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Rio ergue arena 'secreta' para disputa do boxe na Olimpíada

Felipe Hanower/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, 29.10.2015: CONSTRUÇÃO PAVILHÃO 6 / RIO CENTRO / OLIMPÍADAS - A construção do pavilhão 6 no Riocentro, que vai sediar as competições de boxe na Olimpíada. Em obras há quase dois meses, a arena não consta na Matriz de Responsabilidades, documento oficial que descreve as obras dos Jogos. (Foto: Felipe Hanower/Folhapress, FSP-COTIDIANO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Pavilhão 6, que vai sediar as competições de boxe na Olimpíada, está em obras há quase dois meses

Operários estão há dois meses no canteiro de obras. O projeto está desenhado desde março deste ano. A edificação, que custará R$ 50 milhões, ocupa uma área de 7.200 metros quadrados e terá uma altura de 15 metros.

Mesmo em estágio avançado, a construção do pavilhão 6 do Riocentro, sede da competição de boxe na Olimpíada de 2016, não consta na Matriz de Responsabilidades, documento que detalha projetos, custos e responsáveis por cada obra da Olimpíada.

No "Diário Oficial", o contrato da obra foi publicado de forma que impedia a identificação clara do acordo, fechado sem licitação.

Em agosto, a Folha revelou que governos omitiram mais de R$ 400 milhões em gastos com os Jogos na atualização da Matriz. A ausência do pavilhão 6 do Riocentro, cuja identificação não era possível à época, é o primeiro caso de ocultação de gasto com uma arena.

Com ela, o gasto com obras para a Olimpíada não registrada nos documentos oficiais chega a R$ 489 milhões. O custo oficial dos Jogos é, até o momento, R$ 38,7 bilhões.

A Prefeitura do Rio disse que ela não foi incluída porque a obra ainda não havia começado. O município afirmou que o projeto estará na próxima atualização do documento, em janeiro de 2016.

Desde a sua primeira divulgação, em janeiro de 2014, a Matriz apresenta tanto obras concluídas como projetos ainda sem custo definido. O objetivo é justamente dar transparência em relação à evolução das construções e seu custo, quando disponível.

A Matriz foi criada pela APO (Autoridade Pública Olímpica) como forma de prestação de contas à sociedade sobre o prazo das obras e seus custos. Ela também é usada como orientador para a fiscalização de órgãos de controle, como o TCU (Tribunal de Contas da União). A omissão dificulta cobranças sobre eventuais atrasos ou estouro de custo.

Segundo a Folha apurou, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) tem evitado incluir na Matriz obras sem custo. O objetivo é apresentar a Matriz sempre com projetos próximos de conclusão. Na data da última divulgação, em agosto, a arena de boxe já tinha preço estimado, mas a obra ainda não havia começado.

Com conclusão prevista para março de 2016, o espaço não vai sediar nenhum evento-teste dos Jogos. O torneio internacional de boxe está previsto para acontecer no pavilhão 4 do Riocentro, entre 4 e 6 de dezembro deste ano. São esperados 78 atletas de 40 países.

Felipe Hanower/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, 29.10.2015: CONSTRUÇÃO PAVILHÃO 6 / RIO CENTRO / OLIMPÍADAS - A construção do pavilhão 6 no Riocentro, que vai sediar as competições de boxe na Olimpíada. Em obras há quase dois meses, a arena não consta na Matriz de Responsabilidades, documento oficial que descreve as obras dos Jogos. (Foto: Felipe Hanower/Folhapress, FSP-COTIDIANO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Obras do Pavilhão 6, que vai sediar as competições de boxe nos Jogos do Rio

ACORDO

A prefeitura fechou acordo sem licitação com a francesa GL events, concessionária do Riocentro, que vai pagar a obra. Ela será concluída em março de 2016.

Em troca, a empresa teve a concessão da Arena Olímpica do Rio, que também administra, quadruplicada. O contrato que terminaria no ano que vem foi estendido por 30 anos, vencendo em 2046.

Além da construção do novo pavilhão no Riocentro, a empresa vai modernizar a infraestrutura do centro de convenções, palco de quatro modalidades olímpicas, e da Arena, sede da ginástica nos Jogos de 2016. O total a ser investido é R$ 72 milhões.

No "Diário Oficial" do município, o acordo foi oficializado com três publicações com duas linhas cada em três dias diferentes. Eles não informam o assunto, o nome da empresa e sequer a obra a ser executada. Indicam apenas o número do processo e a existência de um aditamento à concessão -sem detalhar as mudanças.

A intenção inicial era que a arena de boxe fosse uma instalação temporária. O CEO da GL events, Arthur Repsold, disse que em março foi definido como melhor opção um pavilhão permanente.

"Uma instalação temporária com 15 metros de pé direito tem uma fundação igual a uma permanente para poder resistir ao vento. O custo estava quase igual, então a prefeitura decidiu investir em algo que ficasse como legado", disse Repsold.

De acordo com o executivo, a negociação vem desde o ano passado. Ele afirma que o acordo foi concluído "entre fevereiro e março".

Detalhes burocráticos fizeram com que o contrato só fosse oficializado em 3 setembro deste ano.

Gastos secretos da Rio-2016

OUTRO LADO

A Prefeitura do Rio afirmou, via assessoria de imprensa, que a construção do novo pavilhão do Riocentro, sede das competições de boxe na Olimpíada de 2016, estará descrita na Matriz de Responsabilidades na próxima atualização, em janeiro.

O município afirmou que ela não foi incluída na última atualização, apresentada em agosto, porque o acordo com a GL events, responsável por custear a obra, ainda não havia sido assinado.

A Folha apurou que o projeto e a estimativa de custos estavam, contudo, definidos desde março. A Matriz, que descreve as obras ligadas aos Jogos e seus preços, prevê inclusão de projetos desde o início da confecção da proposta básica, ainda que sem definição de gasto.

Em agosto, quando a Folha revelou a omissão de mais de R$ 400 milhões em obras olímpicas em documentos dos Jogos, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), reconheceu a possibilidade de existir uma "contabilidade paralela". À época, ele afirmou que alguns dos itens apontados se tratavam de "custos marginais".

O secretário municipal de Concessões e Parcerias Público Privadas, Jorge Arraes, afirmou que o município só "é obrigado a publicar o extrato do contrato".

A publicação no "Diário Oficial" não descreve o local da obra e os termos do acordo. Questionado, o município não explicou porque decidiu não fazer licitação para a realização da obra.

O CEO da GL events, Arthur Repsold, disse que o acordo foi fechado após "negociação pesada da prefeitura". "Não era um investimento que estava no nossos planos. Ela fez uma negociação forte para que assumíssemos os custos", afirmou.

Compare os gastos da Rio-2016


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