Folha de S. Paulo


Dunga ensaia seleção 'mutante' em jogos das eliminatórias

Sem um time considerado ideal, com problemas de lesões em todas as convocações desde que retornou à seleção brasileira, em julho de 2014, e nos dois primeiros jogos das eliminatórias sem seu craque e capitão Neymar, Dunga tem optado por escalar o Brasil conforme joga o adversário.

A ideia parece simples, mas na seleção historicamente não é muito usada porque, geralmente, o treinador monta uma base, com foco nos talentos individuais.

Na Copa do Mundo de 2014, por exemplo, até a queda diante da Alemanha, Luiz Felipe Scolari só mexeu no time por lesão ou suspensão, com uma exceção: a troca de Paulinho, em má fase, por outro volante, Fernandinho.

O próprio Dunga, quando treinou o Brasil na Copa de 2010, na África do Sul, manteve o time-base do começo ao fim do torneio, independente de o rival ser a Coreia do Norte, Chile ou Holanda.

As alterações feitas naquela Copa foram decorrentes de lesão (o caso mais célebre foi o de Elano, que se machucou no segundo jogo, contra a Costa do Marfim, e não voltou mais) ou suspensão (Kaká, estrela do time, foi expulso e não enfrentou Portugal).

Nas duas primeiras rodadas das eliminatórias para a Copa da Rússia-2018 –derrota para o Chile (2 a 0) e vitória sobre a Venezuela (3 a 1) –, as escalações foram diferentes, e Dunga ousou alterando até o goleiro titular.

Em Santiago, ele surpreendeu ao sacar Filipe Luís, seu lateral esquerdo titular em 14 das 16 partidas que havia feito, para colocar Marcelo. O objetivo era impedir o avanço dos laterais chilenos, já que teria dois alas,
Marcelo e Daniel Alves, que frequentam com assiduidade o ataque e "prenderiam" os rivais na defesa.

No ataque, a opção foi com Hulk como centroavante, e Douglas Costa e Willian abertos, algo que tinha dado certo em amistosos contra Costa Rica e EUA, mas que no Chile não funcionou.

"Como a Venezuela joga com duas linhas de quatro [quatro zagueiros e quatro meias], optei pela entrada do Ricardo Oliveira mais fixo como opção para as jogadas laterais", explicou Dunga. O atacante do Santos apareceu no lugar de Hulk e marcou o terceiro gol na vitória em Fortaleza.

A comissão técnica já havia decidido colocar Jefferson no banco pela irregularidade na Copa América, mas Alisson roubou a vaga do titular também porque, segundo Dunga, tem melhor saída de bola com os pés e por ser quatro centímetros mais alto que o companheiro (1,93m contra 1,89m).

"A Venezuela tinha a jogada aérea forte", disse.

O próximo adversário é a Argentina, na casa do adversário, em 12 de novembro. E Neymar estará de volta da suspensão, o que forçará Dunga a mexer no setor ofensivo. Willian tem sido o melhor do time com o astro do Barcelona fora, e Douglas Costa, segundo o técnico, deu a velocidade que faltava à seleção.

A possibilidade é que, mais uma vez, a seleção jogue sem um centroavante fixo, com Neymar mais adiantado.

Mas, antes, Dunga quer ver os vídeos dos jogos da Argentina e do Peru, portanto mais surpresas são possíveis nas escalações nos dois próximos jogos –o confronto contra os peruanos será dia 17 de novembro, em Salvador.

"Temos que levar em conta também que pode haver lesões, difícil projetar o time agora", afirmou o treinador.

A convocação para essas partidas será no dia 22 de outubro.


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