Folha de S. Paulo


Campeão mundial, técnico da seleção de handebol critica estrutura do Brasil

Jonathan Nackstrand/AFP
O técnico dinamarquês Morten Soubak comanda o Brasil em jogo do Mundial
O técnico dinamarquês Morten Soubak comanda o Brasil contra Congo no Mundial-2015

Atual campeã, a seleção feminina de handebol está invicta em Mundiais há 13 jogos– 12 vitórias, a mais recente por 23 a 19 sobre a Argentina, nesta quinta-feira (10), e um empate.

Nesta sexta (11), na Dinamarca, elas enfrentam a França, às 15h (de Brasília), com vaga assegurada nas oitavas de final, para fechar a primeira fase em primeiro no grupo.

Um panorama positivo para a equipe que, além do título em 2013, também foi sexta colocada na Olimpíada de 2012 e é favorita ao pódio na Rio-2016, certo?

Não para o técnico Morten Soubak. Desde 2009 à frente da seleção, o dinamarquês está tão inquieto quanto nos momentos tensos das partidas à beira da quadra.

"O handebol brasileiro é mais do que as seleções", afirma Morten à Folha.

"O que eu queria explicar ao falar que o handebol não melhorou depois do título mundial é que não vejo onde temos mais talentos, mais equipes competitivas etc. A Liga Nacional é curta, tem poucos times e rodadas nos períodos de jogos da seleção adulta", critica o técnico, referindo-se à reclamação que fez nesta semana, em entrevista ao UOL, empresa do Grupo Folha, que publica a Folha, sobre o atraso do handebol nacional mesmo depois do título Mundial de 2013.

E o reflexo pode atingir a seleção? "Eu acho que o nosso nível nem caiu e nem subiu muito nestes dois anos. Está bem nivelado", afirma.

A Liga Nacional feminina, principal competição de clubes do país, durou menos de três meses neste ano (de agosto a novembro) e teve apenas seis equipes. E, além dessa, Morten tem outras preocupações que afetam diretamente a seleção. Uma delas é a falta de estrutura para a prática do esporte no país.

"Quando a seleção adulta está no Brasil, tenho que cancelar muitos treinos por conta das condições das quadras", conta o treinador.

O torneio Quatro Nações, contra Eslovênia, Argentina e Sérvia, em Brasília (DF), preparatório para a seleção brasileira, uma semana antes do embarque para o Mundial, não aconteceu em razão de goteiras no ginásio, por exemplo.

Outro problema que surgiu em dois anos foi o fim da parceria com o clube austríaco Hÿpo, fator crucial no sucesso do handebol brasileiro e que já não existe desde 2014. Com um acordo com a Confederação Brasileira de Handebol, o Hÿpo concentrava a base da seleção, chegou a ter oito atletas, além de ser comandado pelo próprio Morten. Assim, elas ficavam o ano todo treinando e jogando juntas contra as melhores do mundo na Europa.

"Espero que não tenha tanta influência na equipe. Nós temos um bom time, experiente, competitivo. E mesmo sem o convênio com o Hÿpo, espero que a experiência que elas estão levando de outros e novos clubes dê um bom retorno para a seleção", diz.

Das 16 atletas da seleção neste Mundial, dez jogam na Europa atualmente. Em 2013, eram 12.

Autodenominado "baiano" (e assim é chamado até por atletas), Morten já trabalha no Brasil há dez anos (começou pela equipe masculina do Pinheiros) e se preocupa constantemente com o desenvolvimento da modalidade no país que não pretende deixar (é casado com uma brasileira, com quem tem um filho, e mora em São Paulo).

Ele mesmo é responsável por algumas clínicas para estimular crianças a jogar handebol. As categorias de base, afinal, são outra grande preocupação do comandante da seleção. Afinal, ele pensa em 2016, mas também 2017, 2018...

Jonathan Nackstrand/AFP
A armadora Deonise foi eleita a melhor atleta da partida na vitória contra a Argentina
A armadora Deonise foi eleita a melhor atleta da partida na vitória contra a Argentina

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