Folha de S. Paulo


Ir ao estádio ver beisebol, em Toronto, é como ir ao Maracanã assistir futebol

Mariliz Pereira Jorge/Folhapress
Jogo de beisebol entre Toronto Blue Jays e Tampa Bay Rays, no Rogers Centre
Jogo de beisebol entre Toronto Blue Jays e Tampa Bay Rays, no Rogers Centre

Resolvido o mistério. Encontrei todo mundo que não está nas arenas dos Jogos Pan-Americanos, de Toronto. Pelo menos, no domingo (19), estavam no estádio Rogers Centre, vendo o jogo de beisebol entre o Blue Jays, de Toronto, e o Rays, de Tampa, nos Estados Unidos.

Não, esse texto não é sobre o jogo, mas sobre a experiência toda de assistir à partida de um esporte praticamente desconhecido do público brasileiro. Já adianto que foi muito mais divertido do que esperava, mesmo sem entender exatamente o que estava acontecendo em campo.

OK, a gente sabe que um dos jogadores tem que rebater a bolinha, e melhor dos mundos, rebater a bolinha e ela parar lá na casa do chapéu. Então, ele passa por todas as bases e faz o tal do home run, que seria o equivalente a um gol de placa no futebol.

Mas o jogo todo é feito de muitas outras regras que explicam porque uma partida pode durar de uma hora e meia até inacreditáveis seis horas. Se um time é muito melhor do que o outro pode liquidar a pendenga rapidamente. Mas se o jogo é equilibrado, dá para ficar com a bunda quadrada. Isso explica porque tanta coisa acontece fora do campo. Tem que entreter essa galera.

Mariliz Pereira Jorge/Folhapress
Jogo de beisebol entre Toronto Blue Jays e Tampa Bay Rays, no Rogers Centre
Jogo de beisebol entre Toronto Blue Jays e Tampa Bay Rays, no Rogers Centre

Ir ao estádio domingo ver beisebol, em Toronto, é como ir ao Maracanã assistir futebol. Mas de certa forma melhor do que isso. É um programão para toda família. Vi bebês em carrinhos e vózinhas de cabelo branco e boné do time. Muitos carrinhos e muitas vózinhas.

Cambistas vendiam ingressos mais caros do que na bilheteria, o que é proibido e dá cana. Mas a polícia faz vista grossa para o problema porque teria que pegar os meliantes em flagrante. Não apenas oferecendo ingressos, mas com a mão na grana. Basicamente, o cambista teria que oferecer ingresso a um policial. E isso não vai acontecer, claro. Então, eles trabalham ali lado a lado sem um perturbar o outro.

Topei com uma entrada exclusiva para pessoas alérgicas a nozes e amendoim. Pausa para a surpresa. Descobri que há várias seções para esse tipo de público. E entendi o por que quando vi gente devorando sacos enormes de amendoins. Há seções onde não é permitida a entrada com bebidas alcoólicas. São áreas indicadas para pais que não queiram um bebum sentado ao lado de seus filhos. Muito civilizado um lugar que respeita pessoas que tem alergia a amendoim e que é bebum-free.

Comprei meu cachorro quente já para entrar no clima. Um cachorro-quente muito bom, na medida que um cachorro-quente pode ser bom. Dei um Google para tentar entender as regras. O jogo rolando. Canadense vaia, grita, só não vi ninguém falando palavrão. Não vi, mas não significa que não tenha acontecido.

Everybody clap your hands! E lá estava eu batendo palmas, em pé, dançando. Make noise. E todo mundo grita. Eu grito. Mais um pouco de jogo e já saco que o cara do jogo é "Rossé" ou Jose Bautista, dominicano, ídolo do Toronto Blue Jays. Go, "Rossé". E o dominicano não decepcionou.

No intervalo, segui a horda atrás de um banheiro e de algo para beber. Domingo, teve verão de novo. Verão de Rio de Janeiro. Quente e úmido. Pode ser que amanhã não tenha. Desisti quando vi filas enormes para o refri, a cerveja, o sorvete, a pizza, a pipoca.

Um casal aparece no telão. Se beijam. Entram as animadoras de torcida. Nenhuma com o quadríceps maior do que o dos jogadores. Famílias aparecem no telão. Todo mundo aplaude. Acaba o jogo. Não percebi que tinha acabado. Comemoração xumbrega. Acabou o jogo e nada de eu aparecer no telão. Frustraçãozinha. Entendi que o negócio é aparecer no telão.

Esperei a horda debandar. O estádio fica meio vazio de gente e cheio de sujeira. Vou ao banheiro. Imundo. Olho no espelho. Suada como num verão carioca. Não é que nos 48 do segundo tempo me senti em pleno Maracanã?!

PS. O jogo durou três horas e meia. Bunda só meio quadrada.


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