Folha de S. Paulo


Marin gastou R$ 15,4 milhões em três imóveis antes de deixar a CBF

Preso na Suíça acusado de receber propina em negociações de contrato, o ex-presidente da CBF José Maria Marin, 83, gastou R$ 15,4 milhões em imóveis nos últimos meses antes de deixar o comando do futebol brasileiro.

Em 2014, ano da Copa do Mundo, o cartola comprou três imóveis no eixo Rio-São Paulo: uma mansão no Jardim Europa, um conjunto na avenida Paulista e uma cobertura de frente para a praia da Barra da Tijuca –todos por valores abaixo do mercado.

Nos negócios, optou por não pôr os bens no seu nome. Preferiu usar uma de suas empresas, a JMN Empreendimentos e Participações Ltda., para registrar as propriedades.

A mansão no Jardim Europa, área nobre paulistana, foi a principal compra feita pelo ex-presidente da CBF às vésperas de deixar o poder, em abril. Marin pagou pelo casarão que pertenceu a Jacob Klabin e Mildred Lafer R$ 13,5 milhões, pouco mais da metade (62%) do valor venal registrado na escritura.

Segundo documento do 4º Cartório de Registro de Imóveis, a residência, com mais de seis quartos, erguida num terreno de 2.600 m² na avenida Europa é avaliada em R$ 21,7 milhões pela prefeitura.

Especialistas no mercado imobiliário estimam que a mansão custe R$ 30 milhões.

A negociação para a compra do casarão foi feita em março de 2014, mas a escritura só foi registrada neste ano.

Um mês após sair da CBF, Marin foi preso na Suíça com seis cartolas ligados à Fifa.

Todos são acusados nos EUA de integrar um esquema de propina na negociação de acordos de transmissão de torneios nas Américas do Sul, Central e do Norte. Os dirigentes permanecem presos.

Outro imóvel, um apartamento dúplex no Rio, já é investigado pelo Ministério Público desde junho. A Folha revelou em abril que Marin pagou R$ 1,6 milhão pelo imóvel no condomínio de luxo "Les Residences Saint Tropez", na Barra da Tijuca.

A quantia é metade do valor do imóvel avaliado pela Secretaria Municipal de Fazenda: R$ 3,3 milhões.

A compra feita pelo cartola ocorreu na mesma data, dia 28 de maio do ano passado, em que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, fez a escritura de um outro dúplex no mesmo andar.

A empresária Lilian Cristina Martins Maia vendeu as coberturas para os dois cartolas. Ex-presidente da escola de samba Estácio de Sá, ela teve seus sigilos fiscal e bancário quebrados pela Justiça do Rio na Operação Hurricane, em 2007, que investigou quadrilha de caça-níqueis.

O terceiro imóvel, uma sala na avenida Paulista, foi comprado em janeiro de 2014 por R$ 300 mil –ele também gastou R$ 100 mil por uma vaga na garagem do prédio.

O conjunto de número 82 fica no edifício 2.202 na avenida. Especialistas avaliam o imóvel em R$ 500 mil. A sala fica ao lado da sede da JMN Empreendimentos e Participações Ltda., responsável pela compra de todas as propriedades do cartola em 2014.

Ela pertence também à mulher do dirigente, Neusa Barroso Marin, e ao filho do casal, Marcus Vinícius Marin.

O cartola entrou oficialmente na empresa em novembro de 2012, oito meses depois de assumir a CBF no lugar de Ricardo Teixeira.

Na ocasião, a companhia mudou de nome (era JMN Serviços SS Ltda.) e de objetivo social, para atuar na "prestação de serviços de planejamento e de consultoria em empreendimentos comerciais" e "realizar empreendimentos imobiliários, tanto na área de loteamentos como na de construção civil".

OUTRO LADO

Os advogados do ex-presidente da CBF José Maria Marin informaram à Folha que a compra dos imóveis em 2014 foram "legais" e que os negócios são compatíveis com as receitas do ex-dirigente nos últimos anos.

Marin recebia cerca de R$ 350 mil mensais por acumular cargos na CBF e no COL (Comitê Organizador Local da Copa do Mundo no Brasil). O dirigente, que tem 83 anos, acumulou por 37 meses salário nas duas entidades.

De acordo com os advogados, o fato de Marin pagar pelos imóveis valores menores que os estimados é "uma questão de mercado".

Desde que foi preso na Suíça, em maio deste ano, Marin nunca deu uma declaração à imprensa, nem por meio de comunicados, sobre as acusações de que integrou esquema de corrupção para a negociação de contratos envolvendo torneios organizados pela Conmebol e pela CBF.

Seus advogados, no entanto, dizem que são frágeis as supostas provas apresentadas à Justiça suíça pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que investiga o caso. Alegam que no pedido de extradição não há revelações concretas de que o dirigente cometeu os crimes.

Para a defesa, os argumentos são ilações com base em delações de outros cartolas. O processo de extradição de Marin, pedida pelos EUA, ainda tramita na Justiça suíça.


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