Folha de S. Paulo


A maior cidade subterrânea do mundo

Danilo Verpa/Folhapress
Pedestres caminham por estação de metrô da cidade de Toronto
Pedestres caminham por estação de metrô da cidade de Toronto

Pode ser que o Canadá não consiga superar os Estados Unidos no número de medalhas até o final do Pan, mas Toronto já tem um recorde no Guinness Book difícil de ser batido.

A cidade que sedia os jogos tem o maior complexo subterrâneo do mundo de galerias comerciais, chamado "Path" (caminho). Para ficar mais claro, imagine 30 km de corredores, como num shopping center. É uma cidade embaixo da terra que funciona a todo vapor e viabiliza a vida comercial durante os meses mais frios do ano.

Pode fazer muito frio aqui durante cinco meses. A temperatura é quase sempre negativa. Quem sairia de casa ou aproveitaria a hora do almoço no trabalho para ir ao cabeleireiro, comprar um presente ou ir ao antiquário com um frio desse do lado de fora?

Eu, não. Não sou a única. Duzentas mil pessoas usam o subterrâneo de Toronto diariamente.

Os números são impressionantes. Mais de 1.200 estabelecimentos comerciais, cinco mil empregados dão vida a esse complexo que conecta tudo na parte mais central da cidade. Seis estações de metrô, 50 prédios comerciais, oito dos hotéis mais importantes, duas lojas de departamentos, seis estacionamentos e mais de 100 entradas pelas ruas.

Mas o mais impressionante é que tudo isso começou a ser feito em 1900 e em 1917 já havia cinco túneis no coração da cidade. Mais impressionante ainda é que a iniciativa privada esteja por trás de tudo isso.

Quem mora perto de uma estação de metrô e trabalha no centro pode passar semanas ou até meses sem colocar o nariz para fora mais do que poucos minutos. "Paro o carro no estacionamento coberto e o dia todo é aqui embaixo durante o inverno. Faço absolutamente tudo. Trabalho, almoço, faço compras, vou à academia, ao cabeleireiro sem sentir nada de frio. E sem ver muito a cor do céu", diz a canadense Susan Acker, 29.

Tentei me aventurar pelos corredores. É como descobrir uma cidade nova. E como em uma cidade nova é fácil se perder. Você entra, anda, anda, pega o metrô, desce umas quatro estações adiante, anda, anda e quando resolve colocar o nariz para fora não faz ideia de onde está.

Achei que meu GPS interno estava com defeito, mas descobri que mesmo com a sinalização, muitos moradores ainda reclamam de se perder. "São caminhos sem fim. Fácil se perder se você não está acostumado", diz Ashley Bentley, 28, vendedora.

O contador espanhol Pedro Padron, 46, vive em Toronto há 15 anos, cinco no centro da cidade, já se acostumou com os labirintos do Path, mas não com o inverno, que "odeia". "É o único jeito de ir à academia. Uso também para sair. É bem sinalizado, ainda que seja meio sufocante e que a gente perca um pouco o senso de direção. No inverno, parece que a cidade inteira está embaixo da terra, fica lotado."

Fica lotado porque tem de tudo mesmo. Banco, alfaiataria, antiquário, agência de viagem, restaurantes, cafés, lojas de bebida, lojas de departamento. Passei pelos elevadores de prédios comerciais, que ficam dentro do complexo. O movimento nessa época do ano é tranquilo. Todo mundo quer aproveitar ao máximo os poucos meses em que as temperaturas mais amenas dão as caras por aqui e que o sol brilha até as 21h. Inclusive eu, que corri rapidinho para o lado de fora.

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Crédito: Editoria de Arte/Folhapress


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