Folha de S. Paulo


Ex-craques criticam Ronaldinho, e Vampeta pede respeito ao camisa 10

A falta de comprometimento com a vida de jogador profissional e de dedicação nos treinos foram os principais motivos para a queda de produção de Ronaldinho, 35, que anunciou sua saída do Fluminense na noite da última segunda-feira (28), após menos de três meses no clube. Assim pensam ex-jogadores da seleção brasileira ouvidos pela Folha.

"Acho que no caso do Ronaldinho acabou o prazer de se sacrificar no treinamento", afirmou o ex-lateral esquerdo e meia Júnior, que disputou as Copas de 1982 e 1986 pela seleção brasileira.

"Para jogar, você precisa treinar. Você precisa levar uma vida condizente com aquilo que você vai fazer. E, pelo o que a gente vê, a vida que ele está levando não é condizente com a de um jogador profissional. Isso não é de agora, já faz bastante tempo", disse o ex-jogador, que hoje trabalha como comentarista da Rede Globo.

A opinião é similar à do ex-zagueiro Oscar, companheiro de Júnior nas Copas de 1982 e 1986 e que também disputou o Mundial de 1978.

"A impressão que dá é que ele está jogando 'por esporte', não mais como profissional", afirmou o ex-jogador, que é proprietário de um Resort em Águas de Lindóia, no interior de São Paulo.

"Se ele quisesse jogar mais tempo, ele até jogaria. Mas tem que ter mais dedicação. Não vivo diariamente com ele, mas é lógico que para você jogar mais tempo você tem que viver mais de perto o dia a dia do clube", completou.

Em entrevista à Folha publicada nesta quinta (1º), o empresário e irmão de Ronaldinho, Roberto Assis, negou que falte foco ou comprometimento do atleta para ser um jogador profissional.

Para ele, existe uma cobrança exagerada sobre seu irmão pelo sucesso que Ronaldinho teve ao longo da carreira e pelo seu talento.

A opinião do empresário é similar à do ex-volante Vampeta, companheiro de Ronaldinho na conquista do pentacampeonato mundial, em 2002. Para ele, falta respeito com a história do camisa 10.

"A gente poderia ter um pouco mais de respeito com ele. Ser duas vezes o melhor no mundo naquilo que ele faz... Mas o pessoal não entende dessa forma. Tanto a imprensa, como o torcedor. Se eu fosse o Ronaldinho, daria uma coletiva e falaria: 'obrigado por tudo, mas não jogo mais no Brasil'", afirma o ex-jogador, hoje presidente do Grêmio Osasco Audax e do Audax Rio.

"Às vezes fico vendo ele na televisão, no banco do Fluminense, treinando separado... Um cara que não precisa de mais nada, que foi duas vezes o melhor do mundo, sendo desrespeitado", diz.

APOSENTADORIA

Após a saída repentina de Ronaldinho do Fluminense, chegou-se a cogitar que o jogador poderia anunciar o fim de sua carreira, o que Assis nega que vá acontecer no momento. Ronaldinho tem propostas do futebol chinês e dos EUA.

A ida para times de menores e em mercados com pouca expressão no futebol, no entanto, é um indicativo claro de que a carreira do jogador está perto do fim.

Vampeta conta que decidiu parar de jogar quando começou a atuar por times menores, sem chance de ganhar novos títulos.

"Você já não consegue mais jogar a mesma coisa que todo mundo acha que você jogava. Já não tem mais objetivo de conquista. Já foi campeão de tudo e a cobrança é a mesma. Já estava com 34 para 35 anos e falei: 'pra mim, chega'", afirmou o ex-atleta, que se aposentou em 2008, quando jogava pelo Juventus.

A falta de objetivos também foi o que levou o lateral Júnior a decidir encerrar sua carreira. Ele contou que voltou ao futebol brasileiro em 1989, aos 35 anos, com a ideia de realizar o sonho do filho de vê-lo jogando no Maracanã e se aposentar. No entanto, com a conquista dos títulos da Copa do Brasil de 1990, do Estadual do Rio de 1991 e do Brasileiro de 1992, pelo Flamengo, acabou adiando a aposentadoria e mirando a Copa do Mundo de 1994.

"Quando chegou 1992 e o Zagallo falou que não iria ter ninguém com 40 anos no meio-campo da seleção, eu não tinha mais objetivo de continuar jogando. Joguei a Libertadores de 1993 a pedido do Flamengo e resolvi parar", conta.

No caso de Oscar, a transição para a vida fora dos campos de futebol foi mais natural. Aos 34 anos, ele jogava no futebol japonês e recebeu convite da sua equipe, o Nissan Motors, para assumir o cargo de treinador.

"Foi uma transição fácil. Já conhecia o ambiente, já conhecia os jogadores. Já tinha disputado Copa do Mundo, não ia voltar a jogar no Brasil. Acabei aceitando e foi muito tranquilo", afirmou.

No entanto, ele entende que para muitos atletas a saída da profissão não é tão fácil.

"Se você continua no meio do futebol, você não sente tanta falta. Acho que a dificuldade maior é quando você para e vai fazer outra atividade, que não é relacionada ao esporte", diz.

"Quando você para de jogar, as portas se fecham. Quando você está jogando elas estão escancaradas, mas quando você para de ser protagonista, independentemente do nível que você jogou, elas se fecham. Se você está pensando em parar, precisa pensar nisso também", ponderou Júnior.


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