Folha de S. Paulo


Em livro, Giba diz que Ricardinho foi cortado da seleção por indisciplina

Divulgação/FIVB
Giba e Ricardinho festejam vitória do Brasil sobre a Polônia e classificação à final da Liga Mundial de 2007
Giba e Ricardinho festejam vitória do Brasil sobre a Polônia e classificação à final da Liga Mundial-2007

"O maior segredo do vôlei brasileiro" está revelado. É assim que o campeão olímpico e tri mundial de vôlei Giba, 38, define o corte do levantador Ricardinho, 39, em sua biografia "Giba Neles!" (Globo Livros, 184 págs.).

O livro, a ser lançado nesta quinta-feira (29), traz detalhes das semanas que antecederam os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, quando Ricardinho foi cortado da seleção, na véspera da competição, surpreendendo a todos.

No capítulo chamado "Aprendizado na Rússia e a crise na Família Bernardinho", um dos 11 da biografia, Giba conta que o problema de relacionamento do então melhor levantador do mundo com o elenco e o técnico da seleção começou ainda na disputa da Liga Mundial, naquele ano.

Em Espoo, na Finlândia, o ex-ponteiro revela que, certa noite, antes do jogo contra os donos da casa, Ricardinho disse que ia abandonar a seleção. Uma conversa com todos os jogadores, no corredor do hotel, e, depois, uma com Bernardinho, fizeram o levantador mudar de ideia.

"Ricardo desistiu de ir embora. Ficou um clima de merda. (...) Pouco depois, Ricardo chamou Bernardinho para outra conversa a sós e pediu desculpas. Mas, naquele momento, o grupo inteiro já havia sido prejudicado. Todos tinham ficado acordados a madrugada inteira e o pedido de desculpas foi direcionado somente ao comandante", escreveu Giba.

Divulgação
Capa do livro
Capa do livro "Giba neles!"

O Brasil ganhou aquela Liga Mundial e Ricardinho foi eleito o melhor jogador do torneio. "Aqui, vale ressaltar a genialidade de Ricardinho. Em quadra, foi um monstro", definiu Giba no livro.

Na volta ao Brasil, porém, outro ato de indisciplina de Ricardinho teria sido crucial para o corte antes do Pan.

E não foi a discussão sobre a premiação, como noticiado à época, que definiu o futuro do atleta.

De acordo com Giba, como não era um evento realizado pela CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), "o presidente Ary Graça não queria pagar premiação. E o grupo foi unânime: sem premiação, ninguém jogaria."

Então, os atletas escreveram uma carta para entregar a Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Esta não foi entregue, após orientação de Marcus Vinicius Freire, superintendente da entidade. O dilema seguiu, mas a CBV, no fim, anunciou premiação em caso de título.

Com esta polêmica explicada, Giba explica o problema decisivo com Ricardinho, com quem deixou de falar nos anos seguintes ao corte.

Segundo Giba, os jogadores da seleção brasileira teriam três dias de folga antes da reapresentação no Rio para o Pan-2007.

No entanto, o voo que os traria da Europa para o Brasil atrasou, e eles perderam uma escala em Paris. Isso faria com que perdessem um dia de folga.

Ainda no avião, os atletas se reuniram e todos concordaram em se apresentar no dia marcado e ganhar uma folga depois. Menos Ricardinho.

"Eu e Serginho argumentamos com ele. E, embora não tivesse sido falado com a comissão técnica, todos ali perceberam que havia algo rolando", disse Giba.

"Ali, diante dos jogadores, vendo que todos estavam na mesma situação, e se negando a apresentar-se junto com os companheiros, Ricardinho perdeu, definitivamente, o respeito do grupo. A situação ocorrida na Finlândia já havia contribuído para isso", completa.

No dia 20 de julho de 2007, o grupo se apresentou no hotel. No dia seguinte, entraram na Vila do Pan. Ricardinho não apareceu. Giba diz que ainda conversou com Bernardinho sobre o futuro do levantador. "Bernardo, de fato, pensou até o último instante. O corte não era a única possibilidade". Não foi o que aconteceu.

"Ricardinho se apresentou no dia 21 de julho, praticamente 48 horas antes de nossa estreia, contra o Canadá. Imediatamente houve uma reunião com a presença de todos os jogadores e da comissão técnica. E ali, Bernardinho -e só ele- falou. Tomou a palavra e avisou que nosso capitão, um dos líderes do time, recém-eleito melhor jogador da Liga Mundial, estava cortado. Todos ficaram sem reação. Nenhum de nós abriu a boca. Não havia o que falar".

Giba ainda recorda que, na época, muito se falou sobre possíveis motivos do corte: "briga por premiação, nepotismo e muitas outras inverdades".

"Criou-se um tabu a respeito da situação. E nós, jogadores, resolvemos o problema como sempre fizemos: entre a gente", afirmou.

Giba Neles!
Luiz Paulo Montes e Giba
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"O corte de Ricardinho passou a ser tratado como 'o maior segredo do vôlei brasileiro'. Nunca houve segredo. Houve, sim, preservação de um grupo. Roupa suja se lava em casa. E foi assim que fizemos durante todos esses anos. Éramos, de fato, uma família, na qual todos brigavam por todos. Até chegar o momento em que um companheiro não brigou pelos outros."

Em contato com a Folha, Ricardinho disse que não vai comentar o assunto.

GIBA NELES!
AUTORES Giba e Luiz Paulo Montes
EDITORA Globo Livros
QUANTO R$ 29,90 (184 págs.)


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