Folha de S. Paulo


Nadador teria mentido para entrar em livro sobre atletas olímpicos do Brasil

Divulgação
"Atletas Olímpicos Brasileiros", de Katia Rubio

O carioca José Claudio dos Santos, o Zequinha, 51, é o outro nadador que teria mentido para entrar no livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", lançado em 25 de agosto, pela editora Sesi-SP.

A publicação é resultado de um projeto de 15 anos da professora e pesquisadora Katia Rubio, da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo).

Na obra, estão retratados 1.796 atletas olímpicos brasileiros. E, segundo a metodologia usada, compreende-se como esportista olímpico aquele que competiu, mas também os que foram a uma edição dos Jogos e acabaram cortados por lesão ou os que completaram as equipes como reservas.

Seria o caso de Zequinha dos Santos, que relatou em vídeo que foi aos Jogos Olímpicos de Moscou-1980 como reserva da equipe de revezamento 4 x 100 m do Brasil.

Zequinha não foi a Moscou como também não foi aos Jogos Pan-Americanos de 1979, em San Juan, Porto Rico, como disse para o livro.

Kátia Rubio, além das entrevistas documentadas em vídeo, ainda enviava os verbetes para cada um dos atletas confirmarem se não havia nada errado.

Esse procedimento não evitou que dois atletas inventassem suas histórias, segundo a autora, e tivessem suas histórias publicadas: além de Zequinha, a ex-nadadora Christiane Paquelet, hoje diretora cultural do COB, também criou uma história falsa.

A Folha tentou contato com os dois ex-nadadores, mas ainda não obteve resposta.

A própria autora do livro relatou em seu blog como farsa o relato da primeira atleta, logo que foi avisada do erro na publicação.

Um dia depois do lançamento, em São Paulo, Katia foi alertada. Ela então confirmou a história com as três nadadoras da equipe brasileira que foi aos Jogos de Munique-1972 (Lucy Burle, Christina Bassani e Isabel Guerra).

Nesta terça-feira (29), o colunista da Folha Juca Kfouri revelou que o nome ao qual a autora do livro tratava em seu blog era o de Christiane Paquelet, influente funcionária do COB. A reportagem entrou em contato com o comitê, mas não obteve resposta pois ela não compareceu à sede nesta quarta-feira (30).

A primeira edição de "Atletas Olímpicos Brasileiros" teve 5 mil exemplares impressos. A versão digital, a ser lançada em breve, excluirá os verbetes relativos a Zequinha do Santos e Christiane Paquelet.

EXPLICAÇÕES

Segundo Katia Rubio, Christiane Paquelet a procurou em um dia no qual estava gravado depoimentos na sede do COB (Comitê Olímpico do Brasil), no Rio.

A ex-nadadora disse à professora e pesquisadora que tinha ido aos Jogos de Munique, em 1972, com a delegação brasileira, mas teria se contundido no terceiro dia de treinamento antes das disputas.

De acordo com a autora, Christiane descrevera detalhes sobre o desembarque no aeroporto, a Vila Olímpica e a piscina de Munique, na qual teria machucado o ombro após um salto –o que a teria feito voltar ao Brasil.

Um dia depois do lançamento do livro, porém, Katia foi alertada da farsa, pois Christiane nem sequer o índice para os Jogos havia alcançado.

A autora diz que outros erros foram encontrados na pesquisa, antes da publicação, mas este caso foi o primeiro relatado em relação ao material já impresso. Dias depois ela descobriria outra farsa, novamente alertada por um ex-atleta. Era Zequinha dos Santos, outro nadador que, segundo a autora, mentiu e acabou tendo seu verbete publicado na obra.

"Soa como roubo. Significa mexer na história que é dos outros", afirma Katia Rubio à Folha.

"Para quem não sabe da pesquisa, isso tudo parece erro meu, falta de cuidado na investigação. Voltei ao vídeo de ambos para me certificar de que não havia sido um deslize meu. Os depoimentos estavam lá, com as informações que depois foram publicadas nos verbetes. Eu lamento muito tudo isso", conclui a autora.

COB

O presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, afirmou que a diretora cultural da entidade, a ex-nadadora Cristiane Paquelet, terá que se explicar sobre ter supostamente forjado um depoimento de que participou da edição dos Jogos Olímpicos de 1972. Ela não esteve na competição.

"Nós não tivemos conhecimento. O COB publicou um livro dos atletas olímpicos do século passado, no qual a Cristiane não consta. Entendemos que ela deve dar as explicações cabíveis", afirmou o dirigente, após evento na Arena Corinthians para anunciar São Paulo como cidade sede da Olimpíada.

Divulgação
Christiane Paquelet, diretora cultural do Comitê Olímpico do Brasil
Christiane Paquelet, ex-nadadora e diretora cultural do Comitê Olímpico do Brasil

Endereço da página:

Links no texto: