A ex-nadadora carioca Christiane Paquelet, 59, admitiu ter mentido para a professora e pesquisadora Katia Rubio, autora do livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", o que fez com que seu nome fosse incluído na obra lançada no último dia 25 de agosto.
Diretora cultural do COB (Comitê Olímpico do Brasil ), após a repercussão do caso, Christiane pediu para deixar o cargo que exercia desde 2000 na entidade nesta quinta-feira (1º).
A informação foi passada pelo próprio COB, em nota. "Christiane Paquelet admite que não compareceu aos Jogos Olímpicos de Munique 1972, não sendo, portanto, atleta olímpica e, por esse motivo, já apresentou suas desculpas à Professora Katia Rubio", diz o texto. "Por iniciativa própria, ela deixou o cargo de Diretora Cultural, não tendo mais, a partir de hoje, vínculo com o COB".
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| Reprodução das páginas 238 e 239 do livro "Atletas Olímpicos Brasileiros" com os verbetes relativos aos nadadores Zequinha dos Santos e Christiane Paquelet |
ENTENDA O CASO
Os nadadores cariocas José Claudio dos Santos, o Zequinha, 51, e Christiane Paquelet, 59, nunca estiveram em uma edição dos Jogos Olímpicos. Porém, contaram uma história diferente à professora e pesquisadora Katia Rubio, da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo).
Autora do livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", lançado em agosto pela editora Sesi-SP, Katia ouviu, gravou e incluiu ambos na obra que retrata 1.796 esportistas do país que competiram nos Jogos e também os que foram a uma edição e acabaram cortados por lesão ou completaram as equipes na reserva.
O problema é que tanto a história contada por Christiane quanto a relatada por Zequinha, ambas gravadas em vídeo, são falsas. Ela não foi aos Jogos de Munique-1972 assim como ele não esteve na Olimpíada de Moscou-1980.
"Soa como roubo. Significa mexer na história que é dos outros", afirma Katia Rubio à Folha. Outros cinco casos semelhantes foram descobertos antes da publicação, diz a autora.
"Entendo que o fato de serem atletas de ponta [Christiane foi campeã brasileira e medalhista pan-americana] leva a um desejo imenso de participar dos Jogos Olímpicos. Essa falta soa como uma cicatriz profunda na vida do atleta. Talvez a dor dessa marca tenha levado a criar essa história para estar entre os olímpicos", explica.
Zequinha afirmou que foi a Moscou como reserva da equipe de revezamento 4 x 100 m. Ele ainda contou que foi aos Jogos Pan-Americanos de San Juan, em Porto Rico, em 1979. Outra farsa.
Christiane, hoje diretora cultural do COB (Comitê Olímpico do Brasil), relatou que fora aos Jogos de 1972, mas por uma contusão no ombro, no terceiro treino, voltara ao Brasil. Segundo Katia, a ex-nadadora descreve detalhes sobre o desembarque no aeroporto, a Vila Olímpica e a piscina de Munique.
A verdade foi revelada um dia depois do lançamento do livro. Katia foi alertada e confirmou a história com as três nadadoras brasileiras que foram a Munique (Lucy Burle, Christina Bassani e Isabel Guerra). A autora, então, escreveu sobre o ocorrido em seu blog, sem citar a diretora do COB –a identidade foi revelada pelo colunista da Folha Juca Kfouri em seu blog no UOL na terça (29).
A primeira edição de "Atletas Olímpicos Brasileiros" teve 5.000 exemplares. A versão digital, sem data, excluirá os verbetes sobre Christiane e Zequinha –a história falsa deste foi revelada a Katia dias após a primeira.
A publicação do livro é resultado de um projeto de 15 anos da professora e pesquisadora Katia Rubio na USP. Além das entrevistas documentadas em vídeo, ela enviava os verbetes para cada um dos atletas confirmarem se não havia erro.
"Para quem não sabe da pesquisa, isso tudo parece erro meu, falta de cuidado na investigação. Voltei ao vídeo de ambos para me certificar de que não havia sido um deslize meu. Os depoimentos estavam lá, com as informações que depois foram publicadas nos verbetes. Eu lamento muito tudo isso", disse Katia.
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| Capa do livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", de Katia Rubio |