Folha de S. Paulo


Sedes da Copa reduziram investimento em esporte em 2014, diz relatório

Daniel Marenco/Folhapress
Em 2010, garoto joga bola em laje de barraco no morro Santa Teresa, em Porto Alegre, de onde se via a reforma do estádio Beira-Rio para a Copa-2014
Garoto joga bola em laje de barraco no morro Santa Teresa, em Porto Alegre, em 2010, de onde se via a reforma do estádio Beira-Rio para a Copa do Mundo de 2014

As cidades-sede da Copa do Mundo reduziram o investimento em esporte em 2014, justamente o ano do Mundial de futebol no Brasil. A exceção foi Curitiba.

Essa é uma das conclusões do 2º Relatório Cidades do Esporte, que vai ser apresentado pela ONG Atletas pelo Brasil nesta quarta-feira (9), no estádio do Morumbi.

Dados obtidos com exclusividade pela Folha mostram, por exemplo, que a redução média dos orçamentos das secretarias de esporte dos municípios foi de 0,38% para 0,29%, de 2013 para 2014.

A Secretaria de Esporte, Lazer e Recreação de São Paulo contesta o número. Segundo o órgão da Prefeitura paulistana, o orçamento executado da pasta cresceu em 7,8% de 2013 para 2014 (de R$ 209,6 milhões para R$ 225,9 milhões).

"Os dados são de inteira responsabilidade dos municípios que os fornecem. As informações do orçamento executado pela Secretaria de Esporte foram passados pela prefeitura de São Paulo para as duas edições do relatório", diz Silvia Gonçalves, coordenadora do Programa Cidades do Esporte.

Das 12 sedes da Copa, o Distrito Federal foi a única que não enviou os dados referentes a 2014 porque o governo, que assumiu neste ano, não assinou a carta compromisso com a Atletas pelo Brasil —liderada pela medalhista olímpica no vôlei Ana Moser e pelo campeão mundial de futebol Raí. Segundo o governo do Distrito Federal, a assinatura ainda está sendo analisada.

A intenção do relatório é medir a evolução do esporte nas cidades a partir do diagnóstico feito em 2013 (em relatório lançado ano passado) até 2022. Para isso, os próprios municípios preencheram neste ano uma matriz com mais de cem indicadores com os dados que vão da ampliação do acesso à atividade física para a população até a melhoraria do esporte nas escolas. Os 11 prefeitos assinaram os compromisso.

"O relatório mostra que há problemas na gestão. Eles têm poucos dados para fornecer, falta planejamento e não estão comprometidos com o monitoramento. Vimos que o esporte não é prioridade para as cidades", afirma a Daniela Castro, diretora executiva da Atletas pelo Brasil.

Por essas dificuldades, a ONG vai medir também a gestão municipal em relação ao esporte no terceiro relatório, a ser lançado ano que vem.

"Se você não mede resultados de políticas públicas, você não sabe onde melhorar", diz Daniela.

No atual relatório, outros dados também chamam a atenção. Por exemplo, apenas Curitiba tem Plano Municipal de Esporte. Já Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus e São Paulo têm Conselho Municipal de Esporte ativo.

Como nos dados levantados em 2013, o orçamento das secretarias de esporte e a função "desporto e lazer" (que pode englobar outras secretarias) estão abaixo de 1% do total executado pelo município (com exceção do Rio de Janeiro na função "desporto e lazer", com 1,6%).

Segundo a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer do Rio (SMEL), cidade que não participou do primeiro ano do levantamento, a diferença apontada no relatório não se trata necessariamente de redução orçamentária. Os números de 2013, 2014 e 2015, na verdade se equivalem.

"O fato é que em 2013 houve a antecipação de alguns pagamentos previstos para o cronograma de 2014. Por isso, fica a impressão de que em 2013 a SMEL recebeu um valor maior que em 2014, quando na verdade, em 2014 houve o desconto dos pagamentos que foram antecipados no ano anterior".

A Folha não recebeu respostas das outras cidades até a conclusão desta edição.

Marcos Mesquita/Atletas pelo Brasil
Daniela Castro, diretora executiva da Atletas pelo Brasil
Daniela Castro, diretora executiva da Atletas pelo Brasil

PONTOS POSITIVOS

Há destaques positivos no relatório, como Porto Alegre, que possui 100% das escolas com pátio externo e quadra poliesportiva externa.

"Há uma tendência da escola integral, da utilização desses espaços no contra turno. A gente acredita que esta é uma ferramenta que deve ser mais bem explorada", explica Silvia Gonçalves.

Apenas cinco cidades responderam sobre escolas com acessibilidade, e a média é de 33,67%. O destaque é Curitiba, com 100% das escolas.

São Paulo se destaca em relação às ciclovias e ciclofaixas permanentes. As seis cidades que responderam a esse indicador em 2013 e 2014 apresentaram uma expansão, mas a capital paulista, assim como Salvador, mais que as triplicou em extensão.

Dos dez municípios que responderam sobre compartilhamento de bicicletas, sete possuem o programa. Destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, com mais de 2.000 bicicletas disponíveis cada.

A participação da população em atividades físicas e esportivas monitoradas oferecidas pelas cidades é maior na faixa etária de 15 a 17 anos e com maior número de mulheres participantes.

Marcel Merguizo/Folhapress
Garotos nadam em campo de futebol de areia que ficou alagado devido as chuvas em Natal, durante a Copa do Mundo de 2014
Garotos nadam em campo de futebol de areia que ficou alagado devido à chuva em Natal, próximo à Arena das Dunas, durante a Copa do Mundo de 2014

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