Folha de S. Paulo


Quero mostrar meu futebol ao mundo, diz xodó do Palmeiras Gabriel Jesus

Thomas Santos/Agif/Folhapress
Gabriel Jesus comemora um de seus gols sobre o Cruzeiro
Gabriel Jesus comemora um de seus gols sobre o Cruzeiro

Gabriel Jesus é um menino. Aparentemente óbvia, a frase pode surpreender quem vê suas estripulias em campo.

Quem presenciou sua atuação contra o Cruzeiro na última quarta (26), quando deu uma assistência de calcanhar, marcou dois gols e decidiu em pouco mais de 30 minutos a classificação do Palmeiras às quartas da Copa do Brasil, pode perder de vista que o protagonista da partida tem 18 anos.

Todos os seus treinadores de base são unânimes: ele é focado, determinado e quer chegar longe na carreira.

"As pessoas falam que eu sou puxa-saco dele, mas ele sempre foi o melhor daqui. Treinava muito, às vezes sozinho", diz Nilson "Filé", seu treinador na escolinha do Pequeninos do Meio Ambiente.

Segundo Filé, "ele já era esperto quando era um 'toquinho' de gente", aos 3.

A despeito do talento, a infância incluiu dificuldades. Sua mãe, a palmeirense fanática Vera Lúcia, chegou a ter três empregos como doméstica para sustentar Gabriel, seus três irmãos e pagar as contas da humilde casa no Jardim Peri, zona norte de São Paulo.

"Minha mãe que não me deixa sair da linha. Se sair, ela coloca de novo", diz Gabriel em entrevista à Folha.

Ex-empresário do atleta e um de seus treinadores no Anhanguera, projeto de treino de alto rendimento de jovens jogadores, Fábio Caran desfia elogios ao atacante.

"Sempre foi acima da média. E ele é tão bom dentro de campo quanto fora. Ele ouve todas as orientações e absorve", conta Caran, que diz que o garoto pede para treinar no campo do Anhanguera quando o Palmeiras lhe dá férias.

"Se você pede 20 finalizações, ele faz 30; se você pede 30, ele faz 40, e não quer parar", confirma Bruno Petri, que o treinou por dois anos nas categorias de base do Palmeiras.

"Às vezes, você tem que brigar com ele para parar de treinar", confirma Caran.

Gabriel sabe bem os motivos para tanto treino.

"É quase impossível me tirar o foco. O treino é o espelho do jogo, eu quero estar preparado e me aperfeiçoar. Meu objetivo é ser ídolo do Palmeiras e mostrar meu futebol para o mundo", diz ele, que já foi barrado em peneira na categorias de base do São Paulo.

Segundo seu atual técnico, Marcelo Oliveira, ele pode ser "a solução do Palmeiras."

Para Petri, que participou da formação dos meias Oscar e Lucas no São Paulo, o destino de Gabriel não deve ser diferente.

"Não tenho bola de cristal, mas se a cabeça dele não mudar, ele deve chegar à seleção e aos grandes da Europa."

"Quem não sonha com a seleção brasileira? Mas eu tenho meus pés no chão. Quero fazer gols, ajudar meus companheiros, conquistar títulos e ser ídolo do Palmeiras", projeta Gabriel.

Descrito como tranquilo e tímido, Gabriel tem os amigos, a família e o videogame como principais fontes de lazer fora do futebol.

"Só que já ficou chato, ninguém ganha de mim [no videogame]", diz.

Para seus ex-treinadores, ele é "exímio finalizador", "matador", "agressivo", "objetivo". Características nem sempre associadas a seu maior ídolo, Ronaldinho Gaúcho.

No domingo (30), ele será titular contra o Joinville, no Allianz Parque. Querido pela torcida, deve ter sua escalação comemorada no estádio.

Gabriel Jesus ainda é só um menino. Que brinca de bola como gente grande.


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