Folha de S. Paulo


Comitê da Fifa suspende Platini e Blatter por 90 dias

O Comitê de Ética da Fifa anunciou nesta quinta-feira (8) que suspendeu das atividades do futebol o presidente da entidade, Joseph Blatter, e o presidente da Uefa, Michel Platini, por 90 dias.

Com a decisão, por exemplo, eles não podem, em tese, participar de reuniões e eventos em nome das entidades que representam.

De acordo com as regras do Comitê de Ética, há um prazo de dois dias para apelação, sem direito a efeito suspensivo da decisão tomada. O prazo de 90 dias, prorrogável por mais 45, é o máximo previsto.

O Comitê Executivo da Uefa anunciou uma reunião da entidade para o próximo dia 15 e informou que Platini, por enquanto, se mantém como presidente porque deve apelar da decisão da Fifa.

Por meio da assessoria de imprensa da Uefa, Platini divulgou uma nota. Afirmou que vai contestar a decisão de puni-lo, a qual, segundo ele, foi baseada em "meras aparências".

Ele não disse se desistirá de disputar o comando da Fifa, mas afirmou que se "recusa a acreditar" que essa suspensão, classificada de "política" pelo dirigente, foi tomada para atingir sua candidatura. "Estou determinado mais do que nunca em me defender perante os órgãos judiciais relevantes", afirmou.

A suspensão acontece no momento em que Blatter vive o ápice de sua crise na entidade. Na semana passada, o cartola foi cobrado por patrocinadores a renunciar imediatamente ao cargo.

Blatter foi reeleito presidente da Fifa no dia 29 de maio, mas renunciou quatro dias depois e alegou que ficaria no comando até 26 de fevereiro.

Na oportunidade, renunciou em meio ao maior escândalo da história da Fifa. Autoridades dos Estados Unidos levaram à prisão de sete cartolas em Zurique, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, no dia 27 de maio.

A suspensão divulgada nesta quinta foi tomada em razão da abertura de uma investigação criminal contra Blatter por parte do Ministério Público da Suíça por supostas irregularidades num contrato de direitos de transmissão na América Central e em um pagamento de 2 milhões de francos (R$ 8,3 milhões) a Michel Platini.

Segundo o Comitê de Ética, um órgão independente conduzido pelo alemão Hans-Joachim Eckert, Blatter e Platini estão sendo investigados internamente. A suspensão de ambos pode ser prorrogada por mais 45 dias. Os dois dirigentes negam irregularidades. Dependendo da investigação, eles podem até ser banidos do futebol.

Em nota, a defesa de Blatter afirmou que o cartola ficou "decepcionado" com a decisão do comitê de afastá-lo. Argumentou que ele não teve a oportunidade de ser "ouvido" e disse que a suspensão do cargo ocorre baseada em "ações equivocadas" do Ministério Público suíço. O dirigente disse ainda que espera a chance de demonstrar que não cometeu nenhuma irregularidade.

Platini era, até agora, o candidato favorito à eleição marcada para 26 fevereiro que vai escolher o novo presidente da Fifa. O prazo para registro das candidaturas termina no dia 26 de outubro.

A suspensão pode sepultar a candidatura do francês, que não tinha nenhum adversário competitivo até então.

Com o afastamento de Blatter, quem assume a presidência é o cartola camaronês Issa Hayatou, atual presidente da Confederação Africana de Futebol.

Em nota, Hayatou destacou que assume apenas como presidente interino e que não será candidato em fevereiro. "Fifa permanece comprometida com seu processo de reforma e vamos continuar cooperando com as autoridades e a investigação interna", disse o cartola.

VALCKE E COREANO AFASTADOS

Além Blatter e Platini, o comitê de ética afastou também Jerôme Valcke, que deixou recentemente o cargo de secretário-geral após denúncias de envolvimento num esquema de venda de ingressos, por 90 dias.

Outra decisão anunciada foi o banimento do cartola sul-coreano Chung Mong-joon, que também era candidato à presidência da Fifa. Ele, que é acusado de envolvimento no esquema de compra de votos na escolha das sedes das Copa de 2018 (Rússia) e 2022 (Qatar), foi afastado por seis anos.

HISTÓRICO

No último dia 25, a Procuradoria-Geral da Suíça abriu uma ação criminal contra o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A decisão foi tomada por suspeitas de irregularidades cometidas pelo dirigente na assinatura de um contrato em 2005 com a Federação Caribenha de Futebol, na época comandada por Jack Warner, ex-presidente da Concacaf.

O comunicado do Ministério Público diz ainda que Blatter é suspeito de ter feito um pagamento irregular no valor de 2 milhões de francos suíços (R$ 8,3 milhões) ao presidente da Uefa, o francês Michel Platini, com recursos da Fifa, em 2011, referente a serviços prestados entre janeiro de 1999 e junho de 2002.

Já o presidente da Uefa disse que o atraso de nove anos para receber um pagamento de 2 milhões de francos suíços (R$ 8,3 milhões), cifra que está no centro de uma investigação da procuradoria suíça, aconteceu devido à incapacidade da Fifa de pagá-lo em dia.

Na última sexta-feira (2), quatro dos principais patrocinadores da Fifa pediram pela primeira vez que Joseph Blatter deixe imediatamente o cargo de presidente da entidade.

Em comunicados separados, mas divulgados praticamente ao mesmo tempo, as gigantes Coca-Cola, Visa, McDonald´s e Budweiser (AB InBev) alegaram que a saída do suíço é fundamental para que o processo de reforma na Fifa tenha credibilidade.

Já a Adidas, parceira mais antiga da entidade, quer a reforma da Fifa, mas não a saída de Blatter.

Mesmo com o pedido dos patrocinadores, Blatter afirmou na quarta-feira que não deixará o cargo antes de 26 de fevereiro, quando serão realizadas as eleições. Ele também criticou a investigação aberta pela justiça suíça.

Cronologia do escândalo de corrupção na Fifa - Editoria de arte/Folhapress


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