de graça, mas apareceu o cara lá...".


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