Folha de S. Paulo


Gastos de times grandes com técnicos caíram 48% nos últimos anos

Com o futebol brasileiro em crise técnica e financeira, os valores dos salários dos treinadores de elite no país despencaram quase que pela metade nos últimos cinco anos.

Os vencimentos continuam muito altos para a realidade brasileira, o que mantém viva a dúvida: será que merecem tanto? Mas o fato é que a farra dos gastos extravagantes já foi maior.

Levantamento realizado pela Folha mostra que os técnicos dos 12 maiores clubes do país recebem, em média, 48% a menos do que os profissionais que ocupavam essas mesmas funções em 2010.

O retrato inclui não só treinadores sem muito prestígio, como Marcelo Fernandes, do Santos, mas também profissionais de renome, como Tite, do Corinthians.

Técnico mais bem pago do futebol brasileiro no momento, nessas últimas cinco temporadas o comandante corintiano viu seus vencimentos caírem de R$ 612 mil em 2010 para R$ 500 mil, pagos atualmente pelo clube paulista.

Os valores de cinco anos atrás já consideram a correção da inflação.

O treinador mais bem pago em 2010 era Felipão, que recebia R$ 951 mil no Palmeiras. Este valor, somado ao pago à comissão técnica, custava aos cofres alviverdes mais de R$ 1 milhão por mês.

A média dos salários desses treinadores há cinco anos era R$ 453 mil mensais. Atualmente, é R$ 235 mil.

Entre os fatores que explicam essa queda, estão a condução errática dos clubes na gestão dos seus recursos financeiros e o recuo de investidores no futebol, além, evidentemente, da crise econômica que o país vive hoje.

Desde o ano passado, as equipes têm sofrido os efeitos de erros dos anos anteriores. Corinthians, Santos e São Paulo, por exemplo, têm atrasado o pagamento de seus jogadores e técnicos com frequência nesta temporada.

Editoria de arte/Folhapress

DINHEIRO DA TV

Em 2011, com a dissolução do Clube dos 13, os times começaram a negociar individualmente as cotas de televisão, o que os levou a receber cifras mais expressivas.

Corinthians e Flamengo foram os mais beneficiados, recebendo R$ 120 milhões cada um por ano pelos direitos de transmissão do Brasileiro.

Mas não souberam aproveitar o período de bonança.

"A renegociação das cotas de TV inundou de dinheiro o mercado do futebol. Contratos passaram a ser fechados com valores acima do normal. Foi um momento único, mas teve consequências aos clubes", diz Vitorio Piffero, presidente do Internacional.

O clube gaúcho é um dos que buscaram uma opção mais em conta. No ano passado, pagava R$ 500 mil mensais para Abel Braga, com quem até tentou renovar. Sem sucesso, acertou com o uruguaio Diego Aguirre, que recebe R$ 230 mil, menos da metade do antecessor.

MEDALHÕES

Outro que deixou de pagar um salário alto foi o São Paulo. O técnico Muricy Ramalho recebia R$ 500 mil. Ao deixar o cargo em abril, a diretoria tricolor optou por uma alternativa mais barata: o colombiano Juan Carlos Osorio.

Os vencimentos dele no Morumbi são de US$ 100 mil (cerca de R$ 310 mil).

"Todos os clubes passaram a buscar novos nomes, mais acessíveis financeiramente. Os medalhões têm tido dificuldade. Alguns estão desempregados, outros reduziram a pedida", diz Julio Casares, vice do São Paulo.

Entre os 12 grandes, os clubes que pagam salários mais baixos aos seus técnicos hoje são Botafogo e Santos.

O primeiro disputa a Série B e admite que fez um planejamento austero. Renê Simões recebe R$ 60 mil.

O Santos pagava R$ 250 mil para Enderson Moreira. Ao demiti-lo, em março, promoveu Marcelo Fernandes, que recebe R$ 25 mil.

"Os gastos podem estar menores atualmente, mas o que dita os valores ainda é a lei de mercado. É difícil que os clubes tenham um consenso sobre os valores", diz Carlos Eduardo Pereira, presidente do Botafogo.

"Os novos contratos acertados a partir de 2010 foram um desastre para o Botafogo e para o futebol. Ficou a impressão de que sobrava dinheiro. Não sobrava. E os recursos deveriam ter sido aplicados para saldar as dívidas, investimento na base. Mas foram utilizados para melhorar os contratos", completa.

Um dos líderes da Federação Brasileira de Treinadores, grupo criado em 2013 para defender os interesses da categoria, Dorival Jr. concorda que os salários estão em queda, mas não vê uma crise entre os treinadores nacionais.

"Não vejo como problema dos técnicos, mas sim como situação do mercado. É normal que haja alternância."


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