Folha de S. Paulo


Entenda o escândalo de doping que pode tirar o atletismo russo da Rio-16

O escândalo estatal de doping na Rússia abalou o esporte mundial nesta segunda-feira (9) e promete repercutir nas próximas semanas.

O caso pode se tornar o maior desde a criação da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), em 1999.

Nesta terça-feira, as primeiras consequências foram sentidas. A Wada descredenciou o laboratório de Moscou, acusado de ter acobertado testes positivos. Ele não pode, até reaver a certificação, conduzir testes antidoping.

Além disso, o COI (Comitê Olímpico Internacional) afirmou que pedirá à Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) abrir processo disciplinar para punir, até mesmo com cassação da medalha olímpica, atletas russas implicadas no caso.

Confira abaixo algumas perguntas e respostas para entender o caso:

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Como a investigação começou?
A Wada (Agência Mundial Antidoping) decidiu criar uma comissão independente para investigar as irregularidades denunciadas no documentário "Top Secret Doping: How Russia makes its Winners" ("Doping Secreto: Como a Rússia faz seus Vencedores"), levado ao ar pelo canal alemão ARD em dezembro de 2014. Richard Pound, ex-presidente da Wada e ex-vice do COI (Comitê Olímpico Internacional), foi escolhido para chefiá-la. Outros componentes da comissão são Günter Younger e Richard McLaren. Os três coordenaram um estafe investigativo, cujos trabalhos tiveram início no final do último ano.

Sobre o que falava o documentário?
A produção se baseou em depoimentos de um ex-funcionário da agência antidoping da Rússia e de sua mulher, Yulia Stepanova, uma corredora de 800 m de nível internacional. Ambos contaram que o sucesso de seu país no atletismo só era possível devido a uma rede que incentivava a dopagem em larga escala. Yulia gravou diversas conversas e vídeos com outras atletas que confessaram ou indicaram terem se valido de substâncias ilícitas para obter resultados. Tudo serviu como evidência para a investigação, que posteriormente também entrevistou alguns dos acusados.

Como a comissão independente procedeu?
O grupo, que se reportava à Wada, entrevistou autoridades, técnicos e atletas russas, visitou laboratórios do país e obteve dados de exames antidoping. Por fim, concebeu o relatório de 323 páginas que foi apresentado em Genebra, na Suíça, nesta segunda-feira (9). A investigação durou cerca de 12 meses.

Fabrice Coffrini/AFP
Membro da Wada distribui relatório do caso de doping da Rússia para jornalistas
Membro da Wada distribui relatório do caso de doping da Rússia para jornalistas

O que diz o relatório?
O documento recomenda a expulsão do atletismo russo de todos os eventos internacionais, inclusive dos Jogos do Rio-2016, até que se regularize o controle antidoping. Também afirmou que 1.417 amostras foram destruídas pelo laboratório de Moscou com anuência do diretor do local, Grigory Rodchenko. Mais: o laboratório de Sochi, palco dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, teve presença constante de agentes do serviço secreto FSB (órgão que sucedeu a KGB), que teriam intimidado o estafe. Além disso, a agência antidoping russa (Rusada, na sigla em inglês) foi conivente com ilicitudes. Além disso, Pound indicou que "seria inconcebível" o ministro do Esporte do país, Vitaly Mutko, não ter ciência dos acontecimentos.

Há atletas envolvidos?
Sim. Até agora, cinco nomes foram divulgados, todos de mulheres: Mariya Savinova, ouro nos 800 m nos Jogos de Londres-2012, Ekaterina Poistogova, bronze na mesma prova, Anastasiya Bazdyreva, Kristina Ugarova e Tatyana Myazina. Além delas, cinco técnicos estão implicados. A comissão independente alerta que mais competidores estão envolvidos.

Medalhas conquistadas pela Rússia

Quais as consequências até agora?
Nesta terça (10), o laboratório de Moscou foi descredenciado pela Wada como apto a processar análises de acordo com o padrão internacional. A Interpol disse que vai coordenar uma ação global contra corrupção e doping. O presidente da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) deu até o final de semana para a Federação de Atletismo da Rússia responder às acusações. A Iaaf terá uma reunião de conselho no final do mês, em Monte Carlo, onde deve deliberar sobre uma sanção aos russos. O COI pediu à Iaaf abrir processo disciplinar que pode resultar na cassação das medalhas olímpicas das atletas implicadas no processo.


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