Folha de S. Paulo


Pacto pelo Esporte faz confederações se reunirem para manter patrocínios

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Atletas e empresários se reúnem no lançamento do Pacto pelo Esporte, no Instituto Tomie Ohtake, em SP
Atletas e empresários se reúnem no lançamento do Pacto pelo Esporte, no Instituto Tomie Ohtake

Lançado nesta quarta-feira (28) com 20 empresas signatárias, o Pacto pelo Esporte –acordo privado que autorregula os investimentos no setor– abre a partir de agora um novo caminho para o patrocínio esportivo no país.

E se clubes, federações e confederações não se adaptarem em até dois anos, as companhias que assinaram o documento não devem renovar ou celebrar novos contratos com os patrocinados.

"Não assinamos por assinar. Vamos mudar essa relação, conversar com nossos parceiros e cumprir o Pacto. Esse é um passo prático, uma ação para mudar o esporte brasileiro", afirma Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente dos Correios, patrocinador de confederações nacionais como a de desportos aquáticos, handebol e tênis.

A Folha apurou que algumas confederações olímpicas do Brasil já estão se reunindo e conversando sobre como vão se adaptar a essa nova realidade para não perder seus patrocinadores.

Uma cartilha, a criação de indicadores e um guia passo a passo para ajudar essas entidades já estão sendo preparados pela organização Atletas pelo Brasil e o Instituto Ethos para ajudar as entidades a entender este acordo, inédito em todo o mundo.

Uma reunião com as confederações também deve acontecer até o fim do ano.

Cerca de 20 entidades enviaram representantes ao evento desta quarta. Entre eles, esteve presente o presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, Stefano Arnhold, representantes das confederações de rúgbi, atletismo, basquete, desportos aquáticos, handebol, ciclismo, da Federeção Paulista de Futebol e o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello.

"O Flamengo já está em condição de ser patrocinado por todas estas 20 empresas, só vai faltar espaço na camisa. Devemos ser o único clube, hoje, nessa condição", diz o presidente do Flamengo.

O pacto tem itens baseados na lei anticorrupção, em vigor no país desde janeiro de 2014, e nas alterações de 2013 da Lei Pelé, que limitaram mandatos de cartolas e obrigaram as entidades a terem maior participação de atletas em suas decisões.

Assim, o acordo visa estabelecer e unificar regras mais rigorosas de gestão, integridade e transparência e impô-las a confederações, federações e clubes que recebem dinheiro por meio de patrocínios. Empresas também terão de seguir normas descritas nas dez cláusulas do acordo.

Das 25 empresas que participaram desde de agosto do ano passado do grupo de trabalho que elaborou o Pacto, 20 já o assinaram. O que representa ter aproximadamente 60% das companhias que investem em esporte no país atualmente como signatárias.

À Folha, idealizadores do Pacto disseram que a expectativa é que cerca de 35 empresas assinem o acordo em breve. O que significaria a maior partes dos grandes patrocinadores do Brasil.

'DIA HISTÓRICO'

Muitos dos empresários e idealizadores envolvidos no Pacto trataram a quarta-feira (28) como um marco na história do esporte nacional.

O ministro do Esporte, George Hilton, disse que é um "dia histórico" para o país. Ele anunciou que uma portaria será publicada nos próximos dias e fará com que todas as entidades que quiserem receber apoio do governo via Lei de Incentivo precisarão se enquadrar nas práticas de boa gestão, governança e transparência contidas no Pacto para receberem o dinheiro das empresas, independentemente destas serem signatárias do acordo.

"É mais do que um documento, é um legado único para o esporte que as empresas vão deixar", afirma Daniela Castro, diretora executiva da Atletas pelo Brasil, responsável pela iniciativa ao lado do Instituto Ethos e da entidade empresarial Lide Esporte.

Segundo Paulo Nigro, presidente da farmacêutica Aché e do Lide Esporte, antigamente, os critérios para patrocinar uma entidade eram a mídia espontânea que ela gera e os atletas notáveis que tem.

"Hoje, além disso, tenho que me preocupar com a segurança jurídica. Não podemos correr o risco de estar com uma entidade envolvida em corrupção", diz.

Uma das confederações envolvidas em escândalos recentemente foi a de vôlei, que teve inclusive pagamentos de seu principal patrocinador suspensos por um período.

De acordo com a gerente executiva do Banco do Brasil, Karen de Rezende Machado, os pagamentos estão feitos normalmente hoje e um aditivo feito no contrato de patrocínio entre a CBV e a empresa, em janeiro deste ano, já deixou o acordo bem próximo do modelo do Pacto.

"Desde o início começamos a rediscutir e colocar cláusulas de melhoria de gestão nos contratos. O último contrato está suficientemente bom para o que a gente espera da CBV. Hoje está muito profissional", diz a gerente do banco, que tem contrato com o vôlei até 2017, além de apoiar o handebol nacional e outros atletas olímpicos.

"As empresas tiveram uma coragem muito grande de assumir e constituir esse Pacto. É um momento emocionante e um convite para as que estão estudando se unirem a nós", diz o empresário João Paulo Diniz.

*

Confira as empresas que assinaram o pacto:

Aché

Banco do Brasil

Bradesco

BRF

Carrefour

Centauro

Coca-Cola

Construtora Passarelli

Correios

Decathlon

Estácio

Ernst&Young

GOL Linhas Aéreas

Itaú/Unibanco

Johnson & Johnson

McDonald's

P&G

Somos Educação

TAM

Vivo/Telefonica


Endereço da página:

Links no texto: