Folha de S. Paulo


Criador das pranchas de Medina se supera, mas só vê futuro fora do Brasil

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Encontrar uma loja de pranchas de surfe em Maresias, São Sebastião, litoral norte de São Paulo, berço do campeão mundial Gabriel Medina, 21, não é difícil.

Mas não foi fácil encontrar o alvo da reportagem.

Numa rua bem estreita de terra há uma pizzaria, uma mercearia e até um dentista. Mais para o fundo, bem escondido, está Johnny Cabianca, 51, um dos melhores shapers -aquele que dá formato às pranchas- do mundo.

Cabianca é o responsável pelas pranchas de Medina, que em 2014, no Havaí, se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial de surfe.

O shaper foi uma peça fundamental na conquista inédita para o país, já que a prancha é o principal instrumento de trabalho do surfista.

"Essa é a minha paixão. Às vezes nem durmo por causa das ideias que tenho. E ver que o campeão do mundo continua usando as minhas pranchas, me pergunto: 'o que está acontecendo?'", disse à Folha Cabianca, que também trabalha para a cearense Silvana Lima, que compete no Mundial feminino.

A prancha é milimetricamente calculada e produzida de acordo com o corpo do surfista, nos mínimos detalhes.

"De 40, o Gabriel passou a calçar 43. Eu tive que alterar a rabeta [parte de trás] da prancha. Tem que estar 100% ligada ao biótipo do surfista", afirma Cabianca, que trabalha com Medina desde 2009.

Leva-se em conta, também, o tipo de onda que o local reserva. Para cada uma das 11 etapas do Mundial, Medina leva cerca de 18 pranchas.

"Antes da etapa da Jeffreys Bay, na África do Sul, ficamos uns quatro dias só fazendo pranchas para ele testar. Dia, noite e madrugada", diz.

DESCONFIANÇA

Cabianca nasceu em São Paulo. Em seus primeiros contatos com o surfe, removia parafina e fazia pequenos consertos e remendos em pranchas. Na década de 80, teve a sua primeira fábrica.

Em 2001, o shaper chegou até a Pukas, a mais importante fábrica de pranchas da Europa, que fica localizada no País Basco, na Espanha.

No ano passado, decidiu sair e voltar para Maresias, onde montou a sua nova pequena fábrica, do qual ele chama de "laboratório".

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Mas para ser reconhecido como um dos melhores shapers do mundo, Cabianca, que tem cinco irmãos, teve que passar pela desconfiança dos seus pais, que esperavam um outro futuro para ele.

"Na minha época, surfar era coisa de marginal. Meus pais não podiam ouvir falar nisso. Eles nunca entraram numa fábrica minha", afirma.

Entre seus irmãos há psicólogo, agrônomo, professor e dentista. Seu pai também é dentista. "E eu faço prancha", diz Cabianca, aos risos.

Ele bem que tentou outros caminhos para a sua vida. Chegou a cursar odontologia e se formou em designer. Mas não abandonou as pranchas.

"Nunca consegui deixar de ser shaper. Isso me persegue. É a minha sina", afirma.

EUROPA

Cabianca voltou para o Brasil após quase 15 anos na Europa. Hoje, mora em Maresias com a mulher e o filho. Mas já está de malas prontas para voltar para a Espanha.

"Aqui o negócio é feio. Eu tinha 600 pranchas vendidas em janeiro. Não consegui entregar 300. No Brasil, não há compromisso", diz Cabianca ao se referir sobre o atraso dos distribuidores de produtos.

"Na Europa, você nem se mexe e o negócio vem até você. No Brasil, tem que ir atrás e, além de não encontrar matéria-prima, quando encontra, o preço mudou ou está diferente. É frustrante", afirma.

O shaper está montando uma fábrica em Zarautz, na Espanha. Deve deixar o Brasil no fim deste ano.

Onde quer que esteja, porém, levará consigo a confiança daquele que melhor utiliza as suas pranchas.

"Ele é um cara muito talentoso e se dedica bastante. Consigo ver o carinho que ele coloca nas pranchas. Ele faz parte da minha história. O Johnny é f...", diz Medina.

CONFIRA AS PRINCIPAIS MANOBRAS DO SURFE

Manobras do surfe; Crédito Ilustrações Lydia Megumi; Infográfico Alex Kidd e Pilker/Editoria de Arte/Folhapress


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