Folha de S. Paulo


Toque português faz da Fiorentina a dona da bola na Itália

Luca Zennaro/Efe
. Genoa (Italy), 08/11/2015.- Fiorentina's coach Paulo Sousa gestures at the end of the Italian Serie A soccer match UC Sampdoria vs ACF Fiorentina at Luigi Ferraris stadium in Genoa, Italy, 08 November 2015. (Génova, Italia) EFE/EPA/LUCA ZENNARO
Técnico da Fiorentina, o português Paulo Sousa comemora após jogo pelo campeonato italiano

Nem Juventus, nem Milan, nem Inter de Milão. Disputadas 12 rodadas, ou quase um terço do campeonato, quem lidera o Italiano é a Fiorentina.

Desde 1999, quando o argentino Gabriel Batistuta comandava o ataque, que tinha também o brasileiro Edmundo (o Animal), a equipe de Florença não sabia o que era atingir o topo da tabela, ser protagonista no calcio.

A razão para isso ocorrer tem nome: Paulo Sousa. A chegada do treinador português, no início desta temporada, elevou a Viola - como é chamada a Fiorentina, devido à cor violeta de seu uniforme - a um outro patamar.

Nas três temporadas anteriores, a partir do momento em que Vincenzo Montella assumiu a prancheta, a Fiorentina já tinha conseguido uma melhora significativa: em 2012-2013, quarta colocada; em 2013-2014, quarta colocada; em 2014-2015, quarta colocada.

Não é erro. A quarta posição se tornou "a" posição da Fiorentina na Série A, sempre à beira de se classificar para a Liga dos Campeões. Ou seja, evoluiu com Montella (em 2011-2012, tinha ficado na modesta 13ª colocação), mas também estagnou.

Montella, 41, teve o mérito de ampliar a posse de bola da Viola, que antes dele trocava em média pouco mais de 400 passes por partida. Passaram a ser 500, conforme dados do whoscored.com, site especializado em estatísticas.

Só que para analistas a Fiorentina de Montella (ex-atacante da Roma e da seleção italiana) era considerada pouco pragmática. Muito toquinho, pouca objetividade. O chamado futebol horizontal.

Neste ano, Montella desentendeu-se com a diretoria da Fiorentina e foi afastado.

Entra em cena Paulo Sousa, 45, um ex-meia que desfilou seu talento por Juventus de Turim e Borussia Dortmund nos anos 1990, conquistando a Liga dos Campeões pelos dois times.

No currículo como treinador, títulos com o Videoton (Copa da Liga e Supercopa da Hungria, em 2012), o Maccabi Tel Aviv (Israelense, em 2014) e o Basel (Suíço, neste ano).

Com Sousa, uma mistura de estrategista e motivador, a Fiorentina ampliou sua posse de bola, passando a trocar 26% mais passes por jogo do que na era Montella, considerando apenas o Italiano - a equipe também disputa a Liga Europa.

São 630 passes por partida, em média, com aproveitamento de 88%, os melhores números na elite do futebol na Itália. O Napoli, segundo da lista, troca 604 passes por jogo (84% deles certos).

O tempo da Fiorentina com a bola nos pés ultrapassa os 60%, havendo jogos em que a marca quase atingiu 70%, estando no nível de um Barcelona ou de um Bayern de Munique.

Em 11 dos 12 confrontos no Italiano a equipe de Florença ficou com a bola mais minutos que o oponente.

O tiki-taka (sistema de jogo de passes curtos e movimentação constantes) florentino, na visão de Sousa, é essencial para a conquista do scudetto. "Temos de ter a ideia de controlar os jogos e, se fizermos isso, podemos competir até ao fim", diz o treinador.

Só que, além de dominar os adversários, a Viola se mostra mais precisa e goleadora. Sousa empreende um processo, que está em andamento, de verticalização do futebol do time.

A quantidade de finalizações na comparação das gestões é similar (média de 16 por jogo). Com Montella, a porcentagem de arremates na direção do gol era de 32%; com Sousa, a pontaria subiu para 33,5%. E se a média de gols com o italiano foi de 1,7 gol por partida, com o português está em 2.

Mais que números, Sousa enaltece a mentalidade. Quer fazer os jogadores acreditarem que o time é capaz de derrotar qualquer adversário, seja no estádio Artemio Franchi, em Florença, ou fora dele.

Jogadores comuns, que sempre estiveram longe da fama. Os destaques são o atacante Kalinic (croata de 27 anos, artilheiro do time com sete gols) e os espanhóis Marcos Alonso (ala esquerdo de 24 anos que esbanja vigor) e Borja Valero (meia de 30 anos, a cabeça pensante).

Valero mostra-se um entusiasta do estilo direto do comandante: "Sousa fala qualquer coisa, para qualquer um, a qualquer hora. Na cara. Diz para acreditarmos em nós mesmos, que somos fortes e podemos superar qualquer um". O atleta passou a mensagem de que Montella era menos focado.

"Penso exclusivamente nos meus jogadores. Quero vê-los sempre crescendo taticamente", afirma o português.

Taticamente, a Fiorentina vai muito bem. Individualmente, seus jogadores têm se superado.

Nas vitórias (nove), a equipe convenceu, passando com autoridade por Milan (2 a 0) e Inter (4 a 1), por exemplo. Nas derrotas (três), mostrou-se competitiva - duas delas, contra os fortes Napoli e Roma, foram por 2 a 1.

A disputa é acirrada. A Fiorentina lidera com 27 pontos. A Inter tem os mesmos 27. A Roma está com 26, e o Napoli, com 25. O Milan soma 20, e a Juventus, atual tetracampeã, 18.

Para Sousa, o título é possível, e a torcida da Fiorentina também passou a acreditar que um longo jejum possa chegar ao fim.

Na última vez que a Viola conquistou o Italiano, Amarildo, o Possesso, campeão com o Brasil na Copa de 1962, no Chile (quando brilhou como substituto de Pelé), fazia parte do elenco.

Era 1969 - 46 anos atrás.


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