Folha de S. Paulo


Ser voluntário no Pan pode custar caro, mas compensa

Mariliz Pereira Jorge/Folhapress
Voluntário Sandro Sousa, com a vista da cidade no fundo, a CN Tower e o Roger Centre
Voluntário Sandro Sousa, com a vista da cidade no fundo, a CN Tower e o Roger Centre

Vinte e três mil pessoas estão trabalhando de graça todos os dias para que os Jogos Pan-Americanos de Toronto aconteçam. Tem mais voluntários do que atletas, em uma proporção de quase quatro para um.

E é fácil perceber isso porque a gente quase tropeça neles nas arenas, nas imediações delas, nas estações de metrô, nas áreas de lazer do Pan. São onipresentes. Você pisca, tem um voluntário.

Segundo a organização dos jogos, 84 são brasileiros. Gente que já está no Canadá, como a bolsista do programa Ciência sem Fronteiras Gisele Borges, 22 anos. E gente que veio do Brasil e investiu um bom dinheiro para trabalhar 12 dos 18 dias em que os jogos acontecem oficialmente. Um deles é Sandro Sousa, 43, engenheiro elétrico da Petrobrás que tirou férias para ser voluntário.

Tem todo tipo de trabalho. Você pode passar o dia recebendo os ingressos dos espectadores, ajudando atletas a se comunicar, porque muitos não falam inglês, na áreas de tecnologia, de transporte, como locutor das competições, como bandeirinha. E trabalhar entre seis e 10 horas por dia, recebendo apenas alimentação.

Mas isso não é problema para quem realmente entende o espírito da coisa. Gisele Borges foi mordida pelo bichinho do trabalho voluntário e diz que não vai parar mais. Até hoje, ela só havia trabalhado em eleições no Brasil, que não é exatamente voluntário, e ajudou a embalar kits de comida para atletas de uma corrida da Nike, no Canadá.

Gisele bateu ponto nos bastidores da abertura do Pan, diretamente com os artistas do Cirque du Soleil. "Eu não consigo descrever o quanto estou feliz, é uma experiência que só se tem uma vez na vida. Vivi momentos mágicos, tive o prazer de conhecer artistas incríveis e talentosos. Trabalhei perto de cabeleireiros e maquiadores sensacionais, atletas de diversos países, dançarinos extraordinários e voluntários de todos os lugares do mundo com um coração do tamanho do mesmo", disse uma empolgadíssima Gisele, que ainda participou de uma festa pós-abertura oferecida pelo Cirque du Soleil.

O que a motivou?

"Saber que eu iria cooperar num evento que é importante para muitas pessoas. Estou aprendendo a dar o meu melhor sem receber algo em troca". Nem todo mundo tem noção do que vai encontrar, mas aposta um dinheiro alto que pode ser proveitoso e divertido.

Sandro Sousa tinha hospedado um argentino em sua casa durante a Copa do Mundo, no Brasil, a pedido de um primo. "Foi muito bacana a experiência e eu fiquei curioso em saber como seria um evento desse em outro país e veio a ideia do Pan."

Sandro, assim, como todos os outros, participou de um processo longo de seleção pela internet, que envolvia conhecimentos de língua, de direitos trabalhistas, de idoneidade. Foi selecionado, pediu férias e gastou cerca de R$ 7 mil entre hospedagem e passagem para estar aqui. "Recebi duas camisetas, jaqueta, lanche durante o trabalho, a credencial e só."

Encontrou em meio aos voluntários pessoas de todas as idades, de vários países, escolaridade, nível social, portadores de deficiência.

"Tem 700 tipos de voluntários, então, todo mundo vai encontrar o que fazer, dentro do perfil de cada um. Estou adorando, não imaginava que fosse tão cansativo, mas está valendo muito a pena", diz.

"Está valendo todo o investimento. Conheci mais uma parte do mundo e vi que o canadense é um exemplo de organização, de respeito a leis, de trânsito civilizado. Jeitinho brasileiro só nas emergências", completa.

Assim como Gisele, Sandro já está se preparando para os próximos eventos. "Perdi o prazo para inscrição da Olimpíada no Rio, por isso estou em lista de espera. Mas já estou me informando sobre a Copa do Mundo na Rússia e sobre o Pan de Lima.

Qual é a parte ruim? "Como estamos a trabalho, não podemos fazer coisas que um espectador poderia. Temos que seguir as regras de conduta. No meu caso, vou trabalhar nas cerimônias e por isso não poderei assistir a nenhuma delas", diz Gisele Borges.

"É cansativo, mas eu estava preparado para isso. Não tem parte ruim, não", diz Sandro.

Crédito: Editoria de Arte/Folhapress


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