Folha de S. Paulo


O 7 a 1 apagou a derrota do Brasil na final da Copa de 1950, diz Rivellino

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Passados quase 35 anos desde que encerrou a carreira, Roberto Rivellino é surpreendido pelos alunos de sua escolinha de futebol com pedidos para mostrar como é o famoso drible "elástico".

Aos 69 anos, não foge do assédio das crianças. Nem mesmo ao atender a Folha para uma entrevista no local.

Futebol ainda é a alegria do campeão mundial em 1970 e camisa 10 da seleção em duas Copas (1974 e 1978). Gosta de falar sobre o assunto e discuti-lo, mas ultimamente admite que está difícil acompanhar o esporte.

"Pensei que teríamos um recomeço após a goleada de 7 a 1 para a Alemanha na última Copa. Mas erramos ao escolher o Dunga como técnico. Ele joga por resultados. É pouco para o Brasil", diz.

A goleada sofrida na semifinal do Mundial, há quase um ano, é a pior imagem que Rivellino diz ter do futebol brasileiro. "Eu nunca perdi por três gols de diferença."

E escândalo na Fifa que levou à prisão de José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e outros dirigentes na Suíça, deixou o ex-jogador de Corinthians e Fluminense sem esperanças. "Futebol está sem credibilidade. Culpa dos dirigentes. Onde vai parar?"

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Folha - Quase um ano depois, o que pensa do 7 a 1 aplicado pela Alemanha no Brasil?
Roberto Rivellino - É uma coisa que eu não vou conseguir esquecer. Outro dia estava analisando meus jogos pela seleção e vi que nunca perdi por três gols de diferença. Perder faz parte do jogo. Mas perder por sete...

Qual sua tese para o 7 a 1?
O Felipão sempre foi muito mais preocupado em defender. Talvez contra a Alemanha, que tecnicamente é muito boa e tem bom toque de bola, ele quis agredir, mudar um pouco a característica. Não deu certo. Tomou dois gols e a casa caiu. Esse negócio de que deu um branco... Pô, em Copa do Mundo não dá branco. O 7 a 1 jamais será esquecido. Até apagou a derrota na Copa de 1950.

O que esperava após o 7 a 1?
Achei que reformulariam o futebol. Não para sermos campeões na Copa da Rússia [em 2018], mas para termos um recomeço. Mas erramos ao escolher o Dunga como técnico. Ele joga por resultados. É pouco para o Brasil. Dos jogadores escalados por ele só tem um protagonista em clube: Jefferson, goleiro do Botafogo. É uma pobreza o futebol da seleção brasileira.

O que achou do escândalo de corrupção na Fifa, que teve até a prisão de Marin na Suíça?
De certa forma a gente ouvia as notícias, ficava desconfiando. Não foi surpresa. O presidente da Fifa [Joseph Blatter] foi eleito, fez um discurso com soberba e alguns dias depois renunciou. Ele está há 17 anos no poder e disse que saiu pelo bem da Fifa. Pelo bem da Fifa? É a história 'Quem não deve, não teme'.

É uma crise moral...
O futebol está sem credibilidade nenhuma. Culpa total dos dirigentes. Você vê os clubes falidos. Até ontem, o Corinthians era uma potência. Hoje, já está vendendo todo mundo para se salvar. A crise é geral. O 7 a 1 foi a maior vergonha do futebol brasileiro. Depois apareceram o escândalo na Fifa, na CBF. A pergunta é: onde o futebol vai parar? Assim, está difícil.

Como vê o interesse de pessoas como Zico em ajudar?
É interessante desde que eles se preparem. Uma figura como o Pelé talvez pudesse agregar. Não sozinho. Ele poderia se candidatar à presidência da CBF. O Zico é um cara que a gente assina embaixo. O Ronaldo, o Raí, o próprio Romário. Mas é muito difícil eles se envolverem. A tendência é acontecer na Fifa o que aconteceu com a Portuguesa: acabar em pizza.

O senhor não tem interesse em tentar? Entre 2003 e 2004, foi diretor no Corinthians...
Não tenho. É muito difícil. Aquela vez foi uma proposta legal com o Júnior [como técnico]. Não pretendo retornar.

Em meio à essa crise moral, como vê o Campeonato Brasileiro e o futebol no país?
O nível está horrível. As duas últimas edições já foram com nível técnico baixo. É difícil apontar quem tem condições de ser o campeão. O torneio é uma gangorra. Até ontem, o Corinthians era o melhor do Brasil e hoje está em dificuldade. O planejamento dos clubes é um absurdo. Começam o ano de uma forma e depois mudam tudo. Não há time para se sobressair. Não tem futebol bonito.

Aprova a vinda de técnicos estrangeiros para os clubes?
O problema não é o técnico. É a estrutura e o planejamento. Deram isso ao Marcelo Oliveira e ele foi bicampeão brasileiro no Cruzeiro. Pelé foi o Rei, mas, se ele virar treinador do Santos e perder três jogos, vai ser crucificado. No Brasil, [a cultura] é resultado.

Raio-x Roberto Rivellino

Nascimento: 1º.jan.1946 (69 anos), em São Paulo (SP)

Apelidos: Riva, Patada Atômica, Reizinho do Parque e Bigode

Posição: Meio-campista, camisa 10 no Corinthians e da seleção nas Copas de 1974 e 1978

Clubes na carreira: Corinthians (1964-74), Fluminense (1974-78) e Al-Hilal (1979-81)

Principais títulos: Copa do Mundo (1970), pela seleção; Estadual do Rio (1975 e 1976), pelo Fluminense; Torneio Rio-São Paulo (1966), pelo Corinthians; Campeonato Saudita (1978/79) e Copa da Arábia Saudita, pelo Al-Hilal

Na seleção: Disputou três Copas do Mundo (1970, 1974 e 1978). Foram 122 jogos e 43 gols


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