Folha de S. Paulo


'Golfe é machista', diz 1ª brasileira a jogar com homens e vencê-los no país

Divulgação/L.E.T.
Victoria Lovelady brinca com fotógrafo no Aberto do Alemanha, em julho de 2014
A paulista Victoria Lovelady brinca com fotógrafo no Aberto do Alemanha, em julho de 2014

Tem campo gramado. Tem bola. E homens não jogam com mulheres.

"É igual um time de futebol feminino desafiar um masculino, e ganhar", compara Victoria Lovelady, 28, agora a primeira brasileira a jogar um torneio entre homens e ainda vencer boa parte deles.

O feito histórico para a modalidade no país aconteceu no último fim de semana, no Aberto de Arujá, na região metropolitana de São Paulo.

"Golfe é um esporte muito machista. Os homens não gostam de jogar com mulher. Tem clubes no mundo que, até hoje, não deixam mulheres entrar. A mulher é um empecilho no mundo do golfe. Então quando tem uma mulher que se inscreve em um torneio masculino e passa o corte, pau a pau com os homens, é algo que choca todo mundo", explica Victoria.

A golfista paulista inscreveu-se no torneio profissional, válido pelo PGA do Brasil com premiação total de R$ 45 mil, ao lado de 56 homens.

Depois de dois dias de torneio cerca de metade dos jogadores é eliminado (o corte em Arujá classificava os 21 primeiros). Victoria passou em sexto lugar e, após mais dois dias, terminou em 20º.

"Isso prova que meu nível como jogadora está muito parecido com o dos homens no Brasil, isso é histórico. E eu não tive vantagem. E pude ganhar de muitos homens e ainda ganhar prêmio em dinheiro", afirma a golfista profissional que está em sua segunda temporada no Tour Europeu, um dos principais circuitos do mundo, onde está na 133ª posição do ranking.

No exterior há pouquíssimos casos registrados de mulheres jogando contra homens e passando no corte.

Quando fala em não ter vantagem, a golfista diz respeito ao tamanho do campo. Ela explica que a distância que os homens jogam é geralmente 15% maior do que as mulheres. Em Arujá, por exemplo, são mais de 7.000 jardas (6.400 metros) para os homens enquanto um campo feminino profissional tem 6.200 jardas (5.600 metros).

"É uma desvantagem muito grande para uma mulher jogar em campos grandes como esses porque os homens pegam muito mais forte do que as mulheres", diz.

Victoria já havia tentado jogar entre homens em um torneio na Colômbia, mas parou na classificatória. Agora, aproveitou o Aberto do Arujá para treinar para o restante da temporada em busca dos pontos que precisa para subir no ranking mundial e pensar na classificação para os Jogos Olímpicos do Rio.

Hoje o Brasil tem direito a uma vaga entre as mulheres por ser país sede. E a paranaense Miriam Nagl é quem aparece com esta vaga.

Na Rio-2016 serão 60 golfistas entre os homens e 60 entra as mulheres. Com limite de quatro por país para quem estiver entre os 15 melhores do mundo e dois por país para o restante. Atualmente Miriam é a 580ª e Victoria, 613ª.

"A Miriam me passou no ranking mundial no mês passado. Este ano subi 300 posições no ranking mundial. Em um bom torneio posso subir até 120. Se eu passá-la e mantiver a posição até 11 de julho, eu vou. Mas se as duas entrarem entre as 400 do mundo, ambas irão à Olimpíada por mérito", diz Victoria.

Apenas mais duas brasileiras aparecem no ranking mundial: Luciane Lee, 821ª, e Maria Priscila Iida, 848ª.

"Golfe feminino está cada vez menor no Brasil, com menos amadoras e, principalmente, menos profissionais. Nos últimos quatro anos estive sozinha nos circuitos mundiais. Agora, se estamos dando canseira nos homens, é porque algo bom está acontecendo", conclui Victoria.


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