Folha de S. Paulo


Empresa dona da Gillette deixa de patrocinar a CBF

A multinacional norte-americana P&G rompeu contrato de patrocínio com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) após os escândalos de corrupção revelados desde maio deste ano, quando José Maria Marin, ex-presidente da entidade, foi preso na Suíça. Na última quinta (3), o atual presidente eleito da confederação, Marco Polo Del Nero, pediu licença do cargo após ter seu nome incluído em lista de dirigentes indiciados pelas autoridades dos Estados Unidos.

A Folha apurou que a empresa rescindiu, em junho, o contrato que iria até 2019 com a confederação para a exibição da marca Gillette.

A alta do dólar pesou na decisão –o acordo previa pagamentos com base na moeda americana–, e o envolvimento da CBF nos esquemas de propina revelados pelo Departamento de Justiça dos EUA definiu a posição da empresa para romper a parceria.

Há pelo menos um ano a empresa tentava alterar pontos do acordo, diminuindo valores. O marketing da confederação não topou mudar.

A Gillette foi a patrocinadora oficial da Brasil Global Tour, série de amistosos que a seleção faz ao redor do mundo. Desde agosto de 2014, a Chevrolet, ocupou esse lugar, mas a empresa da P&G seguiu como parceira da CBF até junho de 2015.

O apoio previa ajuda às seleções masculinas sub-17, sub-20 e sub-23 e à feminina.

CBF MINIMIZA SAÍDA

Procurada, a P&G disse que não poderia comentar os motivos do fim da parceria.

A CBF, por sua vez, respondeu que a "movimentação de patrocinadores é natural, em especial no quadro de instabilidade econômica no qual vive o país. Ao mesmo tempo em que lamenta a relevante perda do apoio da P&G, a CBF sente-se privilegiada por ter recentemente conquistado outros importantes parceiros e reafirma a certeza de que a seleção brasileira está entre os melhores investimentos do esporte mundial".

Afirmou ainda que "a P&G vem propondo há cerca de um ano renegociações contratuais consideradas inviáveis pela entidade e que, portanto, a descontinuidade da parceria não guarda nenhuma relação com o quadro político existente."

SILÊNCIO DE PARCEIROS

A maioria dos patrocinadores da CBF evita se pronunciar sobre os denúncias de corrupção na entidade.

A Folha procurou todos que têm contratos com a entidade ou que apoiaram a confederação de alguma forma em 2015. Seis delas informaram que não iriam comentar. Outras disseram que repudiam qualquer ato ilícito e que valorizam a ética e a transparência, mas não relataram qualquer questionamento feito à confederação.

O comportamento é diferente do adotado pelas empresas parceiras da Fifa.

No início de outubro, Coca-Cola, Visa, McDonald's e Budweiser pediram pela primeira vez a saída da presidência da entidade de Joseph Blatter, também sob denúncias de irregularidades.

Nesta semana, as empresas voltaram a pressionar a Fifa por mais transparência e pela retomada de seu compromisso com o desenvolvimento do futebol.

Entre as parceiras da CBF que a Folha contatou, Ambev (Guaraná Antarctica), Ultrafarma, General Motors (Chevrolet), Gol e Samsung não quiseram comentar.

O Itaú disse que "todas as medidas em prol da transparência e boas práticas de governança corporativa são fundamentais e serão sempre valorizadas pelo Itaú".

A EF Englishtown afirmou "manter o respeito pela CBF que, conforme informado publicamente, está apoiando as investigações".

"Dessa forma, a EF Englishtown reforça o seu compromisso ético de transparência e confiança perante seus parceiros e consumidores."

A Vivo afirmou que "patrocina a seleção brasileira de futebol porque acredita no poder do esporte como forma de conexão e repudia qualquer comportamento ilícito e/ou que não esteja adequado aos valores e princípios de atuação da empresa".

Já a Nike disse que "acredita em ética e fair play, tanto nos negócios como no esporte, e repudia fortemente toda e qualquer forma de manipulação ou propina".


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