Folha de S. Paulo


Com nove senadores, CPI da CBF já pode iniciar trabalho

Líderes dos partidos no Senado indicaram nesta terça-feira (7) os nomes dos parlamentares que farão parte da CPI da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A partir da indicação já é possível instalar a comissão.

São nove titulares: Romário (PSB-RJ), Fernando Collor (PTB-AL), Humberto Costa (PT-PE), Zezé Perrella (PDT-MG), Eunício Oliveira (PMDB-CE), Romero Jucá (PMDB-RR), Omar Aziz (PSD-AM), Álvaro Dias (PSDB-PR) e Davi Alcolumbre (DEM-AP).

A comissão vai investigar as contas da CBF. Autor da proposta de CPI, Romário já afirmou que pretende investigar também as federações estaduais.

A proposta da criação da CPI surgiu depois que sete dirigentes ligados à Fifa, incluindo o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, foram presos na Suíça em maio, acusados de pagamento e recebimento de propinas em contratos de exploração comercial de competições esportivas.

A Folha apurou que Marco Polo Del Nero será o foco da investigação. O dirigente não teve seu nome citado nas investigações dos Estados Unidos, mas documentos das autoridades dos Estados Unidos indicam que ele dividiu parte das propinas recebidas por José Maria Marin, vice da CBF e presidente da entidade até abril de 2015.

O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, diz que os documentos precisam ser analisados com "bastante cuidado" e é "precoce" apontar envolvimento de Del Nero no esquema de pagamento de propinas.

"Só vejo um equívoco na CPI: a CBF é uma entidade privada. Deveria ser uma CPI sobre o futebol, senão pode caracterizar elementos de ilegalidade. Mas não vejo problema em uma CPI sobre o futebol é uma manifestação soberana do Senado", disse Feldman à Folha.

Editoria de Arte/Folhapress

Del Nero também é alvo por causa da compra de duas coberturas num condomínio de luxo da Barra. Segundo o senador Romário, a transação tem suspeitas de irregularidades.

A compra dos dois dúplex por Del Nero foi revelada pela Folha. Em maio do ano passado, ele pagou apenas R$ 1,6 milhões por uma cobertura de mais de 250 metros quadrados na Barra com direito a quatro vagas de garagem de frente para a praia. O valor era menos da metade do preço de mercado do imóvel.

Na ocasião, Del Nero é um de seus filhos compraram o dúplex da empresária Liliana Maia. Ex presidente da Escola de samba Estacio de Sá, ela teve seu sigilo fiscal e bancário quebrado pela Justiça do Rio na Operação Hurricane em 2007, que investigou uma quadrilha que explorava caça-níqueis no Estado.

No mesmo mês, José Maria Marin, ex-presidente da CBF, também comprou a cobertura ao lado da de Del Nero pela mesma quantia (abaixo do valor de mercado) da mesma proprietária. Marin está preso na Suíça desde quarta-feira, acusado de fazer parte de esquema de corrupção no futebol.

Nove meses depois, O atual chefe da CBF pagou R$ 5,2 milhões por uma outra cobertura no condomínio. O dúplex foi comprado de uma empresa dos filhos do empresário Wagner Abrahão, que é parceiro comercial da Confederação. A empresa fica no mesmo endereço da principal empresa de Abrahão.

No negócio, Del Nero e seu filho se comprometeram pagar R$ 4, 8 milhões e repassou o dúplex comprado de Lilian meses antes ao empresário por R$ 410 mil, além de um saldo devedor não informado.

A compra dos três imóveis de luxo por Del Nero e Marin é considerada "atípica" por advogados ouvidos pela Folha. Eles consideram que as operações podem ter sido feitas para burlar o fisco.

A parceria entre a CBF e Abrahão será outro ponto a ser investigado pela CPI.

Abrahão é dono do Grupo Águia, que faz todas as viagens da seleção e dos clubes da Séries B e C do Brasileiro. Há cerca de seis meses, ele ganhou o direito de explorar o moderno museu da CBF. O valor do negócio nao foi revelado pelas duas partes.

Abrahão realiza negócios com a CBF há duas décadas. Em 2001, a CPI do futebol investigou os negócios dele com a entidade. No relatório final, os senadores mostraram que a CBF repassou R$ 31, 1 milhões à SBTR, empresa de Abrahão, em três anos, de 1998 a 2000. Segundo os senadores, não havia notas fiscais referentes às passagens compradas com a agência. Apesar das denúncias, a confederação continuou fazendo negócios com a empresa de Abrahão Sérgio.


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