Perto de completar um ano como técnico do Corinthians em sua terceira passagem, Adenor Bachi, o Tite, já deu mais de 120 entrevistas ao longo de 2015.
Após o título do Brasileiro, o treinador gaúcho de 54 anos recebeu a Folha, mas desta vez foi convidado para um jogo, um desafio jornalístico.
As regras eram simples: perguntas rápidas para respostas curtas. Ele tinha 15 segundos para responder a cada uma delas, com direito a pular três questões.
Tite entrou no jogo.
Respeitou o limite de tempo, com exceção de quatro momentos: ao falar sobre a mulher, Rosmari; o momento mais marcante do ano; o ex-jogador Zico; e o filme "Um Domingo Qualquer", com o ator Al Pacino.
Só pediu para pular um tema, "uma loucura". Mas retomou o assunto no final.
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Campeonato Brasileiro
Uma realização. Beleza, vitória e encanto.
2015
[Me marcaram o título] do Brasileiro com o futebol apresentado no Paulista e na Libertadores.
2014 [Aguardando convite para comandar a seleção brasileira, tirou ano sabático para se aprimorar]
Aprendizado. Inquietude do saber.
2013 [Foi campeão paulista e fez boa campanha na fase de grupos da Libertadores, mas não conseguiu classificação para o torneio continental no Brasileiro]
Primeiro semestre lindo. No segundo, não encontrava solução.
2012 [Conquistou a Libertadores e o Mundial de Clubes, ambos no comando do Corinthians]
O clímax, o máximo que um profissional pode atingir.
2016
Não sei. Mais forte, modificado. Tomara que para melhor.
Seleção brasileira
Torço.
Marco Polo Del Nero [Presidente da CBF é investigado por suspeita de participação em esquema de corrupção no futebol]
Não falo.
José Maria Marin [Ex-presidente da CBF, está em prisão domiciliar nos EUA e também é acusado de participação no esquema]
Não falo. Tenho opinião sobre os dois, mas não falo.
Dinheiro
Secundário. Importante, mas não é o principal. Realização profissional vem antes.
Família
Base. Sustentação. Amor.
Vestiário
Sagrado. Respeito. Sensibilidade.
Religião
Católico, e Deus é Deus de todos.
[Esquema tático] 4-1-4-1
[Risos] Ainda bem que eu parei em 2014 para estudar. Ele é agressivo, criativo. Claro que você precisa das peças também. Estou com sorriso de orelha a orelha.
[Esquema tático] 4-2-3-1
Passou o momento. Bom, mas de lado.
[Esquema tático] 4-2-4
Desequilíbrio.
Carlo Ancelotti [ex-técnico do Real Madrid, atualmente sem clube]
Meu exemplo de perfil de liderança. Mais discreto. Colocando equipe e trabalho na frente do seu lado pessoal. Não é estrela. Faz parte do conjunto.
José Mourinho [técnico do Chelsea]
Estrela.
Carlos Bianchi [técnico argentino, atualmente sem clube]
Aprendizado e sabedoria.
Josep Guardiola [ex-técnico do Barcelona, atualmente no Bayern de Munique]
Estrela também.
Jurgen Klopp [ex-técnico do Borussia Dortmund, atualmente no Liverpool]
Gosto do perfil e do estilo. Ele tem a sutileza de parecer estrela, mas com autenticidade.
Dunga
Grande profissional.
Felipão
Campeão do Mundo. Respeita-se sempre.
Mano Menezes
Grande profissional.
7 a 1
Muito batido. Falta de criatividade nas análises. Muito mais importante é encontrar uma forma de ser do que avaliar o resultado.
6 a 1
Atípico, circunstancial.
Uma frustração
(Silêncio de alguns segundos) O demorar em te responder mostra que eu tenho muito mais alegrias do que coisas a lamentar. A saída do Juventude [Tite treinou o clube gaúcho em 1997, mas não obteve sucesso]. Meu pai torcia e se identificava. Eu não consegui ficar e eu acho que ele queria que eu tivesse ficado mais tempo.
Uma decepção
Pedidos de trocas de favores. Propostas de desonestidade que eu tive ao longo da carreira.
Uma alegria
A forma com que as conquistas dos títulos aconteceram. E a minha família perto.
Libertadores
Encanto.
Liga dos Campeões
A visibilidade maior. Não com grau de dificuldade menor do que o que nós encontramos na Libertadores.
Mundial
O trabalho mais de marketing. A visibilidade que dá.
Copa do Mundo
Os melhores. Excelência. Emoção. Qualidade. Um sonho.
Europa
Comparações injustas em termos de futebol. Por serem realidades diferentes.
Andrés Sanchez [ex-presidente do Corinthians; atualmente é superintendente de futebol do clube]
Gratidão.
Mario Gobbi [ex-presidente do Corinthians]
Respeito.
Roberto de Andrade [Roberto de Andrade]
Lealdade, amizade, cumplicidade, troca de alegrias. Passou três anos e meio comandando o futebol. Agora, como presidente também foi determinante no meu retorno.
Alberto Dualib [ex-presidente do Corinthians]
Respeito grande. Carinho. Foi o primeiro presidente com quem eu estive e me abriu as portas no Corinthians.
Arena Corinthians
Ferve, pulsa. Treme. Amedronta a quem não conhece e a quem conhece também. Adrenalina.
Pacaembu
Emoção e saudades.
Ronaldo fenômeno
Gratidão, admiração. E desejo de ter trabalhado com ele mais "fininho" um pouco.
Jadson
Luz, talento, criatividade. Inusitado. Visão 3D.
Renato Augusto
[Risadas] Todos esses mesmos adjetivos. Para os dois, dividido. Os mesmos atributos [risadas]. Um mais passador, o outro mais da jogada individual, do um contra um, que é o Renato Augusto. Essa é a diferença de um para o outro.
Um jogo
Difícil e decisivo: Joinville, lá [o Corinthians vivia seu pior momento no Brasileiro, com duas derrotas seguidas, e conseguiu vencer por 1 a 0]. Apresentação sublime: contra o Santos, 2 a 0 [o time teve boa atuação em clássico decisivo para o Brasileiro-2015 e venceu o rival pela primeira vez na temporada].
Um momento do ano
Quando João Marcos veio visitar a gente em um jogo. É um rapaz com uma doença [esclerose lateral amiotrófica] e foi nos assistir da cama dele de hospital. O sonho dele era assistir ao Corinthians. Eu recebi dele um terço, que guardo comigo. Ele não fala, mas fala com os olhos. O doutor que estava com ele disse que ele ora por mim a cada vez que eu estou no banco.
Uma pessoa
Minha esposa. É amor, cumplicidade e parceria. Um dia, ela me mostrou uma figura emblemática. Me trouxe uma foto com dois velhinhos, e o velhinho está emburrado. Ela disse assim: 'É assim que nós dois vamos ficar'. Mas ele estava segurando o guarda-chuva para os dois. E ela disse: 'A gente vai estar brigado, assim, mas vai estar junto'. Falou rindo.
Um ano
Dois anos, quando meus filhos nasceram [Matheus em 1988 e Gabriele em 1994].
Um jogador
Não dá. Vou pular essa. Seria um de cada clube. Pula, pula... Calma aí, vou responder. Um jogador é o Zico, fundamental na educação do meu filho. Um dia, ele chegou e falou: "Pai, fulano é meu ídolo". Eu disse a ele: "Filho, ídolo é uma coisa, craque é outra, ele não é exemplo fora de campo. Zico é exemplo". Ele me ajudou a educar meu filho. Não vou falar de quem meu filho estava falando.
Uma frase
Inquietude do saber e merecimento.
Uma mágoa
Eu queria modificar em mim a questão de demorar muito para desculpar as pessoas. É um defeito que eu tenho.
Uma loucura
Tem muitas, mas não posso falar [risadas]. Pulo.
Uma bronca
Em Pato, depois do pênalti contra o Grêmio [Atacante perdeu pênalti decisivo das quartas de final da Copa do Brasil de 2013, contra o Grêmio, após fazer cobrança com cavadinha. Corinthians acabou sendo eliminado]
Desculpado?
Foi circunstancial. Ele sabe disso. Depois, amadureceu e cresceu.
Uma preleção
Antes do jogo contra o Chelsea [na final do Mundial, no Japão]. Foi uma reunião, não preleção. Lutei minha vida toda para chegar àquele momento e ninguém vai me dizer que não posso chegar. Falei isso, mas com outro tom de voz e outro semblante.
Um livro
O último que eu estou lendo. A biografia do Ancelotti, "Sencillez Ganadora" [Simplicidade Vencedora, em espanhol].
Um filme
"Um Domingo Qualquer", com Al Pacino. Quem não viu tem que ver. Ele dá uma palestra no vestiário, que é impressionante. Existem princípios de superação. É um momento iluminado do Al Pacino. Ele reproduz exatamente o que é o esporte.
Caipirinha
Com vodca, porque com cachaça é muito forte [risadas]. E com limão.
Vinho
Apesar de ser descendente de italiano, eu digo que sou meio fajuto. Não gosto muito de vinho, não gosto muito de massa. Eu sou do arroz feijão e da caipirinha.
Chope
Para contrabalançar depois da caipirinha.
Água
No dia seguinte [risadas], para controlar o peso.
Uma satisfação ao recuperar um jogador
Não só recuperação. Mas o crescimento, a afirmação, o ressurgimento. O Rodriguinho, como ressurgimento. Renato e Jadson como afirmações. Surgimento e afirmação de Arana e Malcom. Retomada de Malcom. Love, recuperação física e técnica. Felipe, crescimento impressionante. Gil agregou qualidade técnica com concentração. Fagner impressiona.
Só pulou a loucura...
Deixa essa loucura a critério de quem está lendo. Toda essa loucura que você leitor está pensando, eu tenho também.