Folha de S. Paulo


'Deixamos um fardo muito pesado para essa nova geração', diz Giba

Diego Padgurschi/Folhapress
SABO PAULO, SP, BRASIL - 21-09-2015: Sabatina Folha com o jogador Giba, campeao Olimpico de volei. Parcitipam da sabatina o reporter Marcel Merguizo e o colunista Edgard Alves (Diego Padgurschi /Folhapress - ESPORTE) ***EXCLUSIVO***
O campeão olímpico Giba participa de sabatina na Folha nesta segunda (21)

Líder da geração mais vitoriosa da história do vôlei, o ex-jogador Giba, 38, está preocupado com a equipe que vai tentar o tricampeonato olímpico na Rio-2016.

O motivo não é a falta de confiança do time que continua sendo comandado por Bernardinho, mas o "fardo" que ele e os tricampeões mundiais e medalhistas de ouro em Atenas-2004 deixaram para esta geração.

"Nós deixamos um fardo muito grande para essa nova geração. E eles se cobram muito", disse Giba na série de sabatinas olímpicas da Folha, nesta segunda (21).

Sabatinado pelo repórter Marcel Merguizo e pelo colunista Edgard Alves, Giba também falou de política a ídolos e de vinhos a voleibol.

Rio-2016

"Nós deixamos um fardo muito grande para essa nova geração. Acho que eles precisam ganhar algo para desencantar". A seleção é atual vice campeã mundial, foi prata nas duas últimas Olimpíadas [com Giba] e ficou na quinta posição, em casa, na Liga Mundial deste ano.

"Eles sabem o que deixamos a eles. E se cobram muito. Agora dizem que têm que fazer como o Giba, o Ricardinho, o Gustavo. Mas é outra geração. Não se pode colocar a responsabilidade neles como colocavam em nós".

Renovação

"A maior preocupação tanto da CBV como nossa é a categoria de base. O Brasil não tem uma hegemonia na base. Eles vão vir sem aquele crédito que a gente teve. Nós aprendemos embaixo. Chegamos no adulto, apanhamos, mas depois ganhamos. Viemos de berço vitorioso".

Ídolos

"O Brasil é carente de ídolos em todos os segmentos. É uma carência. A família vê no esporte um modo rápido de ficar rico. Fica instigando o filho para tirar a família da pobreza. Já começa cedo para ganhar dinheiro e pagar as contas da família. Eu não tive um ídolo no começo, mas tinha um objetivo, que era me dar bem na vida. Depois, eu me espelhei no Carlão. Ele me ajudou muito, coisas que nem meu pai faria."

Substituição de ídolos

"Fiquei surpreso ao ver que Ricardo e Emanuel não vão para a Rio-2016" [Na semana passada, a Confederação Brasileira de Vôlei confirmou as duplas do país no vôlei de praia sem a presença da dupla campeã em Atenas-2004]. Não é porque sou amigo do Emanuel, mas a raça e a determinação que ele tem, eu nunca vi igual. Na Olimpíada têm que estar os melhores. Mas eles estão entre os melhores. Por isso fiquei chateado. Acho que poderiam esperar um pouco mais para ver".

Dívidas

No fim da carreira, Giba foi jogar na Argentina e nos Emirados Árabes. E diz que ainda tem dinheiro a receber de ambos. "Era um sonho jogar na Argentina com o [Carlos] Weber. Mas o país entrou em crise e foi uma pena. Eu tinha renovado o meu contrato, mas eles ainda não me pagaram. Está na Justiça. São seis meses de salário. Chegou uma hora em que chamei o Weber e falei 'não dá mais'."

Vinhos, sexo e maconha

Quando jogou na Itália, de 2001 a 2009, Giba virou um apreciador de vinhos. O que não quer dizer que não bebesse antes. "Bebia, mas desses ruins, não tinha tanto dinheiro, né?". Depois, porém, virou um entendedor ao ponto de trazer centenas de garrafas ao Brasil e investir em bons rótulos como um negócio. Claro, continua degustando e acredita que, assim como o sexo, vinho não atrapalha o rendimento antes dos jogos. "Tudo tem que saber fazer com moderação e jeito. Fumar causa problema, sempre. Assim como maconha. Sexo e vinho ajudam muito".

No início de 2003, Giba foi suspenso após exame antidoping apontar uso de maconha, o que ainda hoje ele considera "um mau exemplo" que deu aos mais jovens. Ele também fumava cigarro.

Sobre a legalização da maconha, ele acha que "no Brasil não daria certo, pelo autocontrole, pelo sistema".

Ricardinho

Pivô da crise na seleção às vésperas do Pan do Rio, em 2007, o levantador Ricardinho é defendido por Giba. "Ele tinha as razões dele. Em muitas coisas. Mas ele tinha que falar para mim [Giba fazia parte do grupo que negociava as premiações]. O problema é que ele chega metendo os dois pés. Ele perde a razão da forma como ele fala."

Crise na CBV

"A gente tinha tudo, transporte, alimentação, salários eram distribuídos diretamente. O que eu mais fiz foi me afastar [quando estourou a crise]. E eu tenho uma admiração pelo Ary Graça [ex-presidente da CBV e hoje dirigente máximo da Fivb,a federação internacional]. Durante muitos anos, de 2004 a 2012, eu falava sobre premiação e salários com ele. Foi um paizão para mim. Eu, particularmente, nunca desconfiei de nada. Quando isso saiu, todo mundo levou um baque."

Política

Filiado ao PSDB desde 2013, segundo ele devido à ligação com a família Richa, no Paraná, Giba diz que foi convidado para ser deputado federal, mas não aceitou. "Eu vou contra o sistema. Iria manchar a minha vida. Teria que ser político pelo resto da vida. Iria destruir 20 anos da minha história".


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