Folha de S. Paulo


No Pan, os melhores nem sempre são os melhores

Rodolfo Buhrer/La Imagem/Fotoarena/Folhapress
Arthur Zanetti, medalha de ouro nas argolas do Pan de Toronto: nível acima dos demais
Arthur Zanetti, medalha de ouro nas argolas do Pan de Toronto: nível acima dos demais

Você conhece algum jogador da seleção de futebol que representa o Brasil no Pan, de Toronto? Eu também não. Provavelmente, você não conhece vários outros esportistas porque o Pan acaba não sendo prioridade para muitos atletas que são os melhores em suas modalidades.

O resultado é que o nível cai e não precisa ser especialista para perceber. No dia em que o ginasta Arthur Zanetti ganhou ouro nas argolas, ele foi o último a se apresentar e festejou muito antes de a nota ser divulgada. Arrisco dizer que era claro para ele que o nível dos outros era inferior.

Não apenas para ele. No meio da prova, perguntei aos coleguinhas jornalistas se o que estávamos vendo não era fraco. Muito, responderam dois deles ao mesmo tempo. Nos dias seguintes, comecei a me acostumar a ver atuações não tão espetaculares.

Mesmo no atletismo, que esperava ver provas disputadas, achei quase constrangedor o desempenho de alguns atletas. "Qualquer prova em uma universidade americana deve ser mais disputada do que essa", disse um colega.

Mas por que isso acontece? Porque há atletas que não precisam de classificação para Olimpíada. Ou estão focados em outras competições.

O futebol, por exemplo, só pode ter jogadores com menos de 23 anos, com três exceções. A Fifa não tem o menor interesse que o futebol seja tão atraente em Pan ou Olimpíada, como é na Copa.

Alguns atletas priorizam as competições exclusivas de seus esportes, como o nadador Cesar Cielo, que se prepara para o Mundial na Rússia.

A seleção feminina de basquete dos EUA veio com uma equipe universitária. Mesmo assim, deu um pau no Brasil, que estava sem suas estrelas.

O basquete masculino brasileiro venceu os EUA com dez pontos de vantagem. Seria lindo se a maioria dos americanos fosse da equipe principal. Não eram. O Brasil também estava desfalcado.

Posso não entender como funcionam as federações, mas, como espectadora, queria regras mais rígidas.

Quer participar? Tem que ser o time principal. É aquela história, não sabe brincar, não desce para o play. Acho humilhante para os atletas que estão aqui levando a coisa a sério terem que competir e, muitas vezes, levar uma lavada de time B.

O que adianta ser o melhor se no fundo tem gente muito melhor, mas que não veio para a festa? O cara ganha uma medalha de ouro aqui, mas não chega nem perto de um pódio no Mundial de sua categoria ou numa Olimpíada.

Perde o espectador, que tem que se contentar com provas e jogos às vezes meio chochos. Perde o esporte, porque o nível de algumas disputas acaba sendo baixo.


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