Folha de S. Paulo


Governos omitem mais de R$ 400 milhões do gasto da Olimpíada

Os governos federal e municipal do Rio omitem mais de R$ 400 milhões de gastos do documento que descreve o custo oficial da Olimpíada.

Fazem parte dos itens não incluídos a construção de arquibancadas, compra de móveis para vilas dos Atletas e de Mídia, indenização para moradores removidos do Parque Olímpico e custeio de órgãos criados para os Jogos.

Esses itens somam R$ 409 milhões e não fazem parte do gasto oficial da Olimpíada.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), reconheceu haver a possibilidade de "contabilidade paralela", mas defendeu os dados oficiais.

O Ministério do Esporte disse que a matriz tem como objetivo "estipular as obrigações de cada um dos entes governamentais com projetos relacionados aos Jogos".

A APO (Autoridade Pública Olímpica) divulgou nesta sexta (26) atualização da Matriz de Responsabilidade, que lista o custo das arenas e itens essenciais aos Jogos. O documento diz que o valor desses itens é de R$ 6,67 bilhões.

O custo total da Olimpíada (R$ 38,7 bilhões) é composto pela matriz, o orçamento do comitê organizador (R$ 7,4 bilhões) e o plano de legado (R$ 24,6 bilhões).

Só os dois primeiros são considerados gastos essenciais. O último é composto por obras de infraestrutura prometidas ao Comitê Olímpico Internacional, mas sem relação direta com os Jogos.

Não consta em nenhum dos três documentos, por exemplo, as indenizações para moradores da Vila Autódromo. Segundo levantamento do gabinete da vereadora Teresa Bergher (PSDB), a prefeitura já gastou R$ 105 milhões com esses pagamentos. Em um primeiro momento, esse valor era de R$ 10 milhões a menos, mas foi atualizado durante a tarde pelo gabinete da vereadora.

Também está fora da lista a compra, por R$ 22 milhões, de arquibancadas temporárias para o Engenhão, Centro Olímpico de Esportes Aquáticos e Handebol.

O gasto com a estrutura da APO e da Empresa Olímpica Municipal, criadas para o evento, também não constam do orçamento oficial. Elas consumiram em quatro anos R$ 75,9 milhões e R$ 58,7 milhões, respectivamente.

Há também a contratação, pelo Ministério do Esporte, de consultoria para definir preços de instalações temporárias no evento (R$ 54,5 milhões), a compra de móveis para as vilas dos atletas e de mídia (R$ 29,3 milhões), o reajuste da obra do Velódromo (R$ 7,8 milhões) e o monitoramento de obras do Parque Olímpico (R$ 56,7 milhões), valor apurado e incluído pela Folha após a primeira publicação desta reportagem nesta sexta.

As omissões listadas referem-se só a custos diretamente ligados a Olimpíada. Há contudo, gastos em política pública que não constam no plano de legado e na matriz.

A Secretaria de Grandes Eventos do Ministério da Justiça disse que vai gastar cerca de R$ 350 milhões no plano de segurança da Olimpíada. O custo não está descrito no plano de legado, atualizado em abril, nem na matriz.


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